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Estádio do PSV Eindhoven tem dois espaços dedicados a Romário


Quarta-feira, 13/04/2011 - 09:34

É possível um noctívago danado gostar de viver numa cidade com 200 mil habitantes e sem uma noite palpitante? É possível um clube campeão europeu não ter um museu no seu estádio? Sim e sim. O noctívago de que falamos é Romário e o clube sem museu é o PSV Eindhoven. Os dois conviveram durante cinco épocas, entre 1988 e 1993, nas quais o baixinho voou alto, com 128 golos em 140 jogos, mais seis títulos colectivos (tricampeão holandês, bicampeão da Taça da Holanda e vencedor da Supertaça holandesa) e oito individuais (quatro vezes seguidas melhor marcador do campeonato, duas vezes o rei da área na Taça da Holanda e outras duas o melhor da Taça dos Campeões). Com este currículo, é normal que Romário ocupe duas salas no Phillips Stadium? Sim, outra vez.

Quando fizer uma visita guiada ao estádio do PSV (seja em holandês ou em inglês), encontra a Casa Romário e a Sala Romário (assim mesmo, em português). A Casa Romário é um luxuoso restaurante de cozinha típica com 330 metros quadrados, na parte superior da bancada central. Ao longo das mesas, um enorme vidro separa as mesas do relvado e os jogadores parecem estar ali connosco, mesmo à nossa frente. Nas paredes do restaurante, uma dezena de fotografias XXL espalhadas e emolduradas do avançado brasileiro com a camisola do PSV, no tempo em que entortava os defesas contrários com dribles desconcertantes e arrancadas imprevisíveis. A Sala Romário é um espaço VIP, só destinado a quem tem o bilhete de época mais caro. Só abre nos dias de jogo, como amanhã, dia de receber o Benfica. À entrada, um longo corredor que exibe todas as conquistas do clube, incluindo a tal Taça dos Campeões ganha ao Benfica em Estugarda, no desempate de penáltis de 1988.

É precisamente a seguir a esse triunfo que Romário chega do Brasil, via Vasco da Gama. Com apenas 22 anos, o brasileiro é negociado pessoalmente pelo treinador holandês Guus Hiddink, no Rio de Janeiro. A transferência faz-se por 5 milhões de dólares, na altura a mais cara de sempre de um brasileiro por um clube estrangeiro. Na época de estreia, dobradinha (campeonato e Taça) mais a artilharia dos golos no campeonato. Na Taça dos Campeões fica em branco nos 5-0 ao FC Porto, na segunda eliminatória, e marca duas vezes ao Real Madrid, nos quartos-de-final, embora seja eliminado no Santiago Bernabéu, após prolongamento.

Na temporada seguinte (89-90), Romário é novamente o rei do golo na Eredivisie, revalida o título da Taça da Holanda e é o primeiro brasileiro convocado para um Mundial em representação de uma equipa holandesa. Mas a fase final do Itália-90 não lhe corre de feição, devido a uma lesão no tornozelo contraída em Fevereiro, ao serviço do PSV. O clube holandês dá-lhe carta branca para fazer a recuperação no Rio de Janeiro mas os dirigentes são surpreendidos por fotos do Baixinho a jogar futebol de praia.

Em 90/91, Romário faz o hat trick na tabela dos melhores marcadores e é campeão holandês. Este título é diferente de todos os outros, porque permite ao PSV, usualmente considerado a terceira força da Holanda, igualar o Feyenoord em número de campeonatos. Nessa altura, o seu treinador já é o inglês Bobby Robson, substituto de Hiddink, que antes de embarcar na aventura do Fenerbahçe desfaz-se em elogios a Romário. "O jogador mais interessante com quem trabalhei. Era o tipo de pessoa que marcava golos com facilidade. Antes de jogos importantes, na Holanda ou na Europa, a maioria estava nervosa e falava pouco comigo. Ele [Romário] não. Aproximava-se de mim e dizia-me ''coach, tranquilo, Romário vai marcar e nós vamos ganhar''. Não acertava sempre, lógico, mas diria que oito em dez jogos ele fazia o golo da vitória."

O sonho acaba em 1993, quando o PSV não ganha nada. Romário, esse, sai-se vencedor com o título de melhor marcador da Liga dos Campeões, com sete golos, dois deles ao FC Porto de Vítor Baía, nas Antas (2-2). Por essa altura, já um holandês, que não Guus Hiddink, mas sim Johan Cruijff, está rendido à inegável classe do brasileiro. O Barcelona contrata-o por 4,5 milhões de dólares. O resto é história. Se quiser vê-la, vá ao estádio do PSV.

Fonte: I Online