Último jogo de Barbosa, em 1962, foi no mesmo dia do vexame da Seleção Brasileira na Copa de 2014: 8 de julho

Sábado, 12/07/2014 - 14:24
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A história do futebol brasileiro parece que será sempre ligada à trajetória de Barbosa. Na derrota de 1950, as lágrimas formaram uma geração, que oito mais tarde vingaria a derrota por 2 a 1 no Maracanã para o Uruguai com o primeiro dos cinco títulos mundiais. A triste história da primeira Copa do Brasil, que tem em Barbosa um símbolo porque era ele quem defendia o gol no chute de Gigghia, foi colocada em outro plano depois que da derrota por 7 a 1 do time de Felipão para a Alemanha. E há uma coincidência que une o goleiro de 1950 com o desastre do dia 8 de julho - a última terça-feira. Também foi num dia 8 de julho, em 1962, que o goleiro da seleção deixou os gramados para sempre.

Em fim de carreira, mas ainda em grande forma, Barbosa chegara a 1962 depois de atravessar problemas físicos mais sérios para continuar em campo - e depois de passagens pelo Bonsucesso, Santa Cruz e novamente por São Januário. Em 1953, ele quebrou a perna dentro de campo, se ausentou dos gramados, da seleção e teve depressão. O carinho no hospital o fez repensar a carreira e retomá-la depois de nove meses parado. Tereza Borba, filha de consideração de Barbosa, viveu os últimos anos de vida ao lado do histórico goleiro do Vasco. Ele contava que havia resistência dentro da família para que seguisse no futebol. Barbosa usou aparelhos de ferro na perna e fez exercícios físicos por conta própria para voltar a jogar.

- Ele tinha gordado muito e foi morar numa fazenda no Sul. Lá, ele corria e lenhava para manter a forma - conta Tereza, que é uma espécie de museu da vida do pai, com detalhes e histórias de quase tudo sobre Barbosa.

Mesmo no Campo Grande e em fim de carreira, Barbosa, aos 41 anos, atraía holofotes da imprensa. O time que hoje disputa a Série C do Campeonato Carioca estreava na competição com uma vitória surpreendente sobre o Botafogo e ia até o estádio da rua Conselheiro Galvão para enfrentar o time da casa. Os jornais descreviam assim a atuação de Barbosa:

"Barbosa vinha sendo a grande figura do 'match', praticando três defesas espetaculares. O Madureira pressionava, quando sofreu o tento de abertura. Veio a penalidade, batida por Danilo, no ângulo, obrigando o ex-vascaíno a praticar ótima intervenção com a ponta dos dedos. Na queda, já se percebia que Barbosa não estava bem, pois ficou batido, segurando a coxa direita", dizia trecho da matéria sobre o jogo do jornal O Globo.

Minutos depois, o jogador do Madureira Jaime furaria pela última vez o paredão vascaíno, fazendo o gol de empate para o time da casa. Barbosa saiu de campo, pela última vez, aos 38 minutos do primeiro tempo. "Andando pela pista, em direção ao vestiário, Barbosa tinha lágrimas nos olhos, estava de cabeça baixa e recebia estrondosa ovação do público, de pé". O ex-goleiro do Vasco sofrera uma distensão da virilha direita, informou no vestiário o médico Oscar Santamaria, que saiu abraçado ao goleiro, nos momentos finais da carreira de Barbosa.

Pouco tempo depois de parar de agarrar, Barbosa, ironicamente, iria trabalhar durante muitos anos na piscina do complexo do Maracanã, como funcionário da Superitendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (a Suderj). A tarde do dia 8 de julho de 1962 no estádio do Madureira trouxe reservou os últimos aplausos e as últimas lágrimas de um jogador que um dia foi apontado como o grande culpado pela derrota de 1950. E o futebol reservou um novo 8 de julho e uma nova derrota histórica, mas humilhante, da seleção.



Fonte: GloboEsporte.com (texto), O Globo (foto), Jornal do Brasil (foto)