Jorge Henrique fala da importância de levar os filhos às Paralimpíadas

Segunda-feira, 12/09/2016 - 05:32
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O sorriso não sai do rosto. Matheus Souza, de 16 anos, que teve paralisia cerebral por falta de oxigenação no cérebro na hora do parto, até tentou, mas era impossível esconder a satisfação que sentia de estar vendo um esporte voltado para ele. Beatriz Clem, a irmã mais velha de Matheus, que o cria desde que perderam o pai recentemente, e o cunhado Walter Carvalho não conseguiam esconder a emoção ao ver atletas com a mesma deficiência de Matheus plenamente felizes e realizados. Estavam todos, pela primeira vez, num mundo feito para eles.

— Ele acompanhou todos os jogos das Olimpíadas, mas não pudemos trazê-lo. Agora, estamos levando-o a tudo que podemos. Mais do que a gente dizer, agora ele sabe que pode fazer tudo — disse o Walter Carvalho.

Walter se emociona com a empolgação de Matheus ao falar do futebol de 7, esporte para paralisados cerebrais, como o adolescente. Beatriz e Matheus são irmãos por parte de pai e, quando este morreu, há quase dois anos, ela e a outra irmã assumiram os cuidados do jovem. Moradores de Campo Grande, Walter e Beatriz se esforçam para que Matheus tenha o melhor acesso a tratamento possível e ainda dividem a atenção com a filha de dois anos.

— Não é fácil. Mas nada na vida é. Ele faz tratamento e fisioterapia. Ainda precisa voltar à escola, mas trazê-lo foi muito educativo. Agora, ele sabe do que é capaz, se quiser — afirmou Beatriz.

Ontem, após ganhar medalha de prata, a judoca Lúcia Teixeira (até 57kg) da classe B2 (só enxerga vultos) lembrou da criação que teve e da possibilidade de inspirar outras pessoas.

— Fui criada como se enxergasse, minha mãe nunca me tratou de forma diferente. Eu fazia um curso, quando conheci uma atleta de goalball e ela me incentivou. Tive até que mentir para disputar minha primeira competição. Mas eu precisava provar a mim mesma que era capaz. Se uma das crianças que estão aqui hoje (ontem) se achar capaz também ao me ver na tatame, estarei feliz — disse Lúcia, emocionada.

Se é inspirador para quem tem deficiência, para quem não tem é fundamental. Com presença maior de crianças no Parque Paralímpico que nos Jogos Olímpicos, pais aproveitam para ensinar sobre inclusão a seus filhos. Foi o que fez o jogador de futebol Jorge Henrique. O atacante do Vasco e a mulher fizeram questão de comprar ingresso e levar os dois filhos para assistir ao goalball e a natação.

— Considero a Paralimpíada mais importante que a Olimpíada — afirmou Jorge Henrique. — É um exemplo de superação. Quis mostrar aos meus filhos o que é a vida de verdade. Certamente, eles vão sair daqui com outra cabeça. E eu também — disse o jogador, que tinha ingresso para a Olimpíada, mas optou por trazer a família apenas à Paralimpíada.

O mesmo sentimento deve ter levado um grupo de mães, moradoras da Barra da Tijuca, a se reunirem para levar os filhos aos Jogos. As três mães se conheceram no Colégio Sarah Dawsey, onde autistas, deficientes e portadores de síndrome de Down dividem a classe com seus filhos.

— Eles estudam, desde pequenos, em um colégio inclusivo. Para ele, não existe diferença entre elas e uma criança autista ou com Down. Para eles, é como alguém ser louro ou moreno. Eles percebem, às vezes, que um é mais reservado, ou precisa de mais tempo. E tentam protegê-los e tomam cuidados. Mas quem não é assim? Todas as pessoas, independente de qualquer coisa, são assim — disse Barbara Gomes, uma das mães.

Mesmo com os filhos estudando em uma escola inclusiva, elas fizeram questão levá-los para ver atletas com outras deficiências com as quais não estão acostumados. Elas queriam proporcionar diversão e inclusão.

— Na escola, eles não estudam com ninguém cego nem amputado. Minha (filha) menor, fez algumas perguntas sobre por que os atletas não tinham perna ou braço. Explicamos que alguma coisa aconteceu, ou nasceram assim, que a gente não sabia, e dissemos isso não tira a importante deles. E mostrava como nadavam melhor que a mamãe. E ela aceitou e ficou admirada — contou Barbara.

As seis crianças que estavam com o grupo se divertiam e torciam muito. Antes de ir às competições de natação, as mães as levaram para ver o futebol de 5 (para cegos). Admirados, os meninos contavam os lances:

— Meu favorito é o Ricardinho. Ele joga muito. Fez lances incríveis. Mamãe pediu várias vezes que fizesse silêncio, mas eu torci — confessou Gabriel, um dos filhos de Barbara.

Fonte: O Globo Online