Diretor da base, Álvaro Miranda fala sobre o Certificado de Clube Formador que o Vasco recebeu
Quarta-feira, 06/09/2017 - 08:44
O Vasco conseguiu no fim de agosto o cobiçado Certificado de Clube Formador de Atletas dado pela CBF aos clubes que seguem uma série de regras estabelecidas pela Lei 12.295/11, a Lei Pelé. A conquista é considerada um marco para a equipe cruz-maltinos, que agora tem mais segurança e o direito de assinar contratos de formação e ser indenizado pela transferência de atletas a partir dos 14 anos de idade. A expectativa é de que não necessidade de assinar vínculos profissionais com 16 anos represente uma boa economia.

Para conseguir o certificado, o Vasco precisou atender a uma série de exigências, como apresentar a relação dos técnicos e preparadores físicos, comprovar a participação em competições oficiais em todas as categorias, detalhar os programas de treinamento e proporcionar assistência médica e educacional aos atletas.

Na avaliação do diretor geral das categorias de base, Álvaro Miranda, a mudança da estrutura da base de Itaguaí para São Januário foi fundamental. O Vasco é o último dos grandes do Rio (além do Nova Iguaçu) a conseguir o certificado.

Confira a entrevista com Álvaro Miranda:

Qual o principal benefício que o certificado proporciona ao Vasco?

O benefício é uma segurança perante os órgãos, a CBF principalmente, em relação aos nossos contratos de formação. Você diminui um custo gigante pela não necessidade hoje de fazer um contrato profissional. Hoje, em virtude da conquista desse certificado, podemos fazer um contrato de formação, cujo custo trabalhista é menor e não há necessidade de se pagar uma rescisão caso o atleta não consiga atingir o que consideramos ideal. O contrato de formação dá a mesma segurança que o contrato profissional.

O que o Vasco precisou fazer para obter o certificado? Quais foram as exigências?

Antes de atendermos todas as exigências da CBF, tivemos que reconstruir toda a base do clube, reformando a Pousada do Almirante e trazendo toda a estrutura do departamento de futebol amador novamente para São Januário. Tínhamos que fazer os atletas entenderem a grandeza do Vasco e valorizarem a oportunidade de vestir essa camisa.

São várias as exigências, desde proporcionar assistência médica a todos os atletas, até comprovar a participação em competições oficiais de todas as categorias. Tivemos que apresentar também um programa de treinamentos de toda a base, além de apresentar a relação de técnicos e preparadores responsáveis pela orientação e monitoramento de todas as nossas equipes. É um documento de mais ou menos 300 páginas, o que mostra que hoje temos um corpo técnico totalmente capacitado e preparado para trabalhar em nossa base.

O certificado facilita que o clube receba os valores correspondentes ao mecanismo de solidariedade da Fifa?

Não que facilite mais, mas de certa forma você passa a ter mais respaldo, porém não interfere diretamente no recebimento do mecanismo de solidariedade. Por mais que a gente não tivesse o Certificado de Clube Formador, tínhamos formas de ser beneficiados por essa regulamentação, provando a origem do menino, com quantos anos ele chegou e quanto tempo permaneceu no clube. Mas é sempre bom, de uma maneira ou outra, te dá respaldo, traz credibilidade ao trabalho.

A criação da metodologia da base ajudou de alguma maneira no certificado?

Na verdade, o certificado ajudou mais na criação da nossa metodologia, pois conseguimos esmiuçar todo o clube e através disso começamos a criar uma linha de trabalho em todos os segmentos. O Vasco possui hoje um Currículo Metodológico, que considero um divisor de águas em relação ao trabalho desenvolvido na nossa base. Há 14 anos, quando eu comecei a estudar e me preparar para ser um profissional de futebol, eu já alimentava esse sonho de criar um Currículo Metodológico do Vasco da Gama.

É uma coisa que diversos clubes do mundo e alguns do Brasil possuem. Não é uma robotização, mas uma padronização do trabalho na base do Vasco, onde qualquer profissional que vier a trabalhar aqui, seja amanhã ou daqui a dez anos, tenha um linha para seguir, desde o trabalho físico, com todos os testes e variáveis, até os trabalhos técnicos, sistemas e modelos de jogo.

Eu tenho certeza que o Vasco vai colher frutos no futuro. Os resultados foram significativos nos primeiros dois anos que implementamos. Além de vitórias no campo, tivemos resultados também fora das quatro linhas, com ganho de conhecimento por parte dos atletas e dos profissionais. A gente costuma dizer que o Vasco não forma só atletas, mas profissionais"

O que o Vasco precisa fazer para manter o certificado? Tem risco de perdê-lo no futuro?

Precisamos continuar atendendo todos os requisitos necessários, não deixar que nenhuma das exigências deixe de ser cumprida. Em relação ao risco de perder o certificado, daqui a dois anos os órgãos farão um novo levantamento, até para ver o que mudou e o que foi incluído no projeto que encaminhamos. Acredito que o pior já passou. Tivemos que fazer todo um trabalho de reconstrução da base e, até mesmo por isso, demoramos um pouco para conseguir esse documento.

Hoje oferecemos uma estrutura à altura da grandeza do clube para as categorias de base, que estavam abandonadas e largadas em Itaguaí. A nossa missão era transformar o Vasco novamente em formador, algo que sempre foi ao longo de sua história. Ainda precisamos fazer muita coisa, temos consciência disso, mas a chegada desse documento mostra que estamos no caminho certo.



Fonte: GloboEsporte.com