Em entrevista, Julio Brant fala sobre seus planos para o Vasco
Segunda-feira, 06/11/2017 - 10:29
Segundo colocado em 2014, Julio Brant tentará novamente ser presidente do Vasco. Ele é o candidato da chapa "Sempre Vasco Livre", uma junção acertada na última semana entre seu grupo, "Sempre Vasco", e a "Frente Vasco Livre", que tinha Alexandre Campello, mas aceitou se integrar à campanha.

Brant tem outros apoios conhecidos da torcida. Os ex-jogadores Edmundo, Felipe, Mauro Galvão e Pedrinho estão com o candidato e participam ativamente da campanha. Este último, aliás, é visto como um nome forte para ajudar no futebol caso vença a eleição.

- Eles foram convidados e estarão dentro da gestão, trabalhando no futebol (a exceção é Edmundo, que não terá cargo). Gostaria muito que o Pedrinho fizesse a ponte que falei, essa integração entre base e profissional. Vejo o Pedrinho como o grande nome. Uma ponte filosófica, que traz para a molecada a visão de como se deve vestir a camisa do Vasco – disse Brant.

Nas entrevistas realizadas pelo GloboEsporte.com com os candidatos, são cinco temas fixos para os candidatos - Centro de Treinamento, São Januário, sócio-torcedor/marketing, finanças e futebol - e cinco perguntas específicas para cada um.

Confira a entrevista com Julio Brant:

A partir de 2019 a CBF planeja proibir treinos no mesmo local dos jogos. Sua chapa tem um projeto para construção de um centro de treinamento?

É a nossa meta: até o fim do mandato ter um CT 100% integrado, base e profissional. A gente não entende possível trabalhar sem essa ferramenta. A primeira que fizemos foi identificar quem eram os potenciais parceiros para desenvolver para a gente. Entender o que é um CT do ponto de vista internacional. Fomos atrás dos principais fornecedores que pudessem nos trazer ideias, conceitos e desenvolver estes conceitos dentro da realidade brasileira. Conversamos com a TecnoPlano, empresa portuguesa. Estive com o presidente mundial da TecnoPlano, que prontamente se colocou à disposição para entrar neste desafio.

Desenvolvemos um projeto já em 2014, que era o terreno cedido pela Prefeitura. Tinha desafio grande pela topografia do terreno, já tínhamos estimado custo entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões para estabilizar. Esse ano o Vasco o perdeu, fomos identificar outro terreno. Readequamos o CT a essa nova realidade. Estamos trabalhando com orçamento final para esse CT. Em termos de obra e equipamento calculamos algo em torno de R$ 17 milhões. Obra, equipamento e terreno.

Esse dinheiro vem de orçamento previsto próprio e outra parte de parceiros. Um clube como o Vasco, com faturamento de R$ 300 milhões, é impensável que não consiga estruturar finanças suficientemente robustas para fazer investimento desta ordem. É um valor muito baixo para o retorno que um CT traz. Se imaginar que um menino que consiga desenvolver na base é vendido por 6 milhões de euros, o investimento está pago por 15, 20 anos. É falta de prioridade e de planejamento, não é falta de dinheiro. Definitivamente.

Qual o planejamento para São Januário? Acredita que o estádio precisa de uma remodelação?

Nossa equipe esteve lá fazendo estudo de engenharia e detectou importantes necessidades estruturais no estádio. Emergenciais, eu diria. A gente precisa reformar e aumentar a capacidade para cerca de 33 mil lugares. Tem uma série de medidas a curto prazo que podem ser feitas rapidamente e custam pouco.

Essa ampliação é uma nova etapa. A mesma empresa, TecnoPlano, está fazendo o projeto. Colocamos uma ordem de investimentos entre R$ 110 milhões e R$ 120 milhões. Com isso, a gente fecha o anel, coloca uma nova cobertura em todo o estádio. Fazemos novos camarotes. A gente não quer que o torcedor seja afastado, mas que vá ao estádio. Sabemos que nossa torcida flutua entre classes B e D, então não podemos colocar ingresso a R$ 70, R$ 80. Precisamos fazer um mix que permita que o cidadão possa pagar R$ 600 reais e ter serviço desse nível, e cobrar R$ 8, R$ 10 para que a pessoa possa curtir com a família.

Quais os planos para o departamento de marketing e para alavancar o programa de sócio-torcedor?

A gente tem projeto que é criar a Embaixada do Almirante. Além do objetivo de levar o Vasco mais próximo à torcida, tem como meta fazer com que nosso sócio se sinta próximo do Vasco. Tem três formatos: um pequeno quiosque para o cara tomar uma cerveja que patrocina o clube, ver um jogo ou jogos do passado, resenhando com torcedores. Outro maior, com loja, venda de material, no estilo de um bar, programa de associação. E o formato maior, com telão, formato de arquibancada para as pessoas assistirem ao jogo, restaurante, e um campo society para o sócio jogar uma pelada na embaixada.

A gente quer usar nossos ídolos como embaixadores do Vasco. Um calendário anual onde esses jogadores vão circular nas embaixadas e assistir aos jogos com os sócios. Um formato que privilegie o sócio.

Como é possível recuperar as finanças do clube? Hoje em dia é possível saber o tamanho da dívida?

Hoje, de fora, é impossível (saber a dívida). O que sabemos é que os custos do Vasco subiram de forma muito forte e houve queda significativa dos recursos do clube. O único recurso foi de TV. O patrocínio da Caixa caiu. O que observamos é que as despesas aumentaram, e as receitas diminuíram. Isso não termina bem. Outro detalhe importante é que no balanço de 2016, o Vasco reconheceu a dívida com um empresário: R$ 20 milhões. Isso representa 5% da dívida total do Vasco. Algo significativo, que assusta. Fora aquilo que a gente não sabe. Isso é assustador.

O número na época do Roberto Dinamite era de R$ 520 milhões de dívida, dos quais 50% de pouca possibilidade de gerir, porque vinha sendo renegociado. Se juntar tributário e trabalhista, isso perfaz total de 50% da dívida do Vasco. Metade do que está lá não tem como mexer. A outra metade temos que analisar com muito cuidado. Queremos que o mercado perceba que estamos fazendo com responsabilidade, transparência e credibilidade. Não queremos dar calote. Queremos que o mercado perceba como uma reestruturação de dívida.

Existe um espaço muito grande para a gestão, independente de grandes novas receitas. Existe um ganho operacional dentro do Vasco. O Vasco ganha R$ 300 milhões. Como é aplicado esse recurso? É isso que a gente quer emprestar para o Vasco. Essa experiência em reorganização e reestruturação de empresas.

Quais medidas pretende implementar a curto prazo para o futebol profissional e na base?

A gente tem no grupo caras fenomenais que vivem o Vasco desde que nasceram: Pedrinho e Felipe. Pedrinho traz para a gente uma visão de futebol muito apurada. São nossos grandes apoiadores, mas um apoio técnico, não político. Essa integração de base com o profissional, minerar talentos para o profissional, é a nossa grande prioridade. Entendemos que hoje existe um trabalho no mínimo medíocre, do ponto de vista mediano.

Queremos mesclar fortemente a base com o profissional. Queremos uma meta para os nossos executivos que pelo menos 33% dos jogadores do time profissional sejam da base. Montar um time com profissionais que fazem diferença em algumas posições e mesclar, dar exposição aos meninos da base com profissionais de qualidade e num ambiente profissional. Com isso vai expondo esses meninos de forma controlada, vendo se têm ou não condições de jogar ou se vão para o mercado. Mas você começa a fazer uma peneira muito mais dentro da realidade do clube. É a junção da necessidade do dia-a-dia com projeto de mercado da base.

Em Portugal existe uma função chamada de metodólogo. É o cara que formata a metodologia de trabalho de um determinado grupo. Esse é um profissional que tem poucos no Brasil e não aparece. Montar uma metodologia de trabalho para que a filosofia seja implementada ali dentro. Já conversamos com profissionais de Portugal, porque os melhores da Europa estão em Portugal. A gente quer aproveitar que o Vasco é um clube de colônia, que tem proximidade cultural, a língua portuguesa, para fazer mescla de metodologia e talento. Fazer funcionar para que o Vasco tenha algo diferente em alguns anos.

Há muitas críticas à sua participação como conselheiro neste triênio. Qual é a sua autoavaliação?

Eu me daria nota 8, dentro da realidade do que poderia ser feito. Quando nos elegemos em 2014, nós tínhamos um conselho de 30 pessoas da oposição já muito fragmentado, em função da grande união que fizemos. Mesmo assim, conseguimos alinhar uma série de posições. Existe dentro do Vasco uma prática de dar pouca voz à oposição; é difícil falar numa reunião. Porque o Conselho Deliberativo, que deveria ser instância teoricamente independente, no fundo é 100% controlado pelo presidente.

Nós fizemos trabalho de oposição muito forte até hoje. Todas as ações na Justiça que ingressamos, não perdemos uma. Em todas as reuniões do conselho eu tenho me posicionado. Temos feito um trabalho jurídico dentro do Vasco. Nosso foco foi o processo eleitoral, com o objetivo de pegar as informações que são feitas dentro do Vasco e jogar para a Justiça. Não dá para atuar em todas as frentes. A principal frente é o processo eleitoral, e foi nossa decisão trabalhar exclusivamente nisso. São as ações que estão saindo agora.

Outros candidatos apontam o que consideram sua pouca vivência no Vasco. O que tem a dizer?

Se a gente olhar a política do Vasco, não participar é um ponto extremamente positivo. Vivência de política é uma coisa, de clube é outra. Conheço o Vasco desde que me conheço por gente. Meu pai é sócio, meu irmão, meu avô, eu também, desde os 10 anos. Vivo o Vasco desde que sou pequeno. Morei a vida inteira na Zona Norte, no Méier, nossa vida no fim de semana era ir a São Januário, muito mais para curtir o clube do que para ver jogo.

Minha vivência é de 40 anos. Política, graças a Deus, eu não vivo. Porque é horrorosa, de extremo baixo nível. Você pega o currículo de meia-dúzia lá dentro e não seria estagiário de uma grande empresa, quanto mais vice-presidente do Vasco.

Qual será a participação de Edmundo, Felipe, Pedrinho e Mauro Galvão na gestão?

Edmundo terá participação zero com cargo. Ele não vai ter cargo. Eu quero trazer o Felipe, o Pedrinho e Mauro Galvão. Não definimos o cargo, o foco agora é outro, é o projeto. Trazer a visão do Pedrinho de sua vida toda no Vasco, de futebol com a característica do Vasco, mas com visão moderna. Eles foram grandes jogadores, mas têm relacionamento no mundo todo do futebol. Literalmente. A gente quer esses caras com a gente. Ter um cara como Felipe, Pedrinho no vestiário dá uma tranquilidade para quem está na posição de gestão que nossos concorrentes não têm.

Eles foram convidados e estarão dentro da gestão, trabalhando no futebol. Gostaria muito que o Pedrinho fizesse a ponte que falei, essa integração entre base e profissional. Vejo o Pedrinho como o grande nome. Uma ponte filosófica, que traz para a molecada a visão de como se deve vestir a camisa do Vasco.

Como foi alinhada a união com Campello? Como será dividida a gestão em caso de vitória?

Nós sempe idealizamos a verdadeira união. Não a adesão. Esse sentimento de resgatar o Vasco foi construído com base na confiança e no respeito das duas chapas. O desejo do torcedor vascaíno motivou essa união pela vitória. Com essa força, vamos juntos para ganhar a eleição dia 7

É possível vislumbrar a presença de outros grupos na sua gestão em caso de vitória?

A gente entende que, acabou a eleição, o Vasco precisa ser pacificado, unido. O que a gente vê é que todos os grupos têm profissionais de grande qualidade. Pessoas que podem e devem colaborar, e serão chamadas a colaborar. Sem exceção. Todos os grupos serão chamados a colaborar com esse processo a partir de 2018. Não só aqueles que se unirão com a gente, mas outros que têm profissionais de grande competência serão chamados.

Porque não é um projeto do Julio Brant, mas do Vasco. Tem que começar em 2018 e ir até 2030. É um projeto de longo prazo. Precisamos olhar no curto prazo, mas também para frente. Onde queremos chegar? Qual a nossa meta? O que o Vasco quer ser daqui a 15 anos? Precisamos olhar e criar as bases para que ele possa ser executado ao longo desses anos. Quem vai fazer isso? Nós, os vascaínos, todos.





Fonte: GloboEsporte.com