Vôlei Paralímpico: Esporte tenta crescer no Rio e o Vasco é a referência

Segunda-feira, 11/08/2014 - 07:28
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Modalidade pouco conhecida, mesmo entre deficientes físicos, o vôlei paralímpico (antes chamado de vôlei sentado) busca seu lugar ao sol. Na cidade do Rio, o único clube onde se pratica o esporte é o Vasco da Gama (no estado, também há a Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos — Andef ). As regras são as mesmas do vôlei tradicional, claro, com pequenas adaptações. Além de ser jogado sentado, tirar o quadril do chão é infração e pode-se bloquear o saque.

— O vôlei paralímpico ainda é pouco praticado no Rio, pois só existem esses dois núcleos, no Vasco e na Andef. É também pouco procurado ainda. Qualquer pessoa com deficiência de um ou mais membros pode praticar. Antigamente, era só dos membros inferiores — explica Lívia Prates, coordenadora de esportes paralímpicos do Clube de Regatas Vasco da Gama.

Neste fim de semana, os cruzmaltinos disputam o campeonato brasileiro da Série B da modalidade, em Aracaju (SE). O torneio é curto, começou na quintafeira e termina amanhã. O campeão e o vice conseguem acesso para a Série A, cuja edição 2014 está prevista para outubro, no Rio.

O antigo vôlei sentado entrou no calendário paralímpico justamente no Rio, nos Jogos Parapan-americanos de 2007, quando o Brasil conquistou a medalha de ouro, ao bater seleção americana na final. Apesar disso, o esporte não embalou entre os clubes cariocas.

Ponteiro do Vasco, Diogo Rebouças, morador da Penha, participou da conquista brasileira no Pan de 2007. Na época, ele atuava na equipe da Andef.

— Cheguei a jogar vôlei no Botafogo, mas não profissionalmente. Em 2003, sofri um acidente de moto e peguei uma infecção hospitalar. Tive que amputar parte da perna. Em 2006, fazendo fisioterapia na Andef, conheci o vôlei sentado, quando um técnico me chamou para um teste. Comecei a treinar e achei legal, foi só questão de me adaptar. No primeiro torneio que joguei, recebi o prêmio de revelação — conta.

Rebouças lembra que em julho daquele mesmo ano defendeu a seleção brasileira no Mundial, na Holanda. E em 2007 veio o Pan.

— Foi muito legal. Os jogos ficavam cheios, todos os parentes e amigos estavam lá. Disputei também a Paralimpíada de Pequim, em 2008; e o Parapan de Guadalajara, em 2011. Espero estar nas Paralimpíadas de 2016, para jogar novamente em casa. Mas com apenas duas equipes no Rio, fica complicado para fazermos campeonatos e nos prepararmos melhor — comenta.

O Vasco adotou o vôlei paralímpico em 2010. Para o ponteiro e vascaíno fanático — de ter tatuagem e tudo! — Gilvano Diniz da Silva, foi uma ótima notícia. Morador de São Cristóvão e vizinho do clube, ele jogava pela Andef e tinha que ir até Niterói para treinar. Até o time de coração lhe proporcionar a realização do sonho de vestir a camisa cruzmaltina como atleta.

— Quando tinha apenas 6 anos, sofri um acidente de carro e perdi parte da perna. Mas, ainda assim, sempre joguei futebol convencional mesmo. Participava de uma pelada em São Gonçalo quando o Guto, que era da seleção de vôlei sentado, me convidou para jogar na Andef. Disputei quatro campeonatos brasileiros por lá, todos da Série A. Mas sempre treinava no Vasco, pela proximidade da minha casa. E quando vim jogar aqui, juntei a fome com a vontade de comer — conta.

Silva diz que também está disputando o futebol de sete (paralímpico) pelo clube. Ele é o goleiro da seleção nessa modalidade.

— Aqui no bairro todos me conhecem, já dei até entrevista no “Globo Esporte”! Mas acho que falta investimento para o esporte crescer no Brasil — lamenta.

Para outros jogadores, o vôlei paralímpico surgiu como um instrumento de superação após um trauma. É o caso de Luis Henrique Amaral Freire, morador do Estácio. Ele foi atropelado há dois anos em frente ao Shopping Tijuca e teve uma perna amputada da virilha para baixo.

— Comecei a jogar logo depois do acidente. Inicialmente vinha ao clube para me distrair, mas acabei pegando gosto. Nunca havia jogado vôlei na vida, só jogava futebol, em peladas. Foi o esporte que não deixou minha autoestima cair, pois serviu como uma alavanca para eu superar as adversidades. Nossa vida é mais agitada que a de muita gente que não tem deficiência — compara Freire.

Enquanto treinam no Vasco, sonham com a participação na seleção brasileira e com a medalha de ouro na Paralimpíada. Mas certos de que já venceram o jogo contra a depressão e a exclusão.



Fonte: Jornal de Bairro Zona Norte - O Globo