Alberto Valentim, sobre decisões táticas: 'Não fiz loucuras'
Sexta-feira, 02/11/2018 - 07:42
Pouco mais de dois meses depois de assumir o Vasco, Alberto Valentim terá, contra o Fluminense, a oportunidade de, pela primeira vez, repetir a escalação de sua equipe. Este é apenas um capítulo na saga do treinador na tentativa de dar padrão de jogo ao time e fazê-lo jogar do jeito que acredita ser o melhor.

Nesta travessia, Valentim sofreu críticas. Ora por usar três volantes, ora por improvisações. Mas garante, tudo teve um propósito:

- As pessoas ainda estão me conhecendo. É só pegar um pouquinho do meu passado recente. Eu não fazia loucuras. Não fiz loucuras aqui no Vasco. O que as pessoas esquecem é que aqui, em outras oportunidades, eu tive muito problema de escalação. Numa semana perder três jogadores da mesma posição. Não ter um lateral-direito numa partida.

Nesta entrevista, o foco são as questões táticas de Valentim no comando do Vasco. Uma oportunidade de entender melhor o que quer o treinador de sua equipe – e já pensando, também, em 2019.

Confira:

GloboEsporte.com: Pela primeira vez você tem a chance de repetir escalação. Mas, em outras ocasiões, mesmo com lesões e suspensões, você também fez mudanças de ordem tática. Este é seu estilo?

Alberto Valentim: A minha forma de trabalhar é procurar colocar os melhores e aqueles que estão 100% no treino. Muitas vezes aconteceu de não poder levar jogador nem para o banco.

Os outros, mesmo eu não querendo, não tinha oportunidade de repetir. Se vocês lembrarem, eu só respondi algumas perguntas em relação a isso. Nunca partiu de mim. Porque eu não quero que as pessoas achem que é uma desculpa.

Se você perguntar para todos os treinadores: se você não tem o elenco todo à disposição ou parte dele, dificulta muito o trabalho, principalmente chegando no meio do campeonato, onde você não tem ainda as coisas do jeito que você quer.

Esta foi sua maior dificuldade?

Grande. Porque você muda tudo. Voce tem algumas ideias em relação a peça para fazer, e você não tem. É uma outra forma.

O Vasco, hoje, não joga igual. A gente procura marcar mais no campo adversário. É um time muito compacto, que procura sair jogando. É diferente. Procura fazer essa marcação de intermediária para o campo ofensivo.

E este tipo de jogo precisa de mais tempo...

Precisa de tempo. Não é desculpa. Hoje, você vê um time diferente. Para isso acontecer, leva tempo. Em cima de jogos, jogos, jogos. Agora os jogadores estão assimilando mais ainda o meu trabalho.

Jogar desta forma talvez exija mais do que um estilo mais reativo.

Essa forma que eu achava que o Vasco fazia uma fase defensiva muito baixa. Eu não gosto. Acontece durante o jogo de você baixar um pouquinho, mas de ponto de partida eu não gosto. Eu mudei um pouco isso. Leva tempo para o jogador entender. São tempos de fazer isso, de procurar jogando o máximo, sem risco, lógico.

Com o tempo você vai fazendo. Terminando esse ano bem, no ano que vem, com o trabalho desde o começo e os jogos deste ano, as coisas vao encaminhar muito mais rápido.

Os jogos recentes foram melhores. Em que nível estão os jogadores em relação a assimilar suas ideias?

Acumulou bastante. Falo pelos vídeos que mostro para eles. São muitas coisas repetidas. Os títulos que eu coloco em cada jogada, fase defensiva, pressão no homem da bola, cmpatação, numero de jogadores chegando no ataque, jogadas pela beirada, posse de bola dinâmica, pressão no campo adversário. Parece que estamos vendo o mesmo jogo.

Então, as coisas estão acontecendo. É lógico que precisa melhorar. Mas a gente já tem muita coisa boa. Ontem mostrei 18 minutos do nosso jogo, coisas muito boas, que pareciam a mesma jogada.

Começa a ter um padrão.

Vira um padrão. Se você pegar jogos antigos do Vasco e hoje... Eu falo de um time que enfrentei duas vezes. Deixa o resultado para lá. Mas pega o comportamento contra o Santos no Maracanã e no Pacaembu. Posicionamento, altura de marcação, procurando jogar, qualidade de jogo de um time que tentava jogar. É totalmente diferente. Posso dar esse exemplo porque enfrentei o mesmo time duas vezes.

O primeiro jogo contra o Santos, logo em sua chegada, com pouco tempo de treino, foi muito ruim.

Acredito nisso no futebol: primeiro você pede, depois você faz. São duas coisas, teoria e prática. Fica muito difícil pedir sem ter treinado. Ou treinado pouco, como foi nosso caso.

Você já fica torcendo para não acontecer, mas é o que acontece, porque você só pediu, treinou pouco. No futebol tem que repetir, fazer várias vezes. É com o tempo que os jogadores vão fazendo automaticamente. Era muita coisa que a gente já sabia que podia acontecer.

Você consegue ver uma evolução do time. Qual a expectativa para esta reta final?

Temos que oscilar o menos possível. Não podemos fazer uma partida boa e depois dar uma caída. Temos que manter equilíbrio. Fazer bons jogos, com o time organizado. Aí a gente consegue pontuar o suficiente para ficar tranquilo.

Essa oscilação do time, hoje, é o maior problema?

A gente não pode. Tem que manter nível bom. Fazer uma boa partida, outra excelente, depois outra boa. Não podemos fazer uma partida ruim, uma boa. Aí corre risco de perder pontos importantes.

Por um tempo, você usou três volantes. Essa escolha foi porque você precisou se sentir mais resguardado devido ao estágio do trabalho?

Não. Antes de vir para o Vasco, eu tinha jogado uma vez assim na carreira. Foi contra o Fluminense, coincidentemente, eu no Palmeiras. Ganhamos por 2 a 1. Os demais jogos eu jogava no 4-2-3-1, 4-3-3, mas o time era ofensivo. Aqui me fez um pouco por características e por não ter jogadores.

Mas fizemos boas partidas assim. Não deixamos de ser ofensivos. Tínhamos jogadores chegando para afinalizar, dando passe para gol. O time não deixava de atacar. Não era uma proposta defensiva como jogava o Corinthians antes, por exemplo.

Você já começou a pensar no ano que vem?

Não. Algumas coisas a gente está vendo, conversando. Mas eu estou voltado muito para esse final.



Fonte: GloboEsporte.com