Judô: Jéssica Pereira, hoje na Seleção Brasileira, começou no Vasco
Domingo, 11/02/2018 - 06:47
Do começo no esporte quase por acaso ao sonho olímpico, já se vão longos 16 anos de treinos e muita dedicação. Medalhista de ouro no Grand Prix de Túnis, na Tunísia, no fim do mês passado, Jessica Pereira começa a trilhar a reta final de uma caminhada que ela espera que leve até o Nippon Budokan, palco do judô nos Jogos de Tóquio-2020.

A carioca de 23 anos é uma das atrações da equipe brasileira que disputa, neste fim de semana, o Grand Slam de Paris, uma das mais tradicionais e fortes competições do circuito mundial da Federação Internacional de Judô.

Nascida e criada no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, Jessica faz parte de uma família de judocas, que foi parar no esporte por um capricho do destino. Preocupada com a violência na comunidade onde morava, a mãe, Imara, não queria ver os filhos brincando na rua e foi matricular os meninos, Osvaldo, Anderson e Igor, em aulas de natação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As vagas já estavam esgotadas, e restou ao trio fazer um curso de jiu-jitsu. Os irmãos Pereira se destacaram e foram convidados para treinar judô no Vasco.

— Eu tinha sete anos e ficava acompanhando os treinos deles. Um dia o professor perguntou se eu não queria treinar também. Nunca mais parei — recorda Jessica, destacando a importância da família em seu crescimento no judô.

— Eles são fundamentais. Foi graças a eles que entrei no esporte, e eles me ajudam muito em qualquer dificuldade. Treino todo dia com minha irmã (Carolina, 20 anos, já com títulos brasileiros e pan-americanos).

Décima no ranking mundial

A vitória na Tunísia em janeiro alçou Jessica à décima posição no ranking mundial da categoria meio-leve (-52kg). A número 1 da lista é ninguém menos que Érika Miranda, destaque da seleção brasileira, dona de quatro medalhas em mundiais e com duas Olimpíadas (2012 e 2016) no currículo. Uma rival de peso na luta pela vaga em Tóquio.

— A Érika sempre vai muito bem, é uma atleta muito forte, mas a gente tem que correr atrás e acreditar. Comecei o ano com o pé direito e somei pontos importantes. Estou bem confiante. Tenho competido mais e me saído melhor. Se continuar assim, acho que posso conseguir a vaga — acredita Jessica.

Medalha de bronze nos Jogos de Atenas-2004, o ex-judoca Flávio Canto acha que o Brasil está muito bem servido na categoria meio-leve.

— A Érika Miranda é uma das maiores atletas do Brasil em todos os tempos. A Jessica está subindo, e pode evoluir tecnicamente ainda. Vai ser uma briga boa — aposta.

Atualmente treinando no Instituto Reação, Jessica convive diariamente com uma inspiração e tanto: a medalhista olímpica Rafaela Silva. Em meio a pegadas no quimono, trocações e observações, Jessica ainda recebe dicas da campeã da categoria leve (-57kg) na Rio-2016.

— É muito importante para mim treinar com a Rafaela. Penso que se ela conseguiu ser campeã olímpica, eu também tenho chances.

Criador do Instituto Reação, Flávio Canto não poupa elogios para Jessica Pereira, apontada por ele como 'uma atleta rara'.

— Ela é muito forte, muito concentrada e segura. Sempre treina sério. É difícil você encontrar uma atleta assim. Ela tem aquele olhar de campeão e um estilo russo, digamos assim, com muita frieza.

Jessica admite que costuma ouvir regulamente esse elogio, mas, bem-humorada, revela que não tem nervos de aço.

— Todo mundo fala isso, que sou bem fria e que não demonstro o que estou sentindo. Na verdade eu fico nervosa, mas acho que consigo esconder bem — diz, rindo.

A equipe brasileira em Paris, para o primeiro Grand Slam do ano, terá ainda mais trezes atletas, com nomes como Ketleyn Quadros, bronze em Pequim-2008, Leandro Guilheiro, bronze em Atenas-2004 e Pequim-2008 e Felipe Kitadai, bronze em Londres-2012. A competição também marca o retorno de Sarah Menezes, ouro em Londres-2012, à categoria ligeiro (-48kg), após uma temporada lutando na meio-leve (-52kg).

Enquanto sonha com Tóquio, Jessica tenta fazer um exercício de imaginação: o que teria acontecido se, 16 anos atrás, dona Imara tivesse conseguido matricular os filhos nas aulas de natação?

— Nossa, difícil pensar em como seria! Hoje em dia eu até gosto de água e piscina, mas só na diversão mesmo — brinca.



Fonte: O Globo Online