Analista de desempenho Gustavo Nicoline fala do trabalho e ganha elogios

Quinta-feira, 17/07/2014 - 10:52
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O chavão diz que o futebol não é uma ciência exata. Ninguém contesta, mas não é por isso que os clubes deixam de se cercar de todos os meios para aproximar a teoria da prática. No Vasco, um dos pioneiros na função relativamente recente de analista de desempenho é o braço direito de Adilson Batista desde 2008, quando se conheceram no Cruzeiro. Gustavo Nicoline, de 32 anos, começou por acaso, organizando fitas de vídeo na Raposa como estagiário. Aos poucos, seu conhecimento pela bola impressionou comissões técnicas e o consolidou na profissão.

A cena é comum: enquanto os jogadores realizam alguma atividade física no gramado, Adilson fixa os olhos no Ipad com relatórios e estatísticas produzidas pelo auxiliar, sua única indicação na chegada a São Januário. Em preleções, reuniões, palestras ao grupo e até na preparação para coletivas de imprensa, o material colhido é explorado e utilizado como base.

Mas nem sempre foi assim. A origem do trabalho sofria resistência de treinadores menos afeitos à tecnologia. Muitos conviveram com Nicoline por mais de um ano e sequer davam voz a quem apontava alguns caminhos - por vezes corretos - para vencer uma partida a partir dos números. Com a evolução dos equipamentos, a situação gradativamente atingiu outro patamar.

- Eu morava no mesmo prédio de um diretor do Cruzeiro, e ele me chamou para trabalhar lá no departamento de futebol. Aceitei o desafio mais porque conhecia sobre informática. Era bem difícil na época ainda da fita com os jogos que às vezes não eram transmitidos como hoje. E muitos treinadores só entravam na minha sala para pegar alguma coisa e nem falavam nada, não tinha interesse em me ouvir. Alguns, como o Adilson, o Autuori, o Dorival, o Celso Roth já tinham a humildade de trocar ideias, pedir opiniões. Com o Adilson passei a almoçar na mesma mesa da comissão e virei um dos integrantes. Aprendi muito e vi que o diferencial para um bom trabalho não é o computador ou quantidade de softwares que você tem, e sim o ser humano. A abertura de aprender, corrigir, chegar a conclusões sem desprezar ajuda - acredita.

Quando saiu do Cruzeiro, Adilson encontrou profissionais na área em clubes como São Paulo, Corinthians e Santos, mas os resultados não apareceram. Seguidamente demitido, a aparente decadência na carreira do técnico foi marcante, a ponto de fazê-lo investir na parte psicológica, em media training e outras atividades em torno do futebol. No Atlético-GO, em 2012, ele não teve a companhia de um analista. Já no Figueirense, decidiu convidar o antigo braço direito e reativar a parceria, que jamais foi desfeita por completo, já que ainda se comunicavam, e Nicoline eventualmente compartilhava informações. Ao ser contratado pelo Vasco, repetiu a dose. Os títulos no período ainda não vieram, mas sobra convicção.

- Esse tipo de trabalho acrescentou e contribuiu muito para o trabalho do dia a dia. Me deu um feedback importante até mesmo na questão de treinamento, correções que podem ser feitas nas atividades e também nos jogos. Vejo esse tipo de trabalho do Gustavo como essencial hoje. Já faz parte do contexto do futebol na minha maneira de ver. Posso dar como exemplo o vôlei do Brasil, que usa esse tipo de profissional ao longo dos anos com grande sucesso - disse Adilson.

O banco de dados da Série B, construído em 2013, é um dos trunfos para ser cada vez menos surpreendido. A época lembra quando a dupla se unia para estudar a Libertadores.

- O Adilson sempre fez questão de ficar desde de manhã até a noite no clube. Se precisasse, assistia duas, três vezes ao mesmo jogo. Construímos nossa relação assim. Ele dizia: senta aí e vamos ver esse vídeo. Aí era o Vélez, o Nacional do Uruguai ou outro time menor que tínhamos de achar pontos fracos e fortes - conta Nicoline, sobre a campanha do vice-campeonato.

Hoje, munido dos detalhes geralmente 48 horas antes, Adilson gosta até de chamar os reservas com os nomes dos titulares adversários, estabelecendo posições e exigindo a mesma movimentação, para simular o maior número de situações de jogo possíveis.

Durante a paralisação para a Copa do Mundo, apesar da 10ª posição na tabela, a comissão técnica se apoiava em estatísticas que demonstravam o destaque do Vasco. Por exemplo, até a vitória por 4 a 1 sobre o Santa Cruz, o analista garante que era o clube que mais finaliza, com média de 15 por confronto; era o que mais acertava passes ao lado do Avaí, com índice de 91,6%; segundo com maior média de troca de passes; posse de bola igual ou superior em todos os jogos; e também que o atacante Yago era o maior driblador da competição.

Como fator negativo, Nicoline prefere se resguardar e não dar armas aos rivais, mas admite que a equipe precisa ser mais eficiente no aproveitamento dos cruzamentos. São relativamente poucas finalizações a partir deste tipo de assistência. Na partida de terça, três gols nasceram assim - e dois deles foram efetivamente criados de uma bola passada da ponta.

Um dos líderes em campo, Guiñazu é só elogios à função e também a considera imprescindível.

- É muito importante, vemos muito do que ele produz e aprendemos a melhorar. Hoje, sabemos pontualmente o que temos de melhorar. É um dos maiores avanços que tem no futebol hoje.



Fonte: GloboEsporte.com