Fernando Miguel se firmou como goleiro após ser recusado em uma entrevista para recepcionista de hotel
Domingo, 17/02/2019 - 12:58
Muito antes de decidirem a final da Taça Guanabara do Campeonato Carioca, no Maracanã, neste domingo, os goleiros Fernando Miguel, do Vasco, e Rodolfo, do Fluminense, enfrentaram as maiores batalhas de suas vidas profissionais.

Aos 21 anos, Rodolfo era titular do Athletico-PR no Campeonato Paranaense, na Série B e na Copa do Brasil. Com grandes atuações, começou a despontar como uma das boas promessas do futebol brasileiro. Mas sua vida estava prestes a dar uma reviravolta...

Em 2 de agosto daquele ano, o time de Curitiba convocou uma coletiva de imprensa. No evento, o clube anuncia que Rodolfo foi flagrado em um exame antidoping, e será suspenso preventivamente. A substância proibida: cocaína.

"Houve momentos em que achei que ia morrer por causa da droga. Já fui treinar drogado, sem ter dormido nada. Teve dias que eu achei que ia morrer treinando assim, porque ia para o CT sem descansar ou dormir, com o corpo cheio de drogas. O maior perigo é ter uma parada cardíaca e perder o bem mais precioso que eu tenho, que é a vida", disse em entrevista à Rádio ESPN, em 2015.

"Eu usava quase todos os dias, e só parava antes de concentrar e quando ia jogar. Mas, logo que o jogo acabava, eu ia buscar cocaína antes de voltar para a casa", confessou.

Sim, foi assim que a equipe rubro-negra descobriu que seu goleiro titular era dependente químico. O STJD foi implacável: dois anos de suspensão.

"Ali, achei que a minha carreira tinha acabado...", contou o goleiro.

Mas aquilo não era o fim para Rodolfo. Era uma chance de recomeçar.

O atleta foi internado por três meses em uma clínica e cumpriu rigorosamente seu tratamento contra o álcool e as drogas. Depois, ficou alojado no CT do Caju por mais um mês, para evitar a recaída.

"O Athletico-PR me deu um suporte muito grande, não esperava que um clube iria me oferecer ajuda num caso desses. O clube foi muito humano comigo, me ajudou em tudo que eu precisava e sou eternamente grato a eles", diz Rodolfo.

Sete anos depois, diz com toda a certeza: está curado.

"A maioria das pessoas diz que foi um azar eu ter caído no antidoping, mas eu penso que foi muita sorte. Se eu tivesse o azar de não ter sido flagrado, estaria bebendo e usando drogas até hoje, e minha vida estaria de ponta-cabeça. Eu não ia poder ajudar meus filhos. Hoje, aprendi a ser um pai e um ser humano de verdade. Ter caído no doping foi um aprendizado muito grande para poder reconstruir minha vida".

Rodolfo voltou a jogar, passou por Ferroviária e Oeste antes de chegar no ano passado ao Fluminense. Com a saída de Júlio César para o Grêmio, ele assumiu a titularidade no gol do time de Fernando Diniz.
Desemprego

Já Fernando Miguel viveu outros tipos de adversidades. Por muito pouco, o goleiro do Vasco não tomou um caminho profissional completamente diferente. Sua carreira foi salva por causa da rejeição em uma entrevista de emprego para recepcionista de hotel.

Depois de ter rodado por diversas equipes do interior do Rio Grande do Sul, ele se contundiu no Esportivo de Bento Gonçalves e ficou desempregado durante uns meses em 2011.

De volta à sua cidade natal, Venâncio Aires, ele estava disposto a largar o mundo da bola e aceitar o primeiro trabalho que aparecesse.

"Conversei com o cara que nunca tinha visto na vida e que nem gostava de futebol. Expliquei que não tinha currículo nenhum na área, que tinha sido a vida inteira um jogador de futebol profissional. Depois de 45 minutos, o cara me disse: 'Tu é o cara para trabalhar na minha empresa, se comunica e se expressa bem'", relatou o arqueiro, ao ESPN.com.br, em 2016.

"Pensei que ele ia me contratar, mas ouvi: 'Mas eu não vou te trazer para trabalhar na minha empresa porque você nasceu para jogar futebol. Espera esse período difícil passar que as coisas vão acontecer. Agarra a oportunidade que aparecer'", prosseguiu Miguel.

O que poderia ser motivo de enorme frustração virou o combustível necessário para retomar seu caminho.

"Eu ia aceitar, mas o cara me recusou (risos). Se saísse do futebol não voltaria nunca mais, tenho decisão firme e estava disposto a trabalhar com outras coisas. Aquilo foi um sinal de Deus que eu deveria ser persistente", afirmou Miguel.

Depois de uns meses, Fernando Miguel agarrou a chance que veio no Lajeadense e fez bonito: foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Gaúcho. Com isso, chamou atenção do Juventude, que sequer disputava a Série D do Brasileiro. Depois de duas temporadas na equipe de Caxias do Sul, o goleiro chegou ao Vitória, em 2014. No ano passado foi ao Vasco e disputou posição com Martín Silva.

Após a saída do uruguaio, virou titular absoluto da equipe de Alberto Valentim.



Fonte: ESPN.com.br (texto), Reprodução Internet (foto)