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Aos 20 anos e perto de ser pai, Allan vai conquistando seu espaço


Sábado, 09/04/2011 - 10:39

O improviso tem passado pela vida de Allan sem dar sinal prévio. Mas com muita personalidade o jovem de 20 anos do Vasco tira de letra as surpresas que aparecem. Como a lateral direita, que caiu no colo do volante de origem após a lesão do titular Fágner, pouco antes da notícia de que vai ser pai pela primeira vez. Hoje, pela sexta vez seguida, ele jogará na posição, contra a Cabofriense, às 18h30m, em São Januário, partida que terá um minuto de silêncio em homenagem às crianças assassinadas em Realengo, e cuja vitória pode garantir a classificação antecipada da equipe às semifinais da Taça Rio.

— As coisas sempre aconteceram assim na minha vida, de repente. Tenho que ir aproveitando e só tem acontecido coisas boas — garante o volante, que já havia jogado na lateral direita com Celso Roth na derrota para o Santos no segundo turno do Brasileiro do ano passado. — No time reserva já estava treinando na lateral para completara equipe porque o Max e o Irrazábal estavam machucados. O Ricardo Gomes me perguntou se eu poderia jogar ali. Estava nervoso, mas eu disse que o importante era jogar.

Nada para quem ainda adolescente passou de filho mais velho de sete irmãos para o homem da família após a morte da avó. Órfão de pai, Allan mora com a mãe e mais quatro irmãos, o mais novo de apenas 3 anos. Separada do padrasto que registrou o garoto, a mãe cuida da casa enquanto o sustento de todos é garantido pelo jogador desde os tempos da base.

— O futebol está me dando tudo — afirma o volante, que teve os direitos econômicos vendidos a um grupo de empresários junto ao Madureira, clube que o revelou, e foi emprestado ao Vasco por dois anos, conseguindo um contrato melhor este ano.

Casa nova à vista

A casa alugada em Ramos vai dar lugar a uma própria em breve, no mesmo bairro, para receber o mais novo membro da família Loureiro. A namorada de Allan está grávida de três meses. Outra notícia, que pegou o jovem de surpresa. Mas apesar das acnes na pele que mostram a transição da adolescência para a vida adulta, ele mostra a tranqüilidade de quem amadureceu cedo.

— Eu recebi bem a novidade. Minha mãe, que foi a primeira a saber, ficou surpresa. Mas todos estão me apoiando — disse o garoto, que é o paizão em casa com os irmãos mais novos, mas terá de aprender a trocar fraldas do filho.

Se for homem — "a médica disse que os batimentos cardíacos são muito acelerados e pode ser menino" —, Allan não quer o mesmo passado para o filho. Nem as inúmeras vezes em que usou o uniforme do colégio público para pegar o ônibus de graça rumo aos treinos do Vasco e "economizava para o lanche". Nem viver com o tampão dos dedos dos pés machucados nas peladas de rua em Ramos. Mas é lá que pretende criar a criança. Fazer o caminho natural da maioria dos jogadores, que vão para a Barra da Tíjuca, não lhe passa pela cabeça ainda.

— Se for menino, vou colocar na escolinha e comprar o uniforme completo do Vasco — disse o jogador, que pretende criar o filho no subúrbio carioca. — Eu fui criado na comunidade do piscinão de Ramos, tive tio envolvido com o tráfico, vi traficantes entrarem lá em casa. Agora, moro em uma parte mais tranqüila.

Com a mesma serenidade que relata os problemas da vida, Allan encara os percalços do futebol. Depois de um bom ano com Dorival Júnior, em 2009, quando foi titular 14 vezes no meio-campo, o volante viu suas chances no time principal irem embora por causa de uma fratura. Durante treino no início do ano passado, virou o pé no campo e ficou mais de três meses sem jogar.

— Foram dois meses sem pisar no chão. Voltei a jogar com os juniores para recuperar o ritmo — lembra ele, que só voltou a ser titular no final do ano passado, quando a base do Vasco ajudou a manter o time na Primeira Divisão.

Apenas outra dificuldade que chegou a abalar a confiança do garoto, que começou no Madureira como meia ofensivo e foi parar na cabeça de área no Vasco, por causa da força física. Mas a versatilidade que mostra na vida valeu a Allan mais uma oportunidade no time. Ainda que fora da sua posição. Sem contestar, aceitou o desafio imposto por Ricardo Gomes e não para de ganhar elogios do chefe.

— Ele mostrou muita personalidade para um garoto de 20 anos. Conseguiu se recuperar no segundo tempo contra o ABC, quando não jogou bem no primeiro tempo e a torcida estava pegando no pé. Jogou todos os clássicos no Carioca. Ele merece mais destaque do que tem tido — enfatizou o técnico.

Fonte: O Globo