Ídolo do Vasco, Pedrinho completa 40 anos nesta 5ª-feira
Quinta-feira, 29/06/2017 - 11:39
O 29 de junho é marcado na tradição religiosa brasileira como o dia de São Pedro, o homem que deu sua vida para levar adiante uma causa que acreditava e que se sacrificou em uma cruz por não deixar de confirmar sua crença. Na tradição entusiástica vascaína, este dia é o de Pedrinho, o garoto que cresceu em São Januário, entregou seu amor por uma camisa e que, mesmo nas maiores dificuldades, nunca negou a Cruz-de-Malta: Pedrinho, um craque que só não chegou mais longe por causa de uma carreira marcada por muitas lesões em campo e que segue sendo lembrado por torcedores de todos os clubes, está completando 40 anos.

Pedro Paulo de Oliveira nasceu em 29 de junho de 1977. Oriundo do bairro de Vista Alegre, na Zona Norte carioca, o craque já demonstrava logo cedo o que queria: jogar futebol. Aos seis anos, chegou ao Vasco da Gama para jogar, inicialmente, futsal. Lá, conheceu um contemporâneo do qual nunca mais se separou, o menino Felipe. Pedrinho não sabia, mas nunca mais se separaria do amigo. A primeira guinada na carreira veio em 1989, quando ambos brilhavam no salão, mas ganharam a chance de ir para o time infantil, que ia para uma excursão no Japão. Como havia vagas em aberto, eles foram convocados. E Pedrinho chegava ao time de campo cruz-maltino.

Daí em diante, o habilidoso meio-campista não deixou de mostrar seu grande talento na base. Primeiro, fez parte do time campeão carioca sub-17, em 1992. Em 1995, foi campeão carioca de juniores e do Torneio Octavio Pinto Guimarães. A primeira oportunidade profissional surgiu naquela mesma temporada. Em 12 de outubro, ele surgiu no time principal pelas mãos do técnico Zanata, para um jogo do Campeonato Brasileiro, contra o Palmeiras. Vestiu a camisa 10 em uma derrota por 1 a 0, em São Januário. Era o início de uma trajetória de muito sucesso no time profissional, aos 18 anos.

Numa altura em que ainda se revezava entre profissionais e juniores, Pedrinho acabaria se tornando um dos pilares da montagem de um dos elencos mais emblemáticos do Vasco em sua história. Em 1997, ele foi promovido em definitivo ao elenco principal, comandado por Antônio Lopes. Já tinha feito até gol, contra Coritiba e Criciúma, no ano anterior, chegando motivado a um time integrado por feras como Edmundo, Carlos Germano, Juninho, entre outros. No começo daquela temporada, foi vice-campeão carioca, mas se recuperaria com um grande Campeonato Brasileiro.

Foram 13 gols em 61 jogos naquela temporada, incluindo alguns marcantes, como o de uma vitória em casa diante do São Paulo, no Brasileirão, após passe de calcanhar de Edmundo. Ou o gol solitário no clássico sobre o Flamengo, na mesma competição, em que chutou com força, de longe, uma característica que lhe rendeu comparações até com o grande ídolo Roberto Dinamite. No fim do ano, veio a consagração com o título brasileiro do Vasco.

1998: glória e o ínicio de um drama

A temporada de 1998 prometia ser ainda melhor para Pedrinho e para o Vasco. Ele passou a ganhar ainda mais espaço no time, que vinha com grande força para disputar o Rio-São Paulo e a Libertadores da América. O ano começou com uma grande campanha vascaína no Carioca e Pedrinho dando show, ao lado de algumas caras novas no elenco, como Donizete e Luizão. Na competição sul-americana, foi do meia a responsabilidade de decidir o confronto das quartas-de-final contra o Grêmio, marcando na ida (1 a 1, no Olímpico) e na volta (1 a 0, em São Januário).

No fim, veio o sonhado título da Libertadores e Pedrinho já entrava na história ao ter faturado competições estaduais, nacionais e continentais com apenas 21 anos. Mas aquele ano ainda renderia um grande drama para o meia canhoto. No fim de agosto, ele foi convocado para o amistoso da Seleção Brasileira contra a Iugoslávia, o primeiro jogo do time nacional após o fracasso na Copa do Mundo da França e que representaria uma grande renovação na equipe. Ao seu lado, Felipe e Odvan também foram chamados.

Porém, o Vasco ainda teria outros dois compromissos antes do jogo da Seleção; O último deles, em 6 de setembro. No Rio, o Cruzeiro seria o adversário, pelo Brasileirão. Pedrinho, como sempre titular. Logo no início, em um lance pela esquerda, ele foi atingido por um carrinho do cruzeirense Jean Elias e saiu chorando de campo. O drama evidenciava uma lesão grave. Nem os gols de Sorato e Nélson, na vitória por 2 a 0, amenizaram o clima. Depois, a confirmação: rompimento nos ligamentos do joelho direito. Pedrinho estava fora da Seleção, do restante do Brasileirão e da decisão do Mundial de Clubes, contra o Real Madrid (ESP). Era o começo de uma via-crúcis que não terminaria tão cedo.

Ainda lamentando muito a grave lesão, ele chegou a dizer ao "Jornal do Brasil" que faria de tudo para ver o Vasco de perto na decisão de Tóquio, três meses depois. Ele perdoou Jean Elias e recebeu até uma ligação de Gilberto, que mais tarde seria seu companheiro de Vasco, revelando que o zagueiro ainda estava consternado com o incidente. A primeira previsão dava conta de uma ausência de seis a sete meses para o craque, mas a cirurgia só aconteceu em outubro, pelas mãos dos médicos Clóvis Munhoz e Alexandre Campello.

A temporada tinha acabado, mas Pedrinho ainda veria as frustrações da eliminação do Brasileiro contra o Sport e a derrota para o Real Madrid na final do Mundial, esta última de perto, já que foi de fato ao Estádio Nacional de Tóquio, a convite da diretoria. Restava a esperança para a recuperação em 1999. O contrato já tinha sido renovado, por quatro anos. Mesmo ainda lesionado, ele esteve na pré-temporada em Nova Friburgo com o restante do elenco. No fim de março, voltou a disputar um jogo-treino e fez dois gols sobre o Duquecaxiense. Parecia questão de tempo a volta do jogador.

Títulos e frustrações: uma rotina na Colina

Na atividade seguinte, contra o Volta Redonda, o meia levou uma pancada no joelho machucado, sofrendo um derrame na região. Os médicos foram unânimes em decretar a necessidade de uma nova cirurgia. Mais seis meses fora, diziam eles. Enquanto isso, em campo, o Vasco seguia com um dos mais fortes do país. Apesar da derrota para o Flamengo na final do Carioca, o time foi campeão do Rio-São Paulo com Juninho brilhando, marcando em ambos os jogos da final diante do Santos. E Pedrinho seguia seu drama. Alternando-se entre trabalhos de fisioterapia e musculação, ele foi paciente e voltou aos coletivos no fim de 99. Agora, tinha Romário, vindo do Flamengo, ao seu lado.

A expectativa ficava pelo começo do Mundial de Clubes de 2000. Ele foi convocado para a competição, mas não jogou por conta de um estiramento na coxa. Se dizendo "magoado com o destino", o meia só voltou de forma definitiva em fevereiro, quase um ano e meio após o carrinho de Jean Elias. Quis o destino que sua reestreia fosse justamente contra o Palmeiras, adversário de seu primeiro jogo profissional. No Maracanã, entrou no intervalo do jogo, no lugar de Alex Oliveira, sob aplausos da multidão. Jogou bem, mas não evitou a derrota para os alviverdes. Era, no entanto, o esperado retorno, que daria a Pedrinho uma temporada para se lembrar.

Seu primeiro gol após a volta foi de cabeça, coisa rara, na vitória sobre o Bangu. Cinco dias depois, ele marcou nos históricos 5x1 sobre o Flamengo, na decisão da Taça Guanabara. Anotou de pênalti e pediu silêncio à torcida rival, em gesto lembrado até hoje pelos torcedores. No fim do jogo, quase apanhou aos fazer embaixadinhas para provocar os adversários, com a goleada já consolidada. Se o vice-campeonato carioca e do Rio-São Paulo amargaram a temporada, os títulos da Mercosul e do Brasileiro, naquele ano, também tiveram participação importante do craque, que só não foi titular absoluto por causa da dura concorrência dos Juninhos, Paulista e Pernambucano, no meio-campo cruz-maltino.

Até nas maiores dores, o Vasco esteve ao lado

O ano de 2001 marcou a primeira despedida de Pedrinho do Vasco, com o desmanche de medalhões que aconteceu durante a temporada. O meia acabou indo para o Palmeiras, onde jogou a reta final do Brasileirão. E a grande ironia do destino se repetiu: num Vasco x Palmeiras, em São Januário, o confronto que marcou sua vida, ele voltou a se machucar. Agora, rompeu os ligamentos do outro joelho, o esquerdo. Foram mais oito meses parado, até que voltasse aos poucos. Por lá, voltou à Seleção Brasileira e disputou um amistoso diante do Haiti. Ficou quatro temporadas em São Paulo, onde ganhou a Série B do Brasileiro, antes de voltar ao Rio, pelo Fluminense, onde quase não jogou.

Depois, esteve no Santos, foi para os Emirados Árabes e retornou ao Vasco. Na reta final de 2008, o já veterano Pedrinho teve pouco o que fazer para evitar o primeiro rebaixamento de seu clube de coração; jogou apenas oito jogos. Porém, sua expressão de desconsolo, nos minutos finais do jogo contra o Vitória (BA), foram o retrato da tristeza vascaína. Chorando copiosamente enquanto via o que parecia impossível acontecer em campo, colecionou mais uma frustração. Dispensado no fim do ano, nem teve a chance de reconduzir o Vasco à elite. Acabou indo parar no Figueirense (SC), mas tomou uma decisão drástica depois de apenas cinco jogos: iria se aposentar do futebol profissional, aos 32 anos.

Mas Pedrinho ainda tinha o que mostrar. Depois de dois anos, onde passou até pelo Showbol, ele recebeu um convite do Olaria e voltou atrás. Acabou contratado e reforçou o Azulão no Campeonato Carioca de 2012, onde teve algumas atuações sólidas. Parecia o fim definitivo, mas a última imagem de Pedrinho como jogador do Vasco não poderia ser a das lágrimas de dezembro de 2008. Por isso, ele foi convidado para disputar o amistoso de pré-temporada da equipe, em 2013, diante do Ajax (HOL). No mesmo palco em que estreou e onde viveu dois dos momentos mais dramáticos de sua vida, Pedrinho teria a oportunidade de voltar a vestir a Cruz-de-Malta.

Aos 35 anos de idade, vestiu a camisa 98, comemorativa pelo título da Libertadores, uma década e meia antes, com ele no elenco. Pedrinho voltou a mostrar um futebol digno de sua qualidade na vitória vascaína por 1 a 0. Agora sim, Pedrinho poderia dormir tranquilo. Depois de ser vascaíno por 218 vezes, com 47 gols marcados, o eterno ídolo enfim dava adeus à carreira de jogador. Porém, nunca se afastou da bola, virando mais tarde comentarista e, depois, treinador. Primeiro, foi auxiliar de Deivid no Cruzeiro e chegou a comandar um jogo da Raposa, em 2016. Depois, ao lado do amigo Felipe, chegou ao Tigres do Brasil, em 2017. A dupla chegou a trabalhar durante o Campeonato Carioca, mas logo saiu.

Se alguns grandes títulos escaparam de Pedrinho, como a glória do Mundial, se ele não se tornou o grande gênio que poderia ser, se não pôde ter uma sequência na Seleção Brasileira, ao menos ele ainda tinha o carinho daqueles que o viram crescer e se tornar um dos jogadores mais refinados a vestirem a camisa vascaína. Uma idolatria que só cresce com o tempo, através de bandeiras, faixas e gritos de torcida. Um craque imortalizado pelo amor de milhões de apaixonados por seu futebol e sua devoção a uma camisa.



Fonte: FutRio