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Rodrigo Caetano faz balanço de seus quase 2 anos de trabalho no Vasco


Sexta-feira, 22/10/2010 - 11:27

Em entrevista ao iG, o diretor falou sobre essa trajetória e os problemas que surgiram no meio do caminho, como a perda de pontos no tapetão que acabou tirando o Vasco da Taça Guanabara de 2009. Para Caetano, a implantação de uma cartilha de conduta, feita na época em que Dorival Júnior comandava a equipe e que vigora até hoje, foi decisiva. Mas a principal questão a ser resolvida persiste: a falta de um CT.

Confira abaixo a entrevista de Rodrigo Caetano ao iG:

iG: O senhor assumiu o Vasco talvez no momento mais complicado de sua história, sem elenco, rebaixado para a Série B... Como foi esse início de trabalho e por que aceitou esse desafio, que já havia encarado no Grêmio?

Rodrigo Caetano: Foi de fato um desafio imenso. Claro que hoje, olhando para trás, vejo quanta coisa foi feita, construída em relação à profissionalização do departamento de futebol. Naquele primeiro momento o grande desafio era montar um elenco competitivo, o que conseguimos com a ajuda do Dorival Júnior, blindar o futebol, pois precisávamos disso. Voltamos para a Série A com o título, chegamos próximos da taça na Copa do Brasil. Foi tudo sendo feito aos poucos, métodos, relação coma imprensa, normas de conduta dos jogadores, tudo hoje funciona dentro das nossas possibilidades. Fizemos contratos longos e por causa dessas coisas digo que o Vasco tem um horizonte muito favorável.

iG: Como foi lidar com a ausência de jogadores para disputar a temporada?

Rodrigo Caetano: Quando cheguei eram oito ou nove, hoje o Vasco tem elenco, tem ativo. E vindo de uma queda, quem ficou de 2008 ainda estava depreciado. A gente usou uma estratégia de unir praticamente o time principal com o nosso Sub-20, treinam praticamente juntos. Isso possibilita que você conheça e eleve a qualidade dos meninos. Foi a forma que a gente encontrou por não ter o CT.

iG: Foi essa falta de CT, com a perda do Vasco-Barra, a maior dificuldade?

Rodrigo Caetano: É claro, foi uma das principais. Graças a Deus o Vasco tem São Januário, mas é o palco do jogo, e tem de desgastar esse palco. Fizemos parceria com a Marinha, que atende bem a base, mas o dia a dia é São Januário e isso traz prejuízo. Tenho a esperança de que estejamos muito mais próximos do que distantes na questão do terreno, que a diretoria vem trabalhando em sigilo. Tendo o terreno, a gente consegue as alternativas. O negócio é ter o espaço.

iG: Essa cartilha para os jogadores é a mesma desde a época do Dorival?

Rodrigo Caetano: É a mesma, mas foi aperfeiçoada, mais elaborada. Uma coisa é você não ter a melhor estrutura física possível. Isso o Vasco busca. Outra é você não buscar uma melhor metodologia de trabalho. Regras, procedimentos, e isso no meu modo de ver foi a grande evolução, o grande avanço nesses quase dois anos de trabalho. Quando se faz um regulamento tem sempre de estar atualizando, melhorando, as regras do bom convívio prevalecem.

iG: Aquela série de empates na Série B após a eliminação da Copa do Brasil para o Corinthians, que abalou o grupo, foi o momento mais difícil da competição?

Rodrigo Caetano: Nós passamos períodos turbulentos na Série B, mas sempre mantivemos a convicção no trabalho. Blindamos o futebol e fizemos os atletas sempre acreditarem que as vitórias viriam, e vieram. Agora é outra situação, o Vasco conquistou o direito de sonhar com uma vaga na Libertadores. Com 41 pontos, e o quarto colocado com 46, temos esse direito. Na minha opinião, essa vaga vai chegar com um aproveitamento um pouco acima de 50%. Algo entre 57 e 59 pontos, creio que isso pode dar a vaga, pois existe um equilíbrio muito grande.

iG: Então o clássico contra o Flamengo é vital?

Rodrigo Caetano: É determinante para as nossas pretensões. Essas oito rodadas vão mostrar quem conseguirá arrancar e espero que seja o Vasco. É determinante muito no sentido da motivação, o Vasco tem de pensar em metas grandes. Vencer um clássico contra o maior rival pode estabelecer essa arrancada. No número de pontos, os dois precisam.

iG: Como fez para lidar com certas coisas que não se aceita em uma gestão profissional, como atraso de salários e vazamento de informações?

Rodrigo Caetano: Sempre adotamos um discurso de transparência com os jogadores. A dificuldade financeira do clube não é novidade para ninguém. Mas sempre relatamos aos atletas a situação real. Até porque eu sou remunerado também.

iG: Esse fato de o senhor também ser remunerado então facilitou esse trabalho?

Rodrigo Caetano: Claro, acaba ajudando. Ficava na mesma situação deles e eles percebem que estamos sempre buscando o bem comum. Tenho uma relação de confiança com o elenco e a comissão técnica. E sempre procurando blindar e diminuir esses problemas. A gente não pode em um ambiente de trabalho ficar somando problemas, senão fica inviável. Fizemos um convívio de harmonia para que esses problemas não tomassem proporções maiores e providências para que essas questões permanecessem internas. Como a gente atuou diariamente, estou em todos os treinos e viagem, a gente acaba fazendo com que os pequenos problemas não aumentem.

iG: Chegou a haver grandes problemas com isso?

Rodrigo Caetano: Resolvemos quando foi necessário, tiramos um ou outro que não estava satisfeito e poderia causar problema. Não afastamos ninguém, quando quisemos liberar, sempre demos seguimento à carreira, emprestamos... Nunca chegamos a nenhuma situação extrema por esse fato de atuar rigorosamente no foco, nunca deixamos um problema se tornar insustentável. A escolha do perfil dos jogadores foi decisiva também. Hoje já sabemos o que precisamos, não há necessidade de contratar um time inteiro como foi nos últimos anos. Vai chegar uma hora que o Vasco vai montar time para ser campeão contratando uma ou duas peças. Quando? Não sei, pode ser que esteja próximo, mas são etapas que temos de cumprir.

iG: E aquele episódio da expulsão dos goleiros Rafael, que hoje está no Fluminense, e Ânderson, que era da base, por conta da indisciplina na concentração durante uma viagem? Foi um divisor de águas, aquilo foi um exemplo?

Rodrigo Caetano: Olha, foi uma mostra de como a gente pensa que deva ser, mas não gostaria de tratar isso como exemplo. Tivemos outras tomadas de decisão nesse caminho, cada uma no seu momento, na sua forma. Na verdade estabelecemos uma forma de trabalhar e eles não se enquadraram naquele momento, o Vasco buscou soluções para isso, então não vale ficar falando de um fato isolado, tivemos outras demonstrações daquilo que achamos que é correto.

iG: Aquele momento da perda dos pontos no Estadual em que talvez tenha se chegado ao auge da turbulência política, com as suspeitas de que haveria influência da antiga diretoria naquela eliminação no tapetão, acabou sendo a dor que uniu de vez um grupo em formação para a Série B? Essa turbulência política desapareceu?

Rodrigo Caetano: Foi um choque grande, mas jamais vou creditar a qualquer ato premeditado de A, B ou C. Estranho a decisão do tribunal, mas não cabe a nós julgar. O Vasco pagou por isso, mas seguiu a sua vida. E ali acabou se montando uma equipe que foi campeã da Série B e foi à semifinal da Copa do Brasil. Os jogadores que chegaram tinham a expectativa de ir à final do Estadual, mas talvez não fosse a hora. Para isso existem os profissionais, para quando existirem essas questões políticas tocarem o clube como deve ser. A política fica em outra esfera.

iG: Houve algum jogador que serviu como referência, como ponto de confiança da diretoria e da comissão técnica?

Rodrigo Caetano: A referência é sempre do sofrimento ou da glória. Então muitos que passaram pelo sofrimento da Série B passaram a ser referência dentro do grupo, mas não elegeria um nome. Aqueles atletas que atenderam o chamado de disputar uma Série B e colocar o Vasco no lugar que merece, e com o título. Vai ficar na história do clube que em 2009 houve um grupo de profissionais que ajudaram o Vasco a retomar o seu caminho e hoje poder pensar em coisas maiores.

iG: E houve muitas negativas de jogadores que o Vasco tentou trazer?

Rodrigo Caetano: Sem dúvida, normal. A queda gera uma enorme desconfiança no mercado e aquela questão de muita gente ter dúvida de que o Vasco conseguiria resgatar a credibilidade, ressurgir como a grande potência que sempre foi, atrapalhava. Para isso que trabalhamos. Para que, quando o Vasco procurar, as pessoas enxerguem o clube de uma forma diferente e positiva.

iG: Como o senhor avalia a participação do empresário Carlos Leite na montagem daquele grupo? A parceria e o fundo de investimentos ainda funcionam?

Rodrigo Caetano: Aquela parceria foi algo que o Vasco usou para iniciar esse processo, até pela relação dele com o Mandarino (José Hamílton Mandarino, vice de futebol) e com o Dinamite (Roberto Dinamite, presidente). Vieram bons atletas, ele ajudou muito, hoje alguns permanecem, mas o clube nessa caminhada toda, e mesmo naquela época, sempre foi muito aberto a quem tivesse interesse de colaborar. Hoje muitos clubes, especialmente nesses momentos de dificuldade, buscam parceiros. O clube ainda não tem essa questão do fundo de investimentos. Seria uma possibilidade, mas desconheço isso. Claro que essa questão deveria e seria tratada pelo nosso presidente e pelo vice de futebol.

Fonte: IG