Filha adotiva de Barbosa busca recursos para pagar estátua em homenagem ao ídolo vascaíno

Segunda-feira, 02/06/2014 - 11:42
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Apesada cruz que Barbosa teve de carregar pela derrota brasileira na final da Copa de 1950, contra o Uruguai, no Maracanã, já não lhe tirava mais o sono. Seus fantasmas talvez tenham desaparecido com uma das traves daquele jogo. Afinal, antes de morrer, em 2000, ele disse que a queimou ao ganhar de presente.

No entanto, 64 anos depois, um toco de madeira que ele fez questão de esquecer pode ser fundamental para que a memória dele seja valorizada e, principalmente, eternizada.

Tereza Borba, que se intitula “filha de coração” de Barbosa, tem em mãos um pedaço da trave em que o goleiro sofreu o gol da derrota contra o Uruguai, por 2 a 1, na decisão de 1950. E pretende fazer um leilão para amantes do futebol para levantar verba e reformar o túmulo dele — em Praia Grande, litoral paulista, onde viveu seus últimos anos — e, ainda, instalar duas estátuas na cidade.

Recordações/ Na casa dela há muitas lembranças do “goleiro magistral”, como ficou conhecido no Vasco. Discos de bolero, camisas do clube carioca, bandeiras, fotos. Mas a principal, Tereza carrega no peito.

Como Barbosa não tinha parentes próximos — não teve filhos —, depois da morte de sua esposa, dona Clotilde, em 1996, foi Tereza quem cuidou dele.

“Ele gostava de andar na orla e sempre ia a minha barraca e me pedia dois dedos de Cinar (conhaque) com 51 (pinga). Depois, ele ficou sem esposa, sem ter onde morar, e estávamos mais ligados. Então, ficou aqui em casa”, disse Tereza, cujo marido é vascaíno e também virou amigo de Barbosa.

Depois de ajudá-lo a se manter até a morte — conseguindo até uma verba mensal enviada pelo ex-presidente vascaíno Eurico Miranda para alugar um apartamento —, Tereza, agora, quer fazer um leilão com o pedaço de trave, que ainda gera dúvidas (leia matéria ao lado), para mostrar que Barbosa deve ser lembrado pelo ótimo goleiro e exemplar ser humano que foi. E não apenas por uma falha.

Ídolo do Vasco chegou a trabalhar no jogo do bicho

Após a morte da esposa, Clotilde, Barbosa ficou sem teto. A cunhada, com quem morava junto ao lado da mulher, vendeu o apartamento. Sem ter para onde ir, inicialmente, Barbosa foi para a casa de Tereza e passou a trabalhar no jogo do bicho.

“Ele foi funcionário do Maracanã (após parar de jogar) e se aposentou no setor administrativo. O dinheiro que ele recebia não dava nem para a cachaça. Então, ele disse que virou corretor zoológico. Eu ri e perguntei o que era isso. Aí, ele respondeu: ‘Estou fazendo jogo do bicho em uma banca de jornal’”, se lembrou.

O ex-goleiro trabalhou assim até começar a receber a ajuda mensal do vascaíno Eurico Miranda, mas também fez palestras. “Com a ajuda que ele recebeu do Eurico, conseguia pagar o aluguel, a alimentação e uma empregada”, disse Tereza.

entrevista

Tereza Borba_ ‘Filha’ de Barbosa


‘Quero que saibam que ele foi o melhor de todos’

DIÁRIO_ Como esse toco de trave foi parar em suas mãos?

TEREZA_ Um historiador de Muzambinho (onde existe um memorial do Barbosa) ficou sabendo da minha meta de reformar o túmulo e de fazer as estátuas e me mandou, faz uns dois anos e meio.

Por que não conseguiu fazer o leilão antes?

Algumas pessoas me ligaram, mas não queriam se identificar. Fiquei até com medo de falar em valores, porque vivemos em um mundo muito violento. Tive medo de despertar alguma coisa desagradável. Aí, sosseguei com a trave e não corri mais atrás. Até por falta de experiência e conhecimento. Preciso de alguém que me ajude nisso, com certeza.

Você nunca pediu ajuda?

Não. Se alguém me disser que vai pagar a estátua que mandei fazer, já fico feliz... Não quero dinheiro. Quero homenagear um ser humano incrível, um dos melhores goleiros da história, que foi injustiçado.

Qual o custo das estátuas?

Não acho legal falar sobre isso. Ainda não, pelo menos.

Uma está pronta...

Sim. Ela é de corpo inteiro, tem 1,77 m, com o corpo esguio, no ar para agarrar uma bola. Quero que as crianças leiam e saibam que o Barbosa foi o melhor goleiro de todos os tempos. Tem um artista em Santos que faz estátuas e ele se propôs a fazer para mim até num preço bom.



Fonte: Diário de S. Paulo