Matemáticos dizem que Vasco tem que tentar pontuar em todos os jogos e melhorar rendimento em casa

Terça-feira, 15/09/2015 - 11:29
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Dizer que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, hoje, pode tanto fortalecer quanto gerar crise na relação sempre conturbada entre matemáticos e torcedores. Vasco e Flamengo, cada qual em uma ponta da tabela, se espelham em exemplos do Brasileiro de 2009 para manterem viva a chama da esperança após a 25ª rodada, já que a frieza dos números não empolga o suficiente. Já o Fluminense tem o apoio dos estudiosos para tentar esquecer a derrocada de 2013, quando, em situação semelhante à atual, só escapou do rebaixamento porque a Portuguesa perdeu pontos pela escalação irregular do meia Heverton.

As chances de rebaixamento do Vasco seguem assustadoras, embora em queda: passaram de 98% para 96% após a segunda vitória consecutiva, contra o Atlético-PR. Já o Flamengo venceu a sexta seguida, contra a Chapecoense, e viu as chances de título aumentarem de 1% para 2%, enquanto a possibilidade de ir à Libertadores é de 50%.

— O Flamengo mantém seu viés de alta. É o melhor visitante do campeonato (21 pontos), mas apenas o 13º como mandante (20 pontos). Se levantar seu desempenho em casa, é forte candidato a uma vaga na Libertadores — afirma o matemático Gilcione Nonato da Costa, professor da UFMG — O Vasco não tem o que escolher: é o pior mandante e um dos piores visitantes. Todos os jogos são importantes, mas tem que pensar primeiro em vencer em casa.

Os rubro-negros mais otimistas começam a buscar na memória o Flamengo de seis anos atrás. Em 2009, o rubro-negro chegou ao hexacampeonato brasileiro após uma arrancada no segundo turno, partindo da sétima posição na 25ª rodada e alcançando a liderança no penúltimo jogo. Embora a colocação na tabela naquela ocasião fosse pior, a distância para o líder Palmeiras era de 8 pontos, contra os 13 que separam o rubro-negro do Corinthians em 2015.

À época, os confrontos diretos fizeram a diferença: no returno, o Flamengo empatou com o Internacional e venceu São Paulo, Atlético-MG e Palmeiras, todos concorrentes pelo título. Agora, ainda tem pela frente Corinthians, Atlético-MG e Grêmio, times que estão à frente na tabela.

— O confronto direto é importantíssimo para o Flamengo numa disputa por título. Já o Vasco, por exemplo, tem que pontuar de qualquer maneira em todos os jogos — compara o matemático Tristão Garcia.

LEMBRANÇA DE 2013 DEIXA FLU EM ALERTA

O Fluminense entrou em estado de atenção. Derrotado pelo Sport, na Arena Pernambuco, por 1 a 0, e com apenas 1 ponto nos últimos seis jogos, o tricolor tem o pior desempenho do returno. Perdeu sete das últimas dez partidas e despencou do G-4 para a 11ª posição. De acordo com o matemático Tristão Garcia, o Fluminense ainda tem 3% de chance de terminar o Brasileiro com uma vaga na Libertadores. A possibilidade de cair, por sua vez, é quase a mesma: 2%.

O mau momento lembra a derrocada em 2013, quando o tricolor brigou pelo G-4 no primeiro turno e caiu gradativamente ao longo do Brasileiro. O clube carioca acabaria rebaixado pelos resultados no campo, mas escapou do descenso após a Portuguesa perder quatro pontos pela escalação irregular do meia Heverton. Na 25ª rodada daquele ano, o Fluminense tinha a mesma pontuação que em 2015: 34 pontos. A distância em pontos para o G-4 e para o rebaixamento também eram idênticas às de hoje. Tristão vê o tricolor com menos chances de brigar na parte de cima, mas diz que o momento não é de desespero.

— O Fluminense vem mal há um tempo. Se hoje tem 2% de chance de rebaixamento e 3% de Libertadores, isso quer dizer que a maior probabilidade é terminar ali no meio da classificação, cumprindo tabela. A situação não é exatamente a mesma que em 2013 porque, naquele ano, na mesma rodada, o time tinha 8% de chance de terminar no G-4 — analisa Tristão.

— Se mantiver essa tendência de queda pode correr algum risco. É muito preocupante ter somado só um ponto no returno. No entanto, os times lá embaixo não tem um retrospecto tão bom para alcançar o Fluminense — pondera Gilcione.

VASCO TEM 12 PONTOS PARA ‘NEGOCIAR’

A arrancada do Fluminense em 2009, por sua vez, serve de exemplo para o Vasco. Assim como o tricolor após a 25ª rodada daquele ano, o clube de São Januário está hoje a oito pontos do primeiro time fora da zona de rebaixamento. Liderado em campo por Fred e Conca, o Fluminense venceu sete e empatou três nos últimos 10 jogos daquele Brasileiro, em reação que foi tratada como milagre.

— Seria interessantíssimo ver com o Vasco um fenômeno como aquele do Fluminense, para mostrar que estatística e probabilidade existem: se você tem 1% de chance, corra atrás dela — avalia Reinaldo Castro, professor titular da PUC. — As pessoas têm mania de colocar as coisas de forma muito determinista, mas se o Vasco tem 4% de possibilidade de de não cair, então ainda não caiu.

Para Reinaldo, o teste de fogo do Vasco neste ano será o mesmo adversário que serviu de divisor de águas para o Fluminense: o Cruzeiro, no Mineirão. Em 2009, no início da arrancada, o tricolor venceu os mineiros por 3 a 2 após sair para o intervalo perdendo por 2 a 0, pela 33ª rodada. O Vasco encara a Raposa nesta quarta-feira, às 22h. No primeiro turno, em São Januário, foi derrotado por 3 a 1.

— A melhor coisa para o Vasco é jogar contra um time que não tenha muita pretensão. É complicado enfrentar quem está lá em cima e também os que estão no mesmo barco. Se vencer o Cruzeiro, pode embalar — diz o professor, que calcula o que o Vasco precisa para se salvar com 46 pontos. — A grosso modo, o Vasco precisa de seis vitórias e três empates (27 pontos). Como são 39 pontos em disputa, isso quer dizer que tem 12 pontos para 'negociar'. Não tem que ver quantos pontos vai fazer, tem que ver quantos pode perder.

Fonte: O Globo