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Incidente em SJ amplia debate sobre venda de ingressos pela web


Sexta-feira, 10/06/2011 - 09:45

O Brasileiro de 2011 atingirá a marca de 50 milhões de torcedores na era dos pontos corridos. E é possível que o quinquagésimo milionésimo ingresso seja comprado pela internet -e por um sócio de um grande clube.

Pois a cena tem sido bastante comum: milhares de torcedores aglomerados nas bilheterias em busca de ingressos que, por sua vez, foram quase todos vendidos pela internet, normalmente com prioridade para sócios ou sócios-torcedores.

O Vasco, campeão da Copa do Brasil, que o diga. No jogo de ida, os 8.000 ingressos separados para não sócios se esgotaram em uma hora na internet. No dia seguinte, não sobraram entradas para os guichês, causando revolta entre os torcedores.

Todos os clubes do Brasileiro vendem pela internet.

No discurso, defendem o conforto de se comprar em casa o bilhete, sem filas e com segurança, evitando até cambistas. Por outro lado, torcedores questionam as taxas impostas pelas empresas e o acesso cada vez mais restrito por pacotes de sócio lançados pelo clube, que exigem um pagamento mensal.

O Estatuto do Torcedor também acaba ferido, pois prevê que os ingressos sejam vendidos em ao menos cinco pontos de vendas em diferentes distritos da cidade.

"Já atingimos a média de 30% de ingressos vendidos pela internet. Em jogos da Libertadores, é o contrário: 70% pela internet", afirma Lúcio Blanco, gerente de arrecadação do Corinthians.

Os quatro grandes de São Paulo engrossam uma tendência que começou no Sul, com Internacional e Grêmio.

Principalmente em jogos importantes e decisivos, como uma final de Libertadores, as vendas começam primeiro na internet, e primeiro aos associados de programas de fidelidade dos clubes.

"Se nossos 36 mil sócios comprarem ingressos, 100% da venda terá sido virtual", diz o gerente de marketing do Santos, Armênio Neto, sobre a final no Pacaembu. "O caminho é esse, a venda pela internet, com antecedência e privilegiando seus sócios."

As principais empresas do ramo de confecção e venda, BWA e Outplan, que tem a Globo como sócia, dizem que o caminho virtual não tem volta, porém a venda física não deve desaparecer.

"Isso varia muito do lugar. Em Belém, compra-se muito em farmácia. Em Recife, nas casas lotéricas", declara Bruno Balsimelli, da BWA.

"Em jogos menores, o brasileiro compra o ingresso na hora em que vai para o jogo. Mas, nos importantes, sabe que precisa comprar antes. E descobre ser cômodo e rápido [via internet]", diz Leandro Valentim, da Outplan.

"Hoje, tudo se compra pela internet", constata Roberto Frizzo, vice do Palmeiras.

Em confronto entre Palmeiras e Santo André, pela Copa do Brasil, 19 mil dos 24 mil bilhetes foram virtuais.

Venda virtual das entradas pode ferir leis

Confusões como a do Vasco na decisão da Copa do Brasil podem, de uma só vez, ferir o Estatuto do Torcedor e o Código de Defesa do Consumidor.

O estatuto prevê que os ingressos sejam vendidos em pelo menos cinco pontos diferentes da cidade, e em distritos variados.

A medida é quebrada, por exemplo, quando todos os ingressos se esgotam pela internet ou os poucos restantes são vendidos num guichê apenas.

E a lei do consumidor prevê sanções por "publicidade enganosa ou abusiva". Ou seja, anunciar a venda de ingressos no estádio mas fechar os guichês pois tudo se esgotou pela web pode caracterizar propaganda enganosa.

O Vasco, na Copa do Brasil, separou 50% da carga para os sócios. O resto dos bilhetes, pôs à venda pela internet à noite e, na manhã seguinte, venderia nas bilheterias. Não deu tempo: os internautas compraram tudo antes.

Para o promotor Paulo Castilho, que cuida do combate à violência nos estádios paulistas, a venda virtual ajuda o consumidor, desde que feita de uma forma organizada.

"A tendência é vender entradas antecipadas. Resolve o problema de fila, cambista e falsificação de ingresso", diz ele. "São dois milhões de pessoas querendo ir a um jogo de 40 mil lugares. A venda tem que ser programada, como na Europa." (LR)

Fonte: Folha de São Paulo