OS 85 ANOS DA 'RESPOSTA HISTÓRICA'

Terça-feira, 07/04/2009 - 18:35
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Há precisamente 85 anos, no dia 7 de abril de 1924, o Club de Regatas Vasco da Gama produziu um dos documentos mais importantes da história do esporte mundial, que ficou conhecido como "A RESPOSTA HISTÓRICA".

O documento, redigido em poucos parágrafos, comunicava ao sr. Arnaldo Guinle, presidente da AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos), liga recém-fundada pelos cinco clubes mais influentes do Rio de Janeiro na época (América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense), que o Vasco preferia não fazer parte da nova entidade a ter que se submeter à exigência de eliminar de seus quadros 12 atletas, a maioria deles negros, mulatos, nordestinos ou pobres, considerados pela AMEA jogadores "de profissão duvidosa".

Desta forma, o Vasco manteve-se na LMDT (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres), liga na qual, enfrentando os cinco "grandes", conquistara o Campeonato Carioca de 1923, e disputou em 1924 um campeonato esvaziado contra equipes de menor expressão, sagrando-se campeão com 16 vitórias em 16 jogos.

Em 1925, o Vasco foi admitido na AMEA de forma incondicional e voltou a enfrentar os "grandes" com seus atletas negros, mulatos, nordestinos e pobres.

Uma reprodução da "RESPOSTA HISTÓRICA", este verdadeiro marco da luta do Club de Regatas Vasco da Gama contra a discriminação social e racial no esporte brasileiro, pode ser vista nos dias de hoje na Sala de Troféus da sede de São Januário, encimada pelo seguinte lembrete: "Sem o Vasco, o futebol brasileiro não teria conhecido Pelé".


Quadro com a reprodução do documento "A Resposta Histórica" na Sala de Troféus de São Januário




A RESPOSTA HISTÓRICA



"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos

            As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
            Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
            Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
            Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
            São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
            Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
            Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado

(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente"



Poster da "Resposta Histórica" em destaque na exposição "Adoro Futebol", no shopping Via Parque, em agosto de 2008



Pesquisa: Alexandre Mesquita
Fotos: Alexandre Mesquita e Paulo Fernandes/Site oficial do Vasco



Fonte: NETVASCO