Eurico Miranda: 'O único responsável pelo rebaixamento do Vasco sou eu'; confira a íntegra da entrevista coletiva

Segunda-feira, 07/12/2015 - 17:15
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Menos de 24 horas depois do terceiro rebaixamento do Vasco na Série A do Brasileirão, Eurico Miranda concedeu entrevista coletiva na sede do clube, em São Januário. O presidente assumiu total responsabilidade pelo rebaixamento do time e disse que a queda é uma mancha em seu currículo. Ao mesmo tempo, jogou a culpa pelo fracasso no que classificou como ''terra arrasada'', forma que diz ter encontrado o clube após a gestão de Roberto Dinamite.

Em uma hora de entrevista, Eurico falou sozinho na mesa da sala de imprensa de São Januário. Sob os olhares de seus vice-presidentes e de muitos jornalistas, o presidente lamentou a situação financeira do clube, anunciou a permanência do técnico Jorginho e do auxiliar Zinho, com quem se reuniu antes da coletiva, descartou qualquer afastamento da presidência do Vasco, criticou muito a arbitragem do Campeonato Brasileiro e comentou a famosa frase sobre a Sibéria.

- O único responsável pelo rebaixamento do Vasco sou eu. É uma mancha irreparável no meu currículo de 50 anos de clube. Eu esperava não ter de passar por essa situação. Encontrei o Vasco em um quadro que a gente pode classificar de terra arrasada. Achei que era uma situação difícil, mas foi muito mais difícil. Esse cidadão Roberto Dinamite passou sete anos no Vasco e não recolheu um centavo de imposto, um centavo de fundo de garantia, fora outras situações, mas basicamente essas, e me deixou ao assumir com três meses de atraso de salário, não só jogadores, mas do quadro funcional - disse Eurico.

Depois de confirmar a permanência da comissão técnica, o presidente comentou a situação de Nenê, que tem contrato até o fim de 2016. Segundo ele, o apoiador só deixa o Vasco para jogar no exterior.

- Já conversei com Jorginho e Zinho. O Nenê sair para o Brasil, nenhuma chance. Para o exterior, se for bom para ele, sou obrigado a cumprir.

O presidente Cruz-Maltino também falou sobre suas frases de efeito ao longo da temporada, como quando disse que iria para a Sibéria caso o Vasco realmente fosse rebaixado, e quando dizia que "comigo o Vasco não cai".

- Vou logo, para satisfazer a todos, os mais afoitos, porque eu tenho algumas frases, e frases de efeito. Não só é meu estilo, como que pela necessidade, eu tinha e tenho obrigação de levantar a autoestima para essa instituição. Todos ouviram e gostam de falar sobre isso, que eu afirmava que comigo o Vasco não cai. Evidentemente que você traz uma responsabilidade para você, mas levanta a autoestima. O Vasco continua e continuará sendo respeitado.

O elenco do Vasco se reapresenta no dia 6 de janeiro para a pré-temporada de 2016.

Confira a íntegra do pronunciamento:

''Terra arrasada''

- É evidente que esse tipo de coisa, quando a gente planeja e é o que todo mundo gosta, que é um time de futebol, não havia a menor condição da gente, sem regularizar essa situação, fazer os investimentos que seriam necessários para ter um time competitivo. A primeira coisa foi regularizar essa situação. Depois disso, ao regularizar essa situação, se isso tudo estivesse resolvido os nossos problemas, para que nós pudéssemos nos focar no futebol, no investimento do futebol, nós começamos a ter inúmeras surpresas, que apareciam débitos que precisavam ser sanados de qualquer maneira, vou citar só um: água. Tive que fazer parcelamento na ordem de 10 milhões de reais. Para não citar outros. Para demonstrar como se encontrou aqui uma terra arrasada.

Situação financeira

- E eu, que vejo muito mais a instituição do que qualquer outra coisa, tive que me focar para que a gente tivesse essa situação regularizada. Hoje posso dizer que o Vasco tem a sua situação fiscal plenamente regularizada, seus impostos são recolhidos normalmente, fundo de garantia recolhidos normalmente, e os salários estão em dia, até antecipados. Todo o quadro funcional já recebeu primeira parcela do 13º e o mês de novembro. E por que foi feito isso? Porque aprovam leis neste país e não as aplicam. Tem uma lei que diz que você para disputar uma competição tem que ter salários e impostos em dia. Aí você vê, alguns podem cuidar de outra coisa, deixar de pagar, não tem consequência. Nós tivemos essa obrigatoriedade.

Arbitragens

- Se mais não fosse, pode ser que tenha tido clubes prejudicados, mas ninguém foi mais pela arbitragem do que o próprio Vasco. Culminou para mostrar que isso era uma constante até no último jogo, tem um pênalti que não foi duvidoso porque todos disseram que foi, e não foi marcado. Evidente que isso foi em função de quê? Apesar de termos alertado, colocado por parte da CBF, nenhuma providência foi tomada. Eu digo isso não para justificativa minha pessoal, porque eu não uso desses artifícios. Falo isso em homenagem a um grupo de jogadores que se dedicou, à uma comissão técnica que se dedicou e que no final não teve o seu objetivo concretizado.

Responsabilidade

- Então eu quero deixar absolutamente claro e vou repetir: não passo a responsabilidade para ninguém dessa queda do Vasco, a responsabilidade é minha. Só estou fazendo algumas considerações porque tenho dever com a instituição, muito mais do que com a torcida do Vasco ou qualquer um. A instituição está muito acima de qualquer outra situação. Eu sei perfeitamente que eu não sou uma figura simpática aos críticos, até porque eu tenho por base comigo que só aceito a crítica daqueles que um dia sentaram na cadeira que eu sento. Não precisa ser na presidência, mas que algum dia administraram um clube de futebol, que conheceram dos problemas. Quero deixar aqui absolutamente registrado que atribuo a responsabilidade a minha pessoa, porque a demonstração que os jogadores e a comissão técnica me deram me deixou absolutamente satisfeito. Não quero que eles tenham nenhuma parcela de responsabilidade e culpa de algo que não queria levar comigo, mas vou ter que levar o fato de ter acontecido esse rebaixamento.

Criticas

- O Vasco foi vítima de um ex-jogador. Pode ter sido ídolo, grande jogador, mas como administrador foi uma lástima, uma lástima. E aproveitando que tem outros ex-jogadores que viram críticos, claro que não vão receber nem 10% do que receberam jogando futebol, mas hoje se afloram em críticos e passam a falar uma série de baboseiras de quem desconhece tudo. A única coisa que não vejo, deve ser algo de bom na imprensa, que é corporativismo. Jornalistas que tem que frequentar faculdade são obrigados a se submeter a ex-jogadores e passam a ser os grandes personagens da crítica. E ainda tem que bater cabeça.

Saúde

- Só queria fazer também uma observação porque a gente fica vendo uma série de comentários a respeito. Têm uns que afirmam que eu vou fazer tratamento nos EUA, outros que estou andando com dificuldade, cada um afirma uma coisa. Eu estou bem. Posso não estar 100%, até normal, mas estou bem. Nada que impeça que eu continue a honrar o compromisso que assumi a partir do ano passado. Então, aqueles que esperavam que eu pudesse chegar aqui querendo dar um tempo, me afastar, nenhuma chance. Vou ter que carregar isso para mim, e o Vasco sem dúvida nenhuma, sem nenhuma frase de efeito, vai retornar no lugar que é dele com certeza absoluta. Em termos esportivos pela Segunda Divisão, e talvez algumas coisas mais importantes venham a acontecer. Mas o comando continua, tenho a solidariedade de toda a diretoria e vamos continuar, dar a volta por cima. Para mim não é fácil em termos pessoais, porque é algo que esperava meu ciclo e isso não ter acontecido comigo.

Coletiva aberta para perguntas. Confira como foi a entrevista após o pronunciamento:

Erros

- Erro do Eurico Miranda foi não ter superado essa barbaridade de problemas que a gente enfrentou. Num clube como encontrei, como teremos condições de fazer investimento? Erros brutais de arbitragem foram feitos contra o Vasco. Onde a crítica se manifestou em relação a isso? Como se fosse normal? Claro que erros acontecem, mas sistemáticos? O que fizeram em relação a isso que viesse trazer algum benefício ao Vasco? Erro foi a gente não ter recursos para fazer lá atrás o investimento que a gente precisava fazer se fosse cuidar exclusivamente de futebol. Em termos prático, como vou fazer investimento na contratação de jogador se tenho três meses de salário atrasado? Se não tenho meus impostos em dia? Não tenho uma dívida dessa administração. Já que me perguntou, o Edmundo que hoje é crítico da Bandeirantes, pergunta se não está recebendo R$ 3 milhões parcelados. Quem fez a dívida? E outros dos ídolos. Esse Juninho (Pernambucano) é outro. Diz que jogou de graça, pergunta se não está executando R$ 2 milhões. Isso
precisa precisa ser pago. Posso citar uma série de justificativas, estou citando os que estão hoje na crítica, não sei como, só no Brasil um ex-jogador de futebol vira crítico, insuflados pela própria crítica de colocar ex-jogador para administrar clube. Como o Roberto Dinamite, que vai me obrigar agora. Tem umas contas que não poderiam ser aprovadas, mas vou precisar aprovar com ressalvas porque sem eu ter essas contas aprovadas o Vasco perde os benefícios de diversos incentivos. Tem clubes que têm incentivos do Ministério dos Espotes, da Federação Brasileira de Clubes e outras entidades há alguns anos. Primeiro, tive que regularizar para o Vasco ter condições. Aprovar contas que não poderiam ser aprovadas, vamos ter uma reunião amanhã para aprovar com ressalvas. Errar a gente erra, mas o erro básico foi a gente não ter condições de fazer investimento no time de futebol que precisava fazer.

2016

- Evidente que os problemas persistem, mas uma coisa posso garantir: a gente vai fazer basicamente... Esse ano que terminou agora em que estamos na presidência, eu não tenho problema nenhum em relação a esse ano. E com certeza não vou ter problema nenhum até o término do mandato. Vou cumprir rigorosamente o que necessito. A gora a gente tem tempo de se planejar no sentido de que não precisa resolver salários atrasados, planejar de acordo com que a gente orçar. Vejo o Vasco no próximo ano a primeira coisa que tem que ser feita é voltar, mas pode ter outras conquistas. De repente se planejando uma equipe que possa ter outras conquistas.

Celso Roth

- Não jogo responsabilidade para os outros, e também não considero erro. É uma forma de querer jogar culpa em A, B, C ou D. O Celso Roth foi contratado por ser técnico que eu considero de primeira linha e simplesmente não deu certo conosco, assim como eu trouxe o Doriva e acho que deu certo, tanto que chegou à conquista logo na primeira competição. E depois não conseguiu resistir a essas coisas do futebol e pediu para sair. Problema da comissão técnica, Jorginho e do Zinho, que formaram dupla. Jorginho veio para o Vasco porque só foi feita uma pergunta a ele: "Você acredita?". Disse: "Eu acredito". "Então você está contratado". É porque agora iria dizer que acreditava e no final não deu resultado? Não, já sabia a situação quando assumiu. Precisa de quê? Disso, disso... Tudo foi dado, trabalho foi bem realizado, mas... Essa história de erros, depois do bolo feito, quando a gente prova, aí alguém pode chegar e falar que faltou açúcar, teve ovos a menos... Mas depois do bolo feito não adianta ficar buscando. Concretamente o seguinte, Vasco foi prejudicado, isso foi dito às arbitragens, à CBF. Quanto aos que torcem contra, tem que estar habituados a esse tipo de coisa.

Projeto Série B

- Martín e Nenê são jogadores do Vasco, não preciso fazer projeto nenhum. São jogadores do Vasco até o final do ano que vem, sob contrato. Evidente que jogador só continua querendo continuar. Agora, são vinculados ao Vasco. Para sair do Vasco precisam ser liberados. Eu não tenho interesse de liberar. Os que têm contrato não tenho que fazer nenhum tipo de projeto parecido com esse (Jefferson no Botafogo).

Queda de receitas

- Não preciso estar preparado para esse tipo de coisa. Simplesmente libero ou não (jogadores com propostas). Pode vir assédio financeiro, proposta, depende da liberação. E quanto à queda de receita, não estou preocupado por uma razão simples: administrei durante um ano sem receita. Quando falei aqui, numa das minhas frases, que era milagre vascaíno, todas as receitas quando assumi estavam absolutamente comprometidas, mas administrei colocando tudo rigorosamente em dia. Não estou preocupado com possível queda de receita, a gente sabe como tem que buscar para atingir objetivo que tem que fazer.

Sibéria

- Falei em morar na Sibéria para ficar longe. Lógico, isso não é frase de efeito. Eu acho que se não fosse as razões que levaram a que isso viesse a acontecer, se eu não tivesse minha justificativa pessoal para o que aconteceu, não tenha dúvida que não ficava aqui um minuto. Não precisava ir para a Sibéria. Tem uns caras que devem estar tristes porque gostariam de ir comigo para a Sibéria até aqueles que têm problemas freudianos comigo. Aí estão tristes porque gostariam de me acompanhar lá para a Sibéria. Quando falei sobre Sibéria, poderia falar Groenlândia ou qualquer lugar mais distante. É que se eu não tivesse as razões que levaram a isso, se o que pude fazer não tivesse condições para evitar isso, não ficava aqui nem um dia. Quando atribuo responsabilidade a mim é a responsabilidade, mas não é a culpa. A culpa eu acho que já foi suficientemente explicado porque não se pode fazer o investimento para que isso não viesse acontecer no Vasco. Vou repetir pra ver se alguém consegue atentar pra esse tipo de coisa: eles todos comemoraram que ia ter uma lei que precisava de impostos em dia, salários em dia, se isso não acontecesse você seria rebaixado e não participaria da competição seguinte. Pelo menos isso daí a gente teve que cumprir e está cumprindo.

Culpa é do Dinamite?

- Não quero atribuir a culpa ao fato de como encontrei o Vasco. Ele passou sete anos no Vasco e encontrei uma terra arrasada. Responsabilidade é minha. Com licença da palavra, ele só fez lambança, levou a instituição à uma situação extremamente delicada, mas já virou comentarista.

Paulo Angioni e José Luis Moreira

- O Zé Luis é o vice de futebol, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Uma coisa são os vice-presidentes, outra são os profissionais. (Angioni) Não sei, a gente não definiu nada. Ele está aí, está no Vasco.

Contato com jogadores

- Evidentemente que não pode tirar o mérito da comissão técnica, do Jorginho e do Zinho, que souberam ali tocar. Agora, ao grupo de jogadores, quando sou reconhecido é porque logo que assumi tive uma conversa com jogadores e disse a eles que tinha dificuldades, mas iria cumprir. E nessa fase então, quando chegamos à ela, os jogadores assimilaram da minha parte é que eu sempre passei que acreditava no potencial deles, poderiam atingir objetivo, quando todos já achavam que tinha acabado. Isso que sou reconhecido ao fato de eles terem não só compreendido, como encarnado de que era possível com todos as dificuldades que tiveram na frente, revolta... Se vocês levantarem pontos que perdemos nesses 15 jogos de forma indevida era para eles terem desanimados, e eles não desanimaram.

Nenê

- Existe comigo compromissos só, para o Brasil nenhuma chance (de sair). Para o exterior, se me apresentar algo que seja situação boa para ele, sou obrigado a cumprir.

Planejamento

- Esses teóricos falam planejamento, como posso planejar quando não tem receita e só dividas? Primeira coisa é resolver as tuas dívidas. Isso foi o que aconteceu. Agora estamos diante de um fato. Seja qual planejamento for, é obrigatoriedade do Vasco voltar à elite do futebol. A outra que acrescentei, além da volta, outras conquistas podem acontecer. A gente não vai participar só da Série B, mas de outras competições.

Auditoria

- Auditoria é outro problema, está absolutamente paga, mas não pode fazer porque tem uma série de documentos que não conseguem encontrar. Como fazer se documento não existe. Mas continua em curso. A empresa se chama Ernst & Young, foi paga e foi cara, não é barata, não.

Verba da Caixa

- Nem a primeira (parcela foi recebida). É uma questão minha que estou querendo resolver. Não quero receber porque não vou dar dinheiro para vagabundo. Resposta direta é essa: não vou dar dinheiro para vagabundo, deixa eles lá. Esses vagabundos que expoliram o Vasco vão penar comigo para receber.

Teme ambiente hostil?

- Sempre fico falando isso, tenho cinquenta anos nisso. As críticas ao Vasco vão ter sempre. Ter hostilidade do crítico não causa nenhum prejuízo ao clube, a mim pessoalmente. Na CBF as críticas precisam ser feitas, e eles precisam saber da responsabilidade deles. Fiz críticas como faço à arbitragem, provei. Agora eu não tenho, por essas coincidências que acontecem, a CBF estava frágil. E quando você pega uma instituição fragilizada, vão sempre aparecendo esta ou aquela figura. E atitudes que deveriam ter sido tomadas não foram diante da fragilidade em que se encontram. Por exemplo, o movimento chamado Bom Senso, que defende entre aspas os jogadores de futebol. Jogadores tiveram uma conquista que se chama férias e o período de preparação, eles não se preocuparam com isso. De repente vão se preocupar com uma liga, aí não interessa calendário, descanso dos jogadores, não interessa mais. Quando você se posiciona, pode trazer prejuízo por parte dos outros, por parte dos adversários é só quem não conhece história. Faço minhas coisas sempre, estimulo rivalidade, mas têm muito poucos clubes que podem dizer que não ajudei, não têm memória. Estimulo a rivalidade, acho que Vasco depende dos outros e vou continuar assim. O Vasco é respeitado, cada palmo deste terreno aqui foi rigorosamente adquirido, tudo aqui dentro foi feito com recursos próprios. Com recursos próprios também, até abril vai estar instalado o Caprres, que está sendo feito com contrato com empresa Ambev, mas a aplicação é diretamente aprovada por nós. A gente está habituado historicamente a caminhar com nossos recursos, com o que a gente conhece.

Yago Pikachu e outras contratações

- Nada por enquanto. Toda vez que tiver notícia plantada por empresário não embarca porque não deve acontecer.

Postura do Fluminense no último jogo

- Não quero nem responder sobre isso porque já disse que não influenciou nem influencia nada em relação ao Vasco. Eles que continuem com a postura que devem ter.

Programa sócio-torcedor

- Quando falei que encontrei terra arrasada, foi também nesse sentido. O programa de sócio vai acontecer, não modifica em nada.




Vídeo



Fonte: GloboEsporte.com (texto, foto), Site oficial do Vasco (vídeo)