Tia Aida, umas das fundadoras da TOV, morreu há 5 anos; relembre a vida de Aida de Almeida

Sábado, 11/04/2015 - 09:00
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Fazem hoje 5 anos que Tia Aida (1925-2010), uma das fundadoras da Torcida Organizada do Vasco, a TOV nos deixou para reforçar a nossa torcida lá no céu. Com certeza estarão junto conosco torcendo para ganharmos mais este campeonato. Saiba um pouco mais sobre ela e o Vasco nesta entrevista de 2005:

Aida de Almeida, Aidinha para os colegas, filha de pais portugueses, nasceu na Rua do Senado, no Rio de Janeiro, na mesma época em que o Vasco despontava para a prática do futebol, e poucos torcedores têm um passado tão rico de histórias do Vasco quanto o seu. Aos sete anos de idade já freqüentava São Januário levada pelas mãos de seu pai e, sentada na pista de atletismo que na época margeava o campo, assistia aos jogos junto às esposas dos jogadores, e vem dessa época sua paixão pelo clube.

Fundadora da Torcida Organizada do Vasco, que, poucos sabem, teve sua origem nas sociais de São Januário no ano de 1944, tia Aida, como é chamada por vários atletas, recorda com carinho aqueles que a ajudaram a fundar nossa primeira torcida, e que hoje infelizmente estão torcendo por nosso clube em outra dimensão: Madame Bartês, estilista de moda da época, Toni, os irmãos Mario e Margarida, as três irmãs Norma, Neide e Vilma, a amiga Idalina e suas filhas, e Tião, um grupo seleto de grandes vascaínos.

A idéia surgiu dos encontros que todos mantinham aos domingos quando não havia jogos. Eles se reuniam na casa de algum deles e das conversas surgiu o primeiro nome da torcida, que se chamava: “Torcida Uniformizada do Vasco”, posteriormente passando a se chamar “Torcida Organizada do Vasco”, a famosa “TOV”.

Nessa época, lembra tia Aida, tínhamos uma faixa que acompanhava a equipe que dizia: “Felicidade teu nome é Vasco”, que representava todo o orgulho que sentíamos por nosso clube. Quando da inauguração do estádio do Maracanã, em 1950, muitos não sabem porque nossa torcida sempre se situa do lado direito das tribunas. É tia Aida, uma das responsáveis por isso, quem explica:

– Foi no primeiro clássico contra o Flamengo, quando nosso grupo chegou ao final da rampa de acesso as arquibancadas e nos deslocamos para o lado direito e ouvimos a charanga do Flamengo tocando do lado oposto, mas como os torcedores não sabiam para que lado se dirigir, começou a misturar as torcidas, então combinamos, eu, Margarida, Idalina e Norma, de irmos até a subida da rampa, e nos reunimos com o Jaime de Carvalho responsável pela charanga pedindo que ele assumisse o lado esquerdo e levasse sua torcida, e nós ficaríamos com nossos torcedores do lado direito, como ocorre até hoje.

E parece que o lado escolhido trouxe sorte ao Vasco, pois nesse mesmo ano o clube se sagrou campeão estadual ao vencer o América de virada por 2 a 1, época em que Tião surgiu com a música que se tornou um símbolo da conquista e que a torcida saiu cantando do Maracanã.

“Zum, Zum, Zum,
Vasco dois a um,
Ademir pegou a bola
E desapareceu,
Osni tá procurando,
Onde a bola se meteu“.

Bastava trocar o nome do goleiro do América e a música, que virou canto da torcida, servia para embalar nossas vitórias.

Da rivalidade com o Flamengo surgiu o apelido de urubu, que até hoje inferniza os rivais, mas o que também poucos sabem, é que ele nasceu num jogo Vasco e Flamengo disputado à noite no Maracanã, onde as agressões verbais se limitavam a chamá-los de cachorrada, e foi nesse momento que surgiu a figura criativa de nosso Tião e profetizou:

“De hoje em diante vamos chamá-los de Urubu“.

E o apelido logo pegou, tanto que no jogo seguinte, um torcedor na geral levou um urubu e soltou-o no gramado para delírio da torcida vascaína.

Outra torcedora que tia Aida não esquece e representa um marco na história do Vasco, foi Dulce Rosalina, que ninguém tem conhecimento, mas foi trazida para a TOV por intermédio de tia Aida, que nos conta como tudo aconteceu:

– Estávamos em Teixeira de Castro, campo do Bonsucesso, e uma jovem sentou-se ao meu lado e vibrava muito com os gols do Vasco, foi quando eu a convidei para que fizesse parte da nossa torcida, e de tal maneira ela se dedicou e se apaixonou que tempos depois entregamos a ela a chefia da torcida. Ela era uma pessoa muito querida e educada, amava o Vasco acima de tudo, pelo clube ela se doou, deu a sua vida, deixou de cuidar de sua saúde, mas deixou o legado para todas as futuras gerações de vascaínos, de sua imensa paixão pelo Vasco.

Qual vascaíno não se lembra, ou pelo menos já não ouviu falar de Ramalho e seu talo de mamona, que levantava a torcida toda vez que adentrava as arquibancadas de São Januário, ou outro qualquer estádio, pois estava sempre presente em todos, e foi pela paixão pelo Vasco, que surgiu essa amizade que permanece por todos esses anos e que se solidificou através de um fato marcante ligado ao Vasco e suas conquistas, conforme relata tia Aida.

– Quando a delegação do Vasco viajou à Espanha para disputar o troféu Teresa Herrera, o mais importante torneio da Europa, nós torcedores não tínhamos como acompanhar a performance do time, a não ser por raras informações das rádios. Foi quando no dia da partida final do torneio, nos dirigimos à Radio Continental, onde o Grande Benemérito Mario Figueiredo, comandante da rádio, conseguiu entrar em contato com o Sr. João Silva, chefe da delegação que nos informou que o Vasco acabara de conquistar a taça, e no meio das comemorações, ainda na rádio, chegou Ramalho com seu talo de mamona e eufórico tocou-o para o Sr. João Silva ouvir na Espanha, junto ao nosso grito de guerra do CASACA!

Nesse momento, ele se aproxima de mim, colocando a mão no meu ombro, e me chamando de comadre. Eu não entendi nada e perguntei o porque daquele tratamento, foi quando ele me explicou: “Hoje nasceu minha filha e você vai ser a madrinha”.

Era muita emoção para um só dia, e antes mesmo de agradecer, fiz um pedido para que ela se chamasse em homenagem a nossa conquista histórica Teresa Herrera, no que fui prontamente atendida, e ela é só orgulho para todos nós, graças a Deus.

Já que falamos em Ramalho, nesse momento tia Aida se emociona, ao contar o que aconteceu há meses atrás com nosso amigo:

– O Ramalho passou mal e teve que ser socorrido às pressas, pois seu estado de saúde era crítico e precisava de tratamento urgente, e teria que ser internado, quando o desespero tomava conta de todos, se fez presente o coração bondoso de nosso Presidente Eurico Miranda, que mandou interná-lo imediatamente na Clínica Doutor Aloan, custeando todas as despesas, num gesto que engrandece o ser humano, e contribuiu para sua pronta recuperação, trazendo alívio para seus familiares, para mim e todos nós vascaínos. Somos todos gratos ao nosso Presidente, por esse gesto de solidariedade humana.

Outra paixão de nossa ilustre torcedora é o remo, que ela sempre acompanhava e onde nos áureos tempos do deca-hexa campeonato estadual, a vontade era de se jogar nas águas da Lagoa para comemorar junto aos atletas, as conquistas sempre em cima do rival. Saudade dos bailes de gala na Sede Náutica, dos carnavais no ginásio de São Januário, da alegria das conquistas, do Sul Americano de 1948, quando em férias com sua mãe em Minas Gerais, saiu gritando pelo hotel: “Meu Vasco é campeão sul-americano! Viva o Vasco!”

O tempo passa, e na memória ficaram aqueles jogadores que tanto a fizeram feliz: Pascoal, Oitenta e Quatro, Nestor, Belini, Rubens, Orlando, Vavá, o maior time do Vasco de todos os tempos, Barbosa, Augusto, Rafanelli, Eli, Danilo e Jorge, Friaça, Ipojucan, Ademir, Maneca e Chico.

Dos jogadores atuais, Romário tem um lugar de destaque em seu coração, por seus gols e sua conduta em ajudar o clube nos momentos mais difíceis, sem fazer alarde e por nunca ter falado abertamente dos problemas, que são normais em qualquer clube.

– Quando ele foi para o rival, me senti muito triste, como na época em que Ademir foi jogar no Fluminense, mas eles voltaram para minha alegria.

É importante que as novas gerações de vascaínos saibam que esse grandioso clube, tem uma história de luta, amor e dedicação, no meu caso, são quase oitenta anos torcendo pelo meu Vasco em São Januário, Maracanã, e já fui por esse Brasil todo acompanhando meu time, e peço a esse jovens torcedores, chefes de torcidas, que evitem brigas e confusões, pois nós que vivemos numa época onde havia mais respeito pelos adversários, tínhamos neles, não inimigos mas apenas adversários momentâneos, pois ao terminar os jogos era comum sairmos dos estádios todos juntos, havia muita gozação mas de forma sadia, sem agressões ou palavrões, e enquanto os vencedores bebiam para comemorar, outros bebiam para esquecer, mas todos juntos, comentando lances da partida.

Que saudades da Tia Helena (Fluminense), Tarzan (Botafogo), Jaime de Carvalho (Flamengo), Juarez (Bangu), chefes de torcidas que muito contribuíram para a beleza dos espetáculos com suas faixas e bandeiras.

– A violência afasta o público dos estádios, e é esta mensagem que eu gostaria de deixar para os torcedores.

Muito mais teríamos para registrar e deixar guardado em nossas mentes. É com satisfação que tia Aida diz que foi madrinha de várias torcidas do Vasco, muitas já não existem mais, mas se lembra orgulhosa que a Vasguaçu da amiga Sandra, ainda está presente aos jogos do Vasco. Mas orgulho maior é o nosso de termos uma torcedora como Aida de Almeida, um nome eterno no universo vascaíno.





Fonte: Cruzada Vascaína, Jornal do Casaca (janeiro de 2005)