Vasco não mantém o mesmo técnico da pré-temporada até o fim da Série A desde 2006
Quarta-feira, 15/05/2019 - 08:23
*Escrita contabilizada somente nos anos que o clube participou da elite do Campeonato Brasileiro*

Assolado pelo fantasma do rebaixamento em mais uma temporada, o Vasco mantém uma incômoda escrita: o clube não consegue manter o treinador da pré-temporada até o final de uma campanha na Série A desde 2006, quando Renato Gaúcho era o técnico e terminou aquela edição do Campeonato Brasileiro em sexto lugar.

Renato Portaluppi chegou ao Vasco (em sua primeira passagem) no ano de 2005, com a missão de livrar o time do rebaixamento, visto que a equipe ocupava a penúltima colocação do Brasileiro. Conseguiu o feito, terminou em 12° e classificou o time para a Copa Sul-Americana da temporada seguinte. Em seguida, na temporada 2006, Renato levou o Vasco ao até então inédito vice-campeonato da Copa do Brasil e terminou o Campeonato Brasileiro em sexto lugar, a segunda melhor campanha do clube entre 2001 e 2011.

Ao sair em 2007, após ser demitido por Eurico Miranda, Renato concedeu uma entrevista coletiva ao lado do presidente e chorou após quase dois anos a frente do cargo. Esse seria o último treinador a ter continuidade no trabalho em São Januário.

"Chegamos a um consenso e vimos que era melhor para mim e para o Vasco que eu saísse. Espero que o próximo treinador tenha mais sorte do que eu. Me sinto muito orgulhoso de ter trabalhado aqui. Tanto na minha vida de jogador como treinador, foi o melhor clube da minha vida", disse Renato, em 2007, ao se despedir do Vasco.

A exceção foi em 2011, na equipe treinada por Ricardo Gomes que conquistou a Copa do Brasil daquele ano. O comandante precisou encerrar as atividades na 19ª rodada do Campeonato Brasileiro (última rodada do primeiro turno), quando teve um AVC hemorrágico no meio da partida entre Vasco e Flamengo. Ricardo assumiu em fevereiro de 2011, às vésperas da Taça Rio, e foi um dos responsáveis diretos pela quebra da escrita de um título nacional, que não era festejado em São Januário desde 2000.

Tirando Ricardo Gomes da lista, outros treinadores iniciaram a temporada e foram demitidos durante ou entraram durante e foram demitidos antes de terminar o ciclo. Para análise, não entram na escrita os treinadores que ficaram uma temporada no comando durante a Série B do Brasileiro, como Dorival em 2009 e Jorginho em 201. Veja os exemplos:

2019: Alberto Valentim e Vanderlei Luxemburgo.

2018: Zé Ricardo, Jorginho e Alberto Valentim.

2017: Cristóvão Borges, Milton Mendes e Zé Ricardo.

2016: Jorginho (Campeonato Brasileiro da Série B).

2015: Doriva, Celso Roth e Jorginho.

2014: Adílson Batista e Joel Santana.

2013: Gaúcho, Paulo Autuori, Dorival Júnior e Adilson Batista.

2012: Cristóvão Borges, Marcelo Oliveira e Gaúcho.

2011: Paulo César Gusmão, Ricardo Gomes e Cristóvão Borges.

2010: Vágner Mancini, Gaúcho, Celso Roth e Paulo César Gusmão.

2009: Dorival Júnior (Campeonato Brasileiro da Série B).

2008: Romário, Alfredo Sampaio, Antônio Lopes, Tita e Renato Gaúcho.

2007: Renato Gaúcho, Celso Roth, Romário, Valdir Espinosa e novamente Romário.

2006: Renato Gaúcho.

De quem é a culpa

A discussão sobre tempo de treinadores no comando dos times brasileiros é incessante. Não existe um culpado, mas uma série de fatores que acabam determinando o fim do relacionamento: derrotas sucessivas, perdas de títulos, mau relacionamento com a torcida, com os jogadores ou com a diretoria, descrédito no trabalho, futebol sem repertório…

A demissão rotineira de treinadores está dentro da cultura do futebol brasileiro, mas, na temporada 2019, dois dos mais vitoriosos em atividade no Brasil estão há pelo menos mais de uma temporada no comando de seus respectivos times: Renato Gaúcho, no Grêmio, campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, e Mano Menezes, bi0campeão da Copa do Brasil.

Para eles, os resultados apareceram e deram tranquilidade na relação diretoria/torcida para o prosseguimento do trabalho.

Hoje, Mano Menezes e Renato Gaúcho possuem um tesouro em comum: a confiança do torcedor – que jamais será perpétua, mas contribui para a consolidação do trabalho.

Jurgen Klopp, treinador alemão que levou o Liverpool a final da Champions League em duas temporadas seguidas, deu seu pitaco sobre o caso dos treinadores no Brasil:

"O que eu posso dizer é o que os clubes brasileiros estão fazendo é muito errado. Porque, pelo que eu conheço, os clubes sempre estão trazendo treinador por uma semana, por um, dois, três meses e não dá para ter um desempenho maravilhoso assim. Não é possível. Isso é futebol. Eu não sei como funciona exatamente, eu só posso dizer que do jeito que estão fazendo não funciona. A pressão que estão colocando nos treinadores é muito grande e isso não pode acontecer. Você tem que sentir junto com o time, trabalhar junto e isso não pode ser feito em uma semana, um mês ou até mesmo um ano. Esteja certo sobre o profissional que está contratando e dê a ele tempo. Assim que deveria ser", sentenciou Klopp.



Fonte: Futebolzinho