Sônia Maria Andrade dos Santos é a 1ª mulher a ocupar um cargo de vice-presidente no Vasco
Terça-feira, 23/01/2018 - 14:51
No universo machista do futebol, Sônia Maria Andrade dos Santos sabe que precisará quebrar resistências. É a primeira mulher na história do Vasco a sentar na cadeira de vice-presidente, em uma gestão que já começa sob reprovação de parte da torcida, insatisfeita com a ruptura que levou Alexandre Campello ao poder do clube, em detrimento de Julio Brant. Com o ex-presidente Eurico Miranda à mesa, a posse do médico e todos seus vice-presidentes ocorreu nesta segunda-feira, em cerimônia na Sede Náutica da Lagoa.

A registradora pública, fundadora de uma ONG que leva regularização habitacional a moradores de comunidades carentes do Rio, está acostumada a frequentar áreas de conflito, onde violência e pobreza criam um cenário hostil, mas ser atacada verbalmente nas redes sociais é algo que ela não tinha vivido até aceitar o convite de Campello, a quem conhece há 15 anos, e entrar de cabeça na truculenta política vascaína. Além dela, apenas outras duas mulheres estavam aptas a votar na eleição no Conselho Deliberativo do Vasco, na última sexta-feira.

— Meus familiares e eu ficamos assustados quando abrimos as redes sociais, mas só mudamos uma realidade com o trabalho do dia a dia. Será com trabalho que vou mostrar por que o presidente me escolheu para ser sua vice — afirmou.

Programa social

Vascaína desde pequena e frequentadora assídua de estádios na juventude vivida na Abolição, na Zona Norte do Rio, Sônia se aproximou do grupo político de Campello na gestão de Roberto Dinamite, quando o Vasco passou a organizar anualmente a ação Cidadania Vascaína, com o oferecimento de diversos serviços à população, incluindo os de cartório, área de atuação da registradora. Da proximidade com a então diretoria, virou sócia em 2011.

Sua contribuição como segunda vice-presidente geral, explica, acontecerá em duas frentes. Com sua experiência no campo da responsabilidade social, quer inserir o clube em uma agenda que pode beneficiar toda comunidade no entorno de São Januário, em especial, a Barreira do Vasco. Suas ambições são grandes, espera fazer do clube da Colina o pioneiro em um movimento que gostaria de ver em todos os clubes do Rio:

— Todos os times precisam agregar o social às suas marcas. Vou tentar fazer isso, mostrar que os clubes devem fazer a sua parte, seja os grandes ou os pequenos. É uma obrigação de todos.

A outra tarefa que atribui a si mesma é igualmente ousada: mulher em um mundo dominado pelos homens, está disposta a ser uma mediadora nos conflitos políticos que marcam a vida do Vasco há décadas. Sua estratégia para isso é trazer as mulheres dos caciques do clube para dentro do debate:

— Quero montar uma frente de mulheres dentro do Vasco, a começar com as mulheres dos opositores. Uma mulher vai dar um toque de equilíbrio, vamos olhar as questões por outro prisma.

O distanciamento de questões mais típicas de um clube de futebol também é uma característica do primeiro vice-presidente administrativo escolhido por Alexandre Campello. Elói Ferreira de Araújo, zootecnista e advogado, será o segundo na hierarquia do clube trazendo com ele uma forte bagagem política, mas não das articulações de São Januário. Natural de Itaperuna, fez carreira em Brasília. De março de 2010 a janeiro de 2011, foi ministro-chefe da Secretaria de Políticas Públicas de Promoção e Igualdade Social do segundo governo Lula. Também fez parte da gestão da presidente Dilma Roussef.

Entre os vice-presidentes mais importantes da nova diretoria, quem tem mais experiência de Vasco é Frederico Lopes, escolhido para ser o vice de futebol. O empresário do ramo imobiliário foi vice-presidente de Patrimônio do clube na gestão Roberto Dinamite. Ao lado de Alexandre Campello e Roberto Monteiro, forma o trio pensante do grupo político que chegou ao poder em São Januário.



Fonte: O Globo Online