Em nota, Identidade Vasco questiona currículo de Julio Brant

Sexta-feira, 03/10/2014 - 08:05
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O currículo do Bacharel da Estácio

2 de outubro de 2014 às 15:02
Wevergton Brito Lima*
Quem te manda a ti, sapateiro, tocar Rabecão?

Rifão Português

A arrogância é um dos principais defeitos que uma pessoa pode ter. Os grandes gênios são, em geral, pessoas simples, pois não precisam do escudo da arrogância. Julio Brant, candidato a presidente do Vasco, parece ter este defeito da soberba. Em recente entrevista, JB jactou: “Não existe entre os meus concorrentes ninguém com o currículo que eu tenho. Vamos comparar os currículos.” Este é o patamar em que o moço coloca a discussão.

Engana-se de várias formas o bacharel da Estácio. Seu currículo pode ser até bom, mas eleição não é concurso público. Mesmo em concursos públicos currículo é apenas um item da avaliação e existem importantes concursos em que currículo nem entra como critério. Em uma eleição o candidato deve mostrar (ou buscar mostrar) que tem ideias, projetos e que é capaz de liderar pessoas em torno de uma estratégia que o eleitor aprove.

Se possível o candidato deve mostrar uma trajetória que traga confiança ao eleitor sobre seus compromissos. JB, como se sabe, não tem trajetória nenhuma no Vasco (parece que só em 2014 ele descobriu que São Januário fica na zona norte do Rio). Como ele não tem uma trajetória e na falta também dos outros elementos, resta-lhe o “currículo”.

Nunca achei que o melhor meio de se avaliar um candidato seja analisando sua vida pessoal. Os itens que importam para mim são os que listei acima. “E honestidade para você não é importante? Afinal honestidade é uma questão pessoal”, dirá, com razão, a cativante vascaína que por acaso esteja lendo este artigo. Bom, honestidade é requisito até para simplesmente ser meu amigo, o que dirá ser meu candidato. Honestidade é obrigação, e se descubro que alguém é desonesto, a discussão acaba aí**.

Mas já que JB optou por este caminho de dizer que seu currículo é imbatível, me senti tentado a fazer uma pesquisa sobre o mesmo. A dificuldade começou por ele não ter “currículo lates”. Para quem não sabe, “currículo lates” é uma plataforma gerida pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que contém o registro do percurso acadêmico de estudantes, profissionais e pesquisadores do Brasil. JB só tem o Linkedin.

Enquanto o currículo lates é controlado pelo governo e você tem que se comprometer com um termo de responsabilidade garantindo a veracidade das informações, o Linkedin é uma espécie de Facebook. Embora formalmente você não possa mentir (como no Facebook também não poderia) ele aceita o que você escrever sem risco de nenhuma sanção.

O Linkedin do Julio Brant pode ser visto neste link: https://www.linkedin.com/in/jbrant?_mSplash=1

Uma rápida análise mostra o seguinte. JB iniciou sua formação universitária na Universidade Estácio de Sá, concluindo, segundo o que ele escreve “com honra”, um curso de Comunicação e Marketing no ano 2000.

Vejam bem, algumas das pessoas mais inteligentes e competentes que conheço se formaram na Estácio (que aliás, forma muita gente), mas elas são as primeiras a reconhecer que a Estácio não é um centro de excelência acadêmica. No Ranking de Universidades, ano 2014, da Folha de São Paulo (RUF), feito segundo o jornal em “bases de patentes brasileiras, em bases de periódicos científicos, em bases do MEC e em pesquisas nacionais de opinião feitas pelo Datafolha”, a Estácio é a 76ª colocada (entre 192 Universidades). O curso de Marketing da Estácio tem um desempenho bem melhor (14ª colocada). Mesmo assim fica atrás dos cursos de Marketing de duas universidades mineiras, sete universidades de São Paulo, duas gaúchas, uma baiana e uma do próprio Rio (PUC).

Percebam que a Estácio foi a MELHOR universidade brasileira que JB frequentou, pois ele menciona outras duas. Na Veiga de Almeida (124ª colocada no RUF-2014), ele fez graduação no curso de Administração (179º colocado no ranking de cursos de Administração do RUF-2014). Na Cândido Mendes (177ª colocada no RUF-2014) ele fez seu mestrado, que terminou em 2007.

Link do RUF 2014: http://ruf.folha.uol.com.br/2014/

Em relação às instituições de ensino estrangeiras, JB cita cinco onde fez algum tipo de curso. Mas em quatro delas os cursos foram de curta duração, pois ele coloca coisas como, por exemplo, “Kellogg School of Management - A Alma da Liderança, Gestão, Liderança”, e segue uma descrição do curso (provavelmente tirada do próprio folheto de propaganda do curso): “Inspire-se com ‘insights’ sobre a dinâmica de grupo, lealdade, criatividade, visão, segurança e realização, etc,etc.” Sobre a duração do curso aparece apenas: 2011 – 2011. Ou seja, não se sabe se o curso durou um dia, duas horas, uma semana... A única informação relevante é o mestrado de três anos feito no “Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa”, de Lisboa. Este instituto faz parte do Instituto Universitário de Lisboa. Por coincidência, no dia em que escrevo este artigo (01/10) foi divulgado o ranking mundial de Universidades da Times Higher Education (THE). Segundo o portal G1 este é “considerado um dos mais respeitáveis rankings de avaliação de produção acadêmica” do mundo (http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/10/brasil-fica-de-novo-fora-do-top-200-de-ranking-das-melhores-universidades.html). Pois bem, considerando-se apenas a Europa, são 178 universidades que aparecem no ranking da THE. Apenas duas de Portugal, Universidade de Lisboa e Universidade do Minho. O Instituto Universitário de Lisboa sequer é mencionado. Veja o link: http://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/2014-15/world-ranking/region/europe

Não vou endossar aqui o que disse um respeitável acadêmico a quem enviei o Linkedin do Julio Brant. Disse ele: “o currículo acadêmico deste rapaz para ser medíocre tem que melhorar muito”. Acho esta frase um tanto forte.

Afinal, o JB não tem (e talvez não queira ter) uma carreira acadêmica. Seu currículo profissional é, sem dúvida, expressivo. Trabalhou, pelo que diz, em quatro empresas: HSM Group, Vale, Odebrecht e Andrade Gutierrez. Existe aí uma coisa que chama a atenção. O Linkedin do JB continua ostentando o título de Vice-Presidente da Andrade Gutierrez. Mas quando você clica no “site da empresa” – dentro do currículo do Bacharel da Estácio - é remetido para o site da Odebrecht!

No site da Andrade Gutierrez (que não é mencionado no Linkedin do JB), na aba “quem somos/nossa gente” (http://www.andradegutierrez.com.br/QuemSomos.aspx#pessoas), aparecem vários integrantes da cúpula da empresa. Nada do JB. Entrei então na aba “região” e cliquei em “Europa” (já que em seu currículo o rapaz diz que é Vice-Presidente responsável pela região de Lisboa), mais uma vez nada do JB. Pesquisei também na aba “Empresa/AG África, Europa e Ásia”, com o mesmo resultado. Usei então o mecanismo de busca do site e coloquei: “Julio Brant”. Mais uma vez nada. Como tenho muita esperança no coração pensei: “podem ter errado o segundo nome” e coloquei só “Julio”. Mais uma vez, água. Que coisa, não é que eu peguei uma informação falsa, ou desatualizada, no Linkedin do JB? Desta forma, caro JB, com uma informação falsa ou desatualizada, seu currículo seria rejeitado por qualquer consultoria de RH, mesmo que você estivesse concorrendo a uma vaga de gerente do Bob’s.

Bom, o melhor talvez seja deixarmos de falar sobre este negócio de currículo. Eu mesmo não queria entrar neste assunto. Afinal, qual o currículo do André Sanches, que fez inegavelmente uma bela gestão no Corinthians? Já Luiz Gonzaga Belluzzo, este sim, com um currículo de monta, um dos intelectuais brasileiros mais respeitados no exterior, não fez uma gestão tão boa no Palmeiras (um palmeirense talvez use palavras mais pesadas para avaliar a gestão do Belluzzo).

Quando comecei a escrever pensei no início em falar sobre as verdadeiras intenções de JB no Vasco. Mas este artigo já está muito longo, deixo pra outra oportunidade. Faço apenas mais uma reflexão: a crise financeira que atinge o futebol mundial – e não só os clubes brasileiros como se pensa erradamente – faz com que muita gente boa pense em uma forma de fortalecer os clubes. Outros pensam justamente o contrário: transformar os clubes em meros instrumentos de oportunidades de negócio. Entre os que pensam assim vários são ex-jogadores de futebol, que podem arrotar “amor” à camisa mas cuja ligação com os clubes sempre foi na base da relação comercial. Estes ex-jogadores se acostumaram a ver nos clubes a galinha dos ovos de ouro, relação completamente diferente da que tem um torcedor genuíno que não só não ganha nada como está muitas vezes disposto a dar uma parte do que ganha para o clube do seu coração. O Vasco é uma boa oportunidade de negócios para homens de negócio associados a ex-jogadores ávidos por voltar a faturar com o futebol.

Termino com uma última observação sobre o currículo do JB no Linkedin. Na parte em que o profissional indica seus interesses pessoais fora do mundo corporativo JB lista: Rotary Club (!), viagens e futebol. Ele cita o Rotary Club, mas não cita o Vasco.

Parece que é como eu venho dizendo, o Vasco, mesmo nesta crise, tem atraído novos torcedores.

* Wevergton Brito Lima é jornalista, sócio do Vasco há 31 anos

** Julio Brant, por exemplo, é empreiteiro. De cada dez denúncias de corrupção no Brasil, dez envolvem empreiteiros. Mas não é por conta disso que eu faria qualquer juízo de valor sobre o caráter do JB, seria leviandade.

Fonte: Facebook Identidade Vasco