Hoje aposentado, Perdigão relembra sua passagem pelo Vasco

Sábado, 05/04/2014 - 05:28
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O ex-jogador Perdigão concedeu uma longa entrevista ao site Impedimento.org na qual relembrou não só sua passagem pelo Vasco como também o dia em que, jogando pelo XV de Campo Bom, eliminou o Gigante da Colina da Copa do Brasil em pleno São Januário. A entrevista completa pode ser acessada neste link. Confira abaixo os trechos em que o Vasco é mencionado:

Depois do Joinville, tu acabou passando por aquele XV de Campo Bom que fez boas campanhas no Gauchão e na Copa do Brasil. Qual era o segredo daquele time?

"Ninguém acreditava naquele time, para ser sincero, nem eu. Foi minha primeira experiência no futebol gaúcho e achava que não tinha nada a ver com meu estilo, nunca fui de chegar forte, dar pancada. Mas mandaram a passagem para que conhecesse a estrutura do clube, vi que o CT era bacana, o gramado era bom e o pessoal estava disposto a trabalhar. Porra, eles pagavam certinho! Dia 5 ou dia 20, a grana estava na conta, era só você escolher! Então o Mano chegou e começou a montar o time e, nessa parte, ele é um profissional muito competente. Contratou o Dauri, que já tinha jogado no Botafogo e no Juventude – e ele era impossível, fazia gol e dava caneta direto nos treinos; acho que nunca tomei tanta caneta na vida como naquela época. Depois veio o Márcio, que tinha passado pelo Figueirense, fomos juntando experiência com jogadores mais novos. Fizemos um grande estadual, mas a Copa do Brasil foi desgastando um pouco, então chegamos nas semifinais mas acabamos eliminados no Gauchão. Os jogos mais divertidos daquela campanha foram contra o Vasco, em Campo Bom acabou 1 a 1, no finalzinho eles tiveram a chance de marcar com o Valdir, mas não fizeram. Fomos para o Rio de Janeiro pensando em nos divertir, “Pô, hotel em Copacabana, de frente para o mar”. Na hora do jogo não tinha pressão nenhuma e tudo começou a dar certo, o Dauri marcou, um, dois… Já a semifinal contra o Santo André foi um pecado. No Pacaembu estávamos ganhando por 4 x 1, era um chocolate, eles não estavam nem vendo a bola. Mas depois cochilamos, eles marcaram mais duas vezes e acabamos ganhando por 4 a 3. Na volta, chegamos para o jogo no Olímpico e foi muito legal, Campo Bom compareceu em peso, 15 mil pessoas mais uns perdidos que recolhemos na rua! O anel inferior do Olímpico lotou! No superior, claro, não tinha ninguém! Saímos ganhando e pensei “já era”, estávamos jogando bem. Mas no finalzinho do primeiro tempo, os caras empataram. No começo do 2º fizeram 2 a 1. Mais dez minutos, 3. E nós pressionamos, ficamos em cima, mas a bola não entrou. Foi um choque, uma das maiores frustrações da minha carreira. Imagina um time como aquele fazer uma final contra o Flamengo no Maracanã lotado? Era um time com jogadores de qualidade, outros querendo voltar ao cenário, um treinador competente, uma boa estrutura e o salário na conta todo dia 5!"

Depois do Inter, você foi para o Vasco. Chegou a ter algum contato com o Eurico?

"Quando cheguei lá o Celso Roth era o treinador. Ele chegou falando: “Ó, os caras aqui não gostam de cabeludo, não!”. Eu respondi: “É? Então lascou”. Ele falou que tinha que cortar o cabelo e eu disse “Não tem, não! Qualquer coisa pego minha mala e já volto embora”. Então subi na sala do homem. Cheguei, fiquei uma hora esperando, eu e meu empresário. Entrei naquela salona dele, chique, acho que hoje o Dinamite não usa para não associar a imagem dele com a do Eurico. Está lá aquele camarote enorme e ele não usa – gosta de ficar na arquibancada, tomando vaia e se ferrando! Bom, chegamos naquela sala lá e ele fumando o cachimbo dele, todo despenteado, suando, praticamente pronto pra encontrar as sombras do além. Sentamos e esperamos mais de meia hora para conversar, já dentro da sala dele. Ele telefonando, mandando alguém ligar para o moto-táxi, levar um remédio para mulher dele que não estava muito boa. Ele chega e fala “Eu gosto de você!”. E eu lá, com medo, porque a visão que quem não o conhece tem é de que cara é o Al Capone do futebol brasileiro. Mas ele falou que gostava de mim porque eu “ia e voltava” por todo o campo e perguntou se iria fazer isso no Vasco. Depois questionou: “E esse cabelo aí? Você é tipo Sansão, que se cortar o cabelo, perde a força?”. Eu falei “Não sei, porque nunca cortei. Mas se cortar e perder a força, como é que fica? Como é que vou fazer o vai e volta, vai e volta?”. Ele: “Não corta não. Fica assim mesmo”. Foi a única vez que vi ele. Ele também apareceu no vestiário antes de um jogo contra o Flamengo, falando que tínhamos que ganhar. Empatamos com as calças na mão, fui ver o saldo no outro dia e tinha R$ 1.000 a mais. Imagine se tivesse ganho? Mas, em geral, ele era sossegado!"



Fonte: NETVASCO (texto introdutório), Impedimento.org (texto, foto)