VP de controladoria Adriano Mendes detalha plano para reduzir dívida do Vasco
Quinta-feira, 16/05/2019 - 23:40
Ao final de 2018, o Vasco apresentou o maior superávit entre clubes: com R$ 64 milhões. A notícia foi surpreendente para um clube em ruínas ao final de 2017 e ainda enfrentando dificuldades para pagar salários. Mas é fruto de uma restruturação que limitou gastos, renegociou acordos de dívidas e reviu contratos com a Globo. Assim, o clube tem um plano em que sobrevive até a um novo rebaixamento.

A ideia é equacionar a dívida vascaína em cinco anos com uma redução a um patamar em torno de R$ 300 milhões (atualmente está em R$ 580 milhões no total), isto é, em torno da receita prevista de um ano do clube. Para isso, um dos pilares é a contenção de custos mesmo quando o futebol vai mal.

A folha salarial de 2018 foi de R$ 88 milhões, um pouco menor do que a do ano anterior de R$ 90 milhões. Também houve leve queda consideradas todas as despesas que ficaram em R$ 166 milhões. "Estamos preparados para rodar com R$ 200 milhões. Então, tudo que sobra disso, é para redução de dívida", explicou o vice-presidente de Controladoria do Vasco, Adriano Mendes.

No ano passado, foram R$ 261 milhões de receitas e a dívida caiu R$ 93 milhões. Isso explica também o superávit composto na realidade por rendas financeiras originárias de acordos com credores e de trocar os empréstimos com maiores juros por outros com menores juros e com mais prazo.

"A regra é igual para todos os credores. Começam dando para o Vasco uma carência de seis meses, aí pagamos parcelas pequenas e depois passamos a pagar mais. O que garanto para eles é que em cinco anos estará pago. O importante é a credibilidade de saberem que vamos pagar quando tivermos", completou Mendes. No total, o clube tem parcelas de impostos, de Profut, de credores cíveis e empréstimos que representam quase metade das despesas e R$ 14 milhões por mês.

As negociações sobre dívidas vêm sendo feitas pelo clube juntamente com a consultoria KPMG, contratada para auxiliar na reforma da gestão vascaína.

Não adianta, no entanto, fazer acordos se não entrar dinheiro. Em 2018, com toda renda de TV comprometida, foi a venda de Paulinho que garantiu o ano. Mas, para 2019, a aposta é diferente. Uma primeira medida foi renegociar os empréstimos com garantias da Globo, reduzi-los e alongar o restante até 2024.

Para este ano, o clube estima ter direito a R$ 104 milhões em dinheiro do Brasileiro, considerando as variáveis por posições e o pay-per-view. E há um comprometimento de R$ 26 milhões retidos para pagar empréstimos, isto é, haverá mais dinheiro no segundo semestre. Tanto que o orçamento de 2019 prevê R$ 238 milhões em receitas, com apenas R$ 30 milhões de venda de jogadores.

A falta de fluxo de dinheiro no primeiro semestre, no entanto, provoca atrasos salariais: o clube está com um mês de atraso agora em maio.

Mas e, se o Vasco for rebaixado, a recuperação cai por terra? Pela regra atual da Globo, não há mais salvaguarda para os times grandes e a receita total da Série B é de R$ 6 milhões. O time está em último na tabela da Série A. A diretoria vascaína, no entanto, fechou um acordo pelo qual mantém o ganho de pay-per-view em caso de rebaixamento.

Isso significa que, dos R$ 104 milhões do Brasileiro, um valor no patamar de R$ 40 milhões continuaria a entrar nos cofres do clube. Óbvio que isso abalaria a receita (também perderia próximo de R$ 20 milhões em 2019 já que rebaixado não ganha cota por posição), mas não quebraria o clube.

"Poderia atrasar a recuperação. Mas temos acordos com os credores para esse caso", contou Mendes. "Seria uma camisa menor, faríamos as despesas caberem nela." Mas o vice-presidente de Controladoria entende que, com uma folha salarial que é a 10a do país em valor, é possível evitar a queda e que a situação do clube na tabela é momentânea.

Em paralelo a esse plano B, a diretoria vascaína tem um planejamento de alavancar as receitas do clube por meio da reforma de São Januário e do sócio-torcedor. A ampliação do estádio seria com financiamento externo e os recursos gerados pela arena pagariam a conta (estimada em R$ 214 milhões). No caso do sócio-torcedor, como a base é pequena, estima-se que se consiga quase dobrar a receita em 2019 (de R$ 12 milhões para R$ 23 milhões).

Esse parece um sonho distante para o Vasco neste momento em que briga no final da tabela. Mas clubes como Flamengo, Grêmio e Palmeiras, que se recuperaram financeiramente, passaram por trajetórias similares de dificuldade esportiva. A questão é o quanto a diretoria vascaína vai se ater ao seu plano no meio das turbulências.

Fonte: Blog do Rodrigo Mattos - UOL