Colega de Dinamite na base e no profissional do Vasco, Pastoril é hoje gerente de loja no MS
Segunda-feira, 08/05/2017 - 11:17
Há vida fora dos gramados. Exatos 26 anos depois de encerrar a carreira aos 38 anos de idade, jogando pela Sociedade Esportiva Ponta-poranense, de Ponta Porã, em 1991, o ex-meia-esquerda Pastoril, de 64 anos, ídolo do Vasco da Gama, Atlético Mineiro e do Operário de Campo Grande nas décadas de 1970 e 1980, garante que se sente feliz em ser reconhecido hoje simplesmente como José Alberto dos Santos, seu nome de batismo.

Sem nenhum embaraço ou vergonha pela nova atividade que realiza, o craque que em 1971, recém promovido das categorias de base do Vasco do Gama, quase foi trocado pelo então igualmente jovem e inexperiente Zico, do Flamengo, diz que encontrou uma função que, se não é a que sonharia, pelo menos é a que o tirou da ociosidade.

De exímio batedor de faltas, habilidoso e um verdadeiro mestre na arte de dominar a bola e criar espaços com seus lançamentos precisos, Pastoril virou gerente de uma loja de móveis, a Tapeçaria Art Moderna, no bairro Santo Amaro, em Campo Grande.

“Dou graças a Deus por ter amigos. Eu estava parado, sem nada para fazer, e aí fui convidado pelo meu parceiro Alex Loureiro, o popular Zé Galinha, para gerenciar a loja de tapeçaria, e aqui estou desde 2012. Não posso dizer que é onde eu gostaria de estar, mas estou feliz aqui”, disse Pastoril, sem esconder que seu desejo era continuar trabalhando no futebol depois que encerrasse a carreira de jogador.

A profissão de gerente de loja de tapeçaria o tirou da ociosidade, mas não lhe devolveu o status que tinha como jogador de sucesso. Longe disso, ele segue na dura realidade do cotidiano, mas sem arrependimentos nem sofrimento pelo ostracismo ou falta de dinheiro que a vida fora do futebol lhe proporciona.

“Não tive sofrimento quando parei de jogar e não tenho até hoje. O jogador tem que estar psicologicamente preparado, porque não é só se preparar para jogar, e preciso se preparar para parar. Quando chega a hora de parar é preciso encarar muito mais coisas que encaramos durante a carreira, e eu soube me preparar. Tive a sorte de ter o apoio da minha esposa, minha grande companheira”, ressaltou Pastoril.

Mineiro de Governador Valadares, Pastoril surgiu para o futebol nas categorias de base do Vasco da Gama em 1969, mesma época de Roberto Dinamite, maior ídolo da história vascaína.

“Eramos dois garotos surgindo da base, e o Paulo Amaral, que era o treinador do time principal, optou pelo revezamento para evitar pressão sobre nós. Quando eu jogava o Roberto ficava no banco, e quando o Roberto jogava era minha vez de esperar”, comentou Pastoril.

Em 1971, com 18 anos de idade, e disputado por Flamengo e Botafogo, o Vasco da Gama por pouco não concretizou uma troca com seu maior rival que poderia ter mudado não apenas a trajetória, mas o destino de dois craques do futebol brasileiro.

“O Flamengo insistiu para me contratar e fez uma proposta de troca pelo Geraldo (o meia Geraldo Cleofas Dias Alves, que morreu em 1976 aos 22 anos de idade em reação à anestesia para uma operação de amígdalas), mas o Vasco não aceitou. Diante da insistência do Flamengo, o Vasco topou fazer negócio nas seguintes condições: desde que a troca fosse pelo Zico. Aí o Flamengo não aceitou”, lembrou Pastoril.

No mesmo ano, ou seja, no dia 29 de julho de 1971, lá estava Pastoril no gramado do Maracanã, só que pelo Vasco da Gama, na estreia de Zico no Flamengo em jogo pela Taça Guanabara. O Flamengo venceu por 2 a 1, Zico jogou como ponta-direita e só se firmou na condição de titular a partir de 1974.

Ambos tinham praticamente a mesma idade, mas se Zico ainda era reserva do Flamengo, Pastoril já tinha seu lugar de titular no Vasco da Gama. Nesse dia, o técnico Paulo Amaral escalou o Vasco para encarar o Flamengo com Andrada, Fidélis, Moisés, Renê e Batista; Gaúcho (depois Benetti) e Pastoril; Jaílson (depois Valfrido), Ferreti, Dé e Rodrigues.

“Joguei em vários outros clubes do Brasil, mas sou muito grato ao Vasco da Gama pela oportunidade que o clube me deu no futebol. O Vasco faz parte da minha vida”, frisou.

Além do ídolo Roberto Dinamite, Pastoril teve vários outros astros do futebol brasileiro como companheiros na sua época de Vasco da Gama, mas um ele considera especial: o ex-atacante Tostão, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira na Copa de 70 no México.

“O Tostão é uma daquelas pessoas que você não encontra palavras para uma definição. Eu ainda era só um garoto e não abandonei o futebol porque o Tostão me convenceu a não desistir da minha carreira”, lembrou Pastoril.

Pastoril diz que lembra do episódio com tristeza. Em um jogo do Campeonato Brasileiro de 1972, contra o Santos, diante de um Maracanã lotado, Pastoril foi sacado no intervalo pelo treinador Mário Travaglini.

“Foi uma trairagem de um companheiro que prefiro nem citar o nome dele, mas vi quando ele desceu a escadaria do vestiário do Maracanã com o braço no ombro do Travaglini. Quando chegamos no vestiário, o Travaglini pediu para eu descansar. Fiquei muito chateado porque eu estava jogando bem, e o Tostão ficou os 15 minutos do intervalo conversando comigo”, contou o ex-jogador.

Em Mato Grosso do Sul - Do início de carreira no Vasco da Gama em 1971 até o seu último clube, a Associação Atlética Ponta-poranense, em 1991, foram 20 anos como profissional do futebol. Pastoril chegou para o Operário de Campo Grande em 1981, depois de defender o Mixto de Cuiabá, Goiás e Atlético Mineiro.

“Cheguei no Operário para o Campeonato Brasileiro. O Castilho (o lendário treinador Carlos Castilho) precisava de um canhoto que jogasse pela direita e eu consegui me encaixar. Fiz minha estreia com vitória de 2 a 1 diante da Desportiva, em Vitória, no Espírito Santos, e eu fiz um dos gols.





Fonte: Campo Grande News