Em entrevista a ex-atletas rubro-negros, Dinamite diz que abriu portas para que outros jogadores se tornem presidentes de clubes

Domingo, 13/04/2014 - 07:43
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Com ou sem festa pelo título, Roberto Dinamite, maior jogador da história do Vasco, completa hoje 60 anos. Nasceu pobre, às 4h25m, quatro meses antes do suicídio de Getúlio Vargas, quando Alfred Hitchcock lançava o filme "Janela Indiscreta", e o cruzeiro era a moeda em vigor no Brasil. O garoto de Duque de Caxias, Carlinhos nas várzeas da Baixada, tinha poucas certezas na vida. A bola era uma delas. Entre um chute e outro, cresceu e envelheceu driblando meio mundo.

A pedido do Jogo Extra, dez ex-jogadores do Flamengo, que enfrentaram Roberto, partiram para o ataque nesta entrevista, cada um com uma pergunta. E, novamente, Roberto driblou, matou no peito, chutou...

Raul, Nélio, Renato Gaúcho, Júnior, Andrade, Rogério Lourenço, Zico, Adílio, Rondinelli e Leandro. A bola da final do Estadual rola somente às 16h, mas, aqui, o desafio começou. Resta saber se haverá festa.

Raul - Sei que dificilmente acontecia, mas você se lembra do gol mais incrível que perdeu? Aquele que fez você ir pra casa triste?

Não lembro, não. Só me recordo dos que fiz. principalmente dos de falta, como aquele em que a bola bateu nas duas traves antes de entrar no seu gol (risos).

Nélio - Qual foi o gol mais marcante que você fez contra o Flamengo?

Com certeza, o gol do segundo jogo da final do Carioca de 1981. Chovia muito, fiz um gol aos 43 minutos do segundo tempo, quando a torcida do Flamengo gritava "é campeão". Lembro da sensação de perceber dentro de campo o silêncio da torcida deles.

Renato Gaúcho - Você se arrepende de ser presidente do Vasco?

Claro que não. Não me arrependo de nada. Claro que não é uma tarefa fácil, mas consegui devolver ao clube a igualdade no tratamento e a democracia. Considero que abri portas também, para que outros ex-jogadores se tornem presidentes de seus clubes no Brasil.

Júnior - Quais os maiores problemas que encontrou depois que assumiu a presidência do Vasco? Acha que sua imagem de maior ídolo do clube pode sair arranhada devido a esses problemas?

Os maiores problemas são as dívidas que foram deixadas. Isso inviabiliza uma série de projetos. É um trabalho muito grande você ter que equacionar tantas dívidas, montar um time competitivo e honrar seus compromissos. Quanto à imagem arranhada, talvez sim. para algumas pessoas. Mas tenho certeza de que quem acompanha de perto e compreende o que temos feito à frente das finanças do clube vai valorizar esta gestão.

Andrade - Quais os seus planos para quando acabar seu mandato no Vasco? Pretende seguir como presidente ou se dedicará a outra atividade?

Espero encerrar bem esta gestão. No momento estou voltado para a final, para conquistar um título que seria muito importante para todos os vascaínos.

Rogério Lourenço - Sabendo que o Vasco sem pre foi um celeiro de craques, o que tem sido feito em sua gestão para que o Vasco continue a revelar grandes jogadores?

Hoje contamos com o melhor CT de base do Rio de Janeiro, em Itaguaí. Pouca gente conhece, até porque não queremos mais abrir as portas das nossas divisões de base a empresários. Brigamos para ter uma relação que seja amplamente favorável ao clube nos contratos com garotos da base. O resultado tem aparecido com nomes de valor que têm jogado no time profissional nos últimos anos.

Zico - Qual a diferença entre a forma como o Barcelona é administrado hoje e o modelo que você encontrou quando jogou lá?

É possível implementar esse modelo no Vasco? Teve dificuldades lá?

Eles tinham um presidente muito influente, não mudou muita coisa. O Barcelona daquela época já era uma grande potência. O que aumentou foram os contratos, a arrecadação, o número de associados, etc. Acredito que este deve ser nosso objetivo. Devemos criar mecanismos para trazer o torcedor para dentro do clube, nossa torcida é nosso maior bem e pode se tornar também nossa principal fonte de renda. Acho que este aspecto do modelo de gestão deles pode e deve ser introduzido no Brasil, assim como a visão empresarial do "negócio futebol", com a contratação de gente especializada e reconhecida pelo mercado para comandar setores estratégicos do clube como o marketing, o jurídico e o comercial. Tive algumas dificuldades no Barcelona, sim. logo no início, principalmente no que diz respeito à relação entre os jogadores do elenco. Não eram tão receptivos como no Brasil. Eles eram mais fechados. Na minha época, só dois estrangeiros podiam ser contratados. Mas, sem dúvidas, o Barcelona já era um grande clube.

Adilio - Você acha que conseguiria encontrar um centroavante com seu perfil para jogar no Vasco? Tem algum em atividade? Quem?

O Vasco sempre teve grandes atacantes ao longo da sua história. Hoje. temos na posição o artilheiro do campeonato. Edmilson. e o Thalles. um jovem que veio da base e tem muito potencial. Ainda assim, estamos sempre atentos às oportunidades que o mercado nos oferece. Mas tenho muita confiança nesses dois jogadores que hoje defendem o Vasco.

Rondinelli - Por que você, com tanta qualidade, com tanto futebol, era tão catimbeiro? Você se lembra do que fazia e falava para me desestabilizar?

Eu só retribuía o tratamento que você me dava em campo. Lembro que era sempre um duelo muito legal.

Leandro - O Flamengo era o time contra o qual você mais se doava em campo? Vencer o Flamengo era o seu maior prazer?

Sem sombra de dúvidas!

Fonte: Extra