Léo Moura: 'Se um dia eu fosse jogar no Vasco, como já joguei, seria pelo lado profissional e familiar'

Quarta-feira, 12/08/2015 - 13:29
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Pelas mãos do maior ídolo, Léo Moura encontrou o caminho do recomeço. Sem jogar há dois meses, o lateral-direito se viu no meio da rivalidade entre Flamengo e Vasco após decidir deixar o Fort Lauderdale Strikers, dos Estados Unidos. Anunciado como reforço por Eurico Miranda, causou ira entre os rubro-negros. A volta ao Brasil, no entanto, seria mesmo pelo Coritiba. Nada disso foi possível. A Fifa não permite que um atleta defenda três clubes em uma temporada. O segundo semestre de 2015 estava comprometido. Até que surgiu Zico, surgiu o FC Goa, surgiu a Superliga Indiana. Em setembro, começa o novo desafio, mas antes o moicano fez questão de colocar o pingo nos "is": revelou o veto na Gávea, projetou retornar ao país em janeiro e não fechou as portas para ninguém.

- Quero voltar ao Brasil, independentemente do lugar. Vou ver o que vai ser melhor. Se tiver convite para jogar no Rio, quem sabe? Só o futuro vai mostrar - disse o lateral-direito, oficializado na equipe indiana na manhã desta quarta-feira.

E o futuro definido por Léo Moura aponta para, no mínimo, mais duas temporadas como profissional. Aos 36 anos, o lateral, que atuará no meio-campo na Índia, deixou o Flamengo no início de março, após quase 10 anos, 519 partidas e 47 gols. A aventura nos Estados Unidos, entretanto, não durou os três anos previstos em contrato. Depois de dez partidas, ele decidiu voltar ao Brasil. O baixo nível técnico encontrado e questões familiares teriam pesado na decisão. A primeira reação? Ligar para Gávea. A resposta, no entanto, não foi muito agradável:

- Quando sentei com minha mulher nos EUA e decidi voltar para o Brasil por questões familiares, o primeiro clube que procurei foi o Flamengo. Liguei para o (Alexandre) Wrobel (ex-vice de futebol) e falei da minha vontade, que ia voltar, passei tudo, e ele disse que falaria com o Conselho Gestor. Depois, liguei para o Rodrigo Caetano e aguardei. Quando cheguei ao Brasil, vi que o clube tinha contratado um lateral (Ayrton) e que não voltaria. Ouvi, ninguém me contou, o Fred Luz dizer que eu não voltaria ao Flamengo por questões políticas. Por isso, não voltei ao Flamengo.

Em busca de um novo clube, Léo Moura foi procurado por Goiás, Coritiba, Criciúma e...Vasco. O jogador não nega o contato com o rival cruzmaltino, mas garante ter passado a bola para o empresário Eduardo Uram, após ouvir sobre o interesse do vice-presidente e amigo José Luís Moreira. Surpreendido pelo anúncio da contratação pelo presidente Eurico Miranda, o lateral acredita que o desenrolar dos fatos tratou de amenizar os efeitos negativos do episódio:

- Isso causou um problema para mim. Muitas pessoas falaram sem saber, acusaram de todo lado, e o silêncio foi a melhor resposta. Ele falou do Ronaldo (Ronaldinho Gaúcho), que está no Flu. Falou de mim, e não estou no Vasco. Se um dia eu fosse jogar no Vasco, como já joguei, seria pelo lado profissional e familiar.

Em bate-papo de 30 minutos com o GloboEsporte.com, Léo Moura não se privou de dar sua versão sobre as negociações por um retorno ao Brasil, falou da expectativa de jogar em um país tão diferente culturalmente como a Índia e admitiu que só uma vitória da oposição nas eleições no Flamengo, em novembro, o faria voltar a sonhar com um retorno à Gávea:

- Com essa diretoria que está hoje, pelo Fred e pelo presidente, o que ficou bem claro é que não teria condição.

Confira a íntegra da entrevista:

Depois de toda polêmica que envolveu sua saída dos EUA e um possível retorno ao Brasil, você decidiu defender o FC Goa. Já são quase dois meses sem jogar. Como surgiu essa oportunidade?

- A ansiedade é grande para voltar a trabalhar, está chegando a hora. O Zico tinha me convidado e também o Amaury (Nunes), que saiu do Strikers e ajudou no contato com o pessoal da Índia. Como a liminar para jogar no Brasil não foi concedida, aceitei esse desafio. Trabalhar com o Zico vai ser uma honra. Tinha outros convites, mas não foi possível.

Qual a diferença que permite você defender o Goa, mas impedia o acerto com o Coritiba? Está tudo resolvido?

- Não poderia jogar no Brasil porque o campeonato começa na mesma temporada que nos Estados Unidos. Na Índia, a competição começa em outubro, já é outra temporada. Então, estou liberado para jogar. A Superliga começa dia 4 de outubro e termina no dia 20 de dezembro. Viajo para lá em setembro.

Com 36 anos, você projeta mais quantas temporadas jogando futebol?

- Quero jogar mais dois anos. A cada dia que passa, vejo o futebol de uma maneira diferente. Vejo que dá para jogar muito. Parar em um momento como esse é até precoce. Me preparo, me cuido e tenho total condição de atuar mais dois ou três anos, seja no meio ou na lateral. Estou indo para Índia jogar no meio-campo, mas, se precisar, posso ajudar na lateral também. Quero ser útil. Vou para esse projeto para ser importante.

Seu plano de carreira é voltar para o Brasil no ano que vem?

- O pensamento é esse. Voltar a jogar no Brasil, jogar em grandes equipes. Esse é o meu objetivo. Espero que apareça um convite no ano que vem.

Jogar em outro clube do Rio, que não seja o Flamengo, é uma possibilidade?

- Quero voltar ao Brasil, independentemente do lugar. Vou ver o que vai ser melhor. Se tiver convite para jogar no Rio, quem sabe? Só o futuro vai mostrar. Quando sentei com minha mulher nos EUA e decidi voltar para o Brasil por questões familiares, o primeiro clube que procurei foi o Flamengo. Liguei para o (Alexandre) Wrobel (ex-vice de futebol) e falei da minha vontade, que ia voltar, passei tudo, e ele disse que falaria com o Conselho Gestor. Depois, liguei para o Rodrigo Caetano e aguardei. Quando cheguei ao Brasil, vi que o clube tinha contratado um lateral (Ayrton) e que não voltaria. Ouvi, ninguém me contou, o Fred Luz dizer que eu não voltaria ao Flamengo por questões políticas. A vontade dele não era essa, nem do Bandeira. Por isso, não voltei ao Flamengo. Eles têm o direito e respeito. O conselho que manda no Flamengo decidiu que eu não poderia voltar. Aí, apareceram convites do Coritiba, do Criciúma, entre outros...

E você é capaz de identificar quais são essas razões políticas?

- Não consegui entender e não entendo. Pelo lado do torcedor é até engraçado. Por onde vou, sinto que a vontade e os pedidos são para uma volta. Respeito quem está jogando, mas escuto pessoas que passaram por lá, comentaristas, a torcida, que é a verdadeira voz do Flamengo, dizerem que teria condições para voltar.

Neste retorno ao Brasil em 2016, você vê possibilidade de um acerto com o Fla?

- Com essa diretoria que está hoje, pelo Fred e pelo presidente, o que ficou bem claro é que não teria condição. Agora, se outra diretoria entrar e o pensamento for diferente, vai caber a eles falarem. Minha vontade sempre foi jogar e encerrar a carreira aqui.

Depois de tanto tempo, você já digeriu bem a saída do clube e a forma como foi conduzida? Aponta alguém como determinante nesta decisão?

- A interferência foi total do treinador junto com a diretoria. Ele comandava o time e tinha o respaldo para fazer isso, que culminou com a antecipação da minha saída. Já tinha a proposta do Strikers desde janeiro, mas queria dar a resposta na pré-temporada, achava que a opinião poderia mudar. Quando se faz um contrato só até o fim de um campeonato, por três meses, vejo que alguma coisa negativa ia acontecer. Alguma maldade estava sendo preparada. Eles tiveram um mês após o Brasileirão para decidirem e já poderiam ter falado ali. Não tiveram coragem no momento, esperaram começar uma nova temporada. Aceitei porque quis, queria ficar. Meu desejo não era sair, esperava renovar até o fim do ano. Depois, pelo que foi acontecendo até na pré-temporada, achei que era o momento de sair. Até para não perder o respeito pelo ser humano.

E todo episódio com o Vasco? O Eurico chegou até a anunciá-lo como reforço. O que aconteceu de verdade?

- O Zé Luis (Moreira, vice geral) é muito meu amigo. Sempre falei com ele, dentro ou fora do Vasco. A amizade sempre foi muito bacana e falamos de todos os assuntos, não só futebol. Sempre tivemos essa liberdade. Quando o Vasco perdeu para o Sport, eu estava com o Strikers em São Paulo e ele dizia que tínhamos que nos encontrar no Rio. Me ligou e eu, realmente, fui falar com ele como uma pessoa próxima, amiga. Ouvi dele que a vontade era me levar para o Vasco por gostar de mim como atleta, por ver que eu tinha condição de jogar. Quando saí dali, pedi que entrasse em contato com o (Eduardo) Uram (empresário) para saber da proposta. No outro dia, o Eurico já tinha anunciado minha contratação. Isso causou um problema para mim. Muitas pessoas falaram sem saber, acusaram de todo lado, e o silêncio foi a melhor resposta. Ele falou do Ronaldo, que está no Flu. Falou de mim, e não estou no Vasco. Se um dia eu fosse jogar no Vasco, como já joguei, seria pelo lado profissional e familiar. Fui um ídolo do Flamengo e minha vontade era jogar lá, mas isso não iria acontecer. Passei por esse turbilhão de acusações, sou flamenguista, e achei que vestir a camisa do rival ia manchar minha carreira. Entendi isso e pude ver o que realmente represento para o Fla e a torcida para mim.

Você chegou a ter algum tipo de contato direto com o Eurico? O Romário falou que você pediu o telefone...

- Não tenho o telefone dele e nunca liguei para ele. Só falei com o Romário depois que já tinha falado com o Zé Luis pelo telefone. Aí, o Romário falou com o Eurico.

Tudo que aconteceu modificou sua relação com a torcida de alguma maneira?

- Não ficou nada. Primeiro, porque viram que o que o presidente do Vasco falou não aconteceu. A torcida sabe do amor e carinho que tenho pelo Flamengo. Nunca escondi isso de ninguém. Já joguei no Flu e tenho carinho pelos torcedores, pelos botafoguenses... Não tenho mancha com torcida nenhuma e nunca vou ter. Passou. O Vasco estava vivendo um momento difícil. O que recebo é sempre muito carinho e pedido de volta da torcida do Flamengo.

No Facebook, você postou algumas provocações ao Vasco recentemente. Essa postura, que você não tinha tanto quando dava entrevistas, tem relação com esta polêmica?

- São provocações de torcedor. Hoje, sou torcedor e falo por ali com amigos que também me zoam. É uma zoação sadia, sem desmerecer o clube. Isso jamais vou fazer.

Você foi para os EUA com um contrato longo e durou meses no Strikers. Por que decidiu voltar? O baixo nível do futebol te surpreendeu?

- Só tenho a agradecer ao Strikers. O projeto era crescer junto com a liga, o André Chaves (representante do clube) tinha me passado como era, mas quis ir ver. O nível está muito baixo e isso também pesou para eu voltar. Ainda mais depois de ter saído de um clube grande, acostumado a disputar e ganhar, ser campeão. Para o americano, ganhando ou perdendo, está tudo muito bom. Isso ainda não está dentro de mim, sou competitivo. Fora isso, não tenho do que reclamar do suporte que recebi. A qualidade de vida, então, nem se fala. Ainda brinquei com minha esposa de que vamos voltar a morar lá.

Desde que saiu de lá, já são dois meses fora do futebol. Como tem aproveitado essas férias forçadas?

- Estou aproveitando tudo. Há muito tempo isso não acontecia comigo. Está sendo muito bom por estar mais com a minha família, poder ver minhas coisas fora do futebol, o lado empresarial... Também estou jogando futevôlei e treinando. Está batendo a ansiedade para voltar a jogar.

Já pesquisou sobre o que vai encontrar na Índia? É um país muito diferente do Brasil culturalmente.

- O André (Santos) já tinha me passado, conversei com o Zico também, mas estamos indo trabalhar. Me disseram que a Superliga sempre tem estádio cheio, média de público acima de 20 mil, muita organização. Vou pensando nisso, só no futebol. Dificuldade há em todo lugar.

Para finalizar, receber esse voto de confiança do Zico, principalmente depois de toda polêmica, tem algum significado especial?

- Só agradeço a Deus pelo que preparou para mim. Depois de tudo que aconteceu, ter o convite de um cara que é meu ídolo e tem história no futebol... Poder tê-lo como treinador. Um cara mais entendido do que ele, não existe. Mostra que tenho qualidade para jogar, que posso jogar. Além de toda amizade e carinho, vejo pelo lado profissional e quero retribuir.

Fonte: GloboEsporte.com