Confira análise tática do Universidad de Concepción, adversário do Vasco nesta 4ª-feira
Terça-feira, 30/01/2018 - 03:24
A Universidad de Concepción é o primeiro adversário do Vasco na Libertadores 2018. Um time que tem lá suas armas, mas também não chega a assustar. Seu técnico é o jovem Francisco Bozán, de apenas 31 anos, curiosamente a mesma média de idade dos titulares que deve mandar a campo na partida de ida na quarta-feira. La U de Conce é bem menos tradicional que sua xará da capital (Universidad de Chile, que o Vasco enfrentará, caso vá à fase de grupos). Foi com metas modestas, de quem não costuma brigar no alto da tabela, que Bozán assumiu no fim de 2016, pensando primeiro em escapar do rebaixamento. Conseguiu, e com sobras. Levou o time ao surpreendente terceiro lugar no Clausura disputado no primeiro semestre de 2017.

Bozán foi jogador, mas encerrou a carreira cedo. Formou-se técnico no Instituto Nacional de Futebol do Chile, aos 25 anos tirou a licença da Uefa e logo assumiu uma equipe na terceira divisão. Aos 27 se tornou o técnico mais jovem a dirigir um time na elite chilena, o Barnechea. Neste um ano e três meses à frente da UdeC tem montado times mais competitivos que vistosos. Em geral, prioriza a marcação e as saídas rápidas, explorando erros dos rivais. De perfil estudioso, tem na manga algumas jogadas ensaiadas, como a que rendeu um gol diante do Palestino, em que Ronald de la Fuente sai de trás da barreira e marca após a falta rolada por Hugo Droguett (sequência abaixo).



Hugo Droguett, de 35 anos e passagem pela seleção chilena, aliás, tem sido o grande jogador da UdeC. Mesmo sendo meio-campista, Droguett foi vice-artilheiro do campeonato do segundo semestre, com oito gols em 15 jogos. Joga na linha de meias no 4-1-4-1 / 4-3-3 (mais usado), com obrigação de recompor quase como volante e daí partir de trás, como elemento-surpresa. No 4-2-3-1 (variação), joga mais livre, mais adiantado por dentro e com menos responsabilidade de voltar, pois os pontas ou extremos fecham pelos lados, formando uma segunda linha e um 4-4-2 na fase defensiva.



O desempenho individual de Droguett contrasta com o coletivo, que no segundo semestre (Torneio Transição 2017) não foi bom. Apenas o décimo lugar, com 17 pontos em 15 jogos (com 3 vitórias, 8 empates e 4 derrotas; 16 gols marcados e 15 sofridos). Os resultados em casa foram especialmente ruins: só um triunfo e oito pontos. O time ainda foi o recordista de cartões vermelhos, com cinco expulsões. Conquistou a vaga para a Libertadores num mata-mata disputado em dezembro contra a Unión Española, que era favorita, por 3 a 1 no agregado. Em casa, fez 1 a 0 graças a um gol contra marcado numa tentativa de recuo longo. Fora, abriu o placar após um presente na saída de bola do goleiro e venceu por 2 a 1 praticamente administrando a vantagem.

Alguns aspectos são bem problemáticos. O principal deles: a bola aérea defensiva. Não só porque o time é baixo (média de 1,77m), algo comum em equipes chilenas. Mas por erros grotescos de posicionamento e tempo de bola. E são falhas frequentes. Metade dos gols sofridos são de cabeça ou nascem de bolas levantadas. Outro defeito recorrente é na transição defensiva. O time prioriza a defesa, mas quando sai tem dificuldade para se reorganizar e cede contra-ataques. Não é raro ver sua defesa desarrumada, com o volante Alejandro Camargo, zagueiros e laterais totalmente fora de posição. Por vezes, afobados. Foram quatro pênaltis cometidos (o goleiro Tigre Muñoz defendeu um). Agora, Portillo, que pouco atuava em 2017, vem treinando como titular na zaga. Felipe Muñoz é outra opção para atuar ao lado de Mencia no miolo de zaga.



Para a Libertadores, o time manteve a base e fez meia dúzia de contratações, com destaque para o setor ofensivo, como o atacante uruguaio Santiago Silva, ex-América de Cali e Peñarol (e que não é aquele, El Tanque), o também atacante Pineda (de passagem apagada pelo Vitória-BA em 2017) e Pedro Morales, meia bastante técnico, que também já passou por La Roja, atuou no Dínamo de Zagreb e no Málaga e que veio ao Brasil enfrentar o Botafogo como jogador do Colo Colo. Outro reforço que veio do Cacique é Figueroa, ex-Palmeiras. Também chegaram o zagueiro Hans Martínez e o volante Abarzúa. Pedro Morales e Santiago Silva são os mais prováveis de começar jogando.

Ainda há dúvidas de como serão encaixados. Bozán deve reformular o sistema para acomodar Pedro Morales avançado pelo meio, por trás de dois atacantes, Santiago Silva e mais um. Brigam pela vaga Pineda, Huentelaf, Jean Meneses (cobiçado na semana passada por La U de Chile) e Benítez. No último semestre, nenhum atacante convenceu e houve um rodízio grande. Deles, o baixinho Jean Meneses, que joga mais aberto, foi quem somou mais minutos (846), mas ainda assim bem atrás, por exemplo, do veterano Droguett (1337min, terceiro da lista).



Na preparação em janeiro, seguiu o revezamento no ataque. E os placares dos jogos-treino, apesar de não serem o mais importante durante a pré-temporada, não animam. Duas derrotas (1 a 0 para os reservas do Vélez Sarsfield, enquanto a UdeC usou titulares; e 3 a 2 para o Huachipato), um empate (0 a 0 com os reservas do Temperley) e uma vitória (2 a 1 sobre um Boca Juniors praticamente sub-20). Só Pedro Morales (2x) e Santiago Silva fizeram gols. Os reforços, portanto, são esperança de dar força ao um setor que dependeu quase que exclusivamente de Droguett em 2017.

Alguns jogadores são cascudos, como o goleiro Muñoz (40 anos; ex-Boca Jrs.), Droguett (35), Pedro Morales (32) e Santiago Silva (27). Porém, a maioria tem pouca experiência internacional. A média de idade não é baixa, mas grande parte do elenco só tem rodagem no próprio Chile. Vale alguns cuidados especiais com o volante Manríquez, bom cobrador de faltas e que finaliza bem de fora. E com os avanços do lateral-esquerdo Ronald de la Fuente. Mas o Vasco não tem razão para temer. A atmosfera também não é das piores. O público tende a ficar entre 10 e 15 mil. Num estádio (Collao, com capacidade para 30 mil) em que muitas vezes não passa de 2 mil presentes, pode ser uma motivação, mas a cultura de "caldeirão" definitivamente não existe. O Vasco de Zé Ricardo tem totais condições de voltar com um bom resultado.

Fonte: Blog No Esquema