Martinho da Vila: 'Hoje é o nosso dia de sorte'

Domingo, 08/12/2013 - 09:32
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Vasco é religião

Martinho da Vila

O Vasco é o melhor do Brasil. Embora existam outras numericamente superiores e mais aguerridas, a torcida vascaína é a maior, pois nós somos apaixonados, ou melhor, amantes, pois amamos, de verdade, o Gigante da Colina. Sou vascaíno desde criança, primeiro influenciado por um padrinho português e, depois, pela história do clube da Cruz de Malta. O Vasco foi muito importante nas lutas contra os preconceitos raciais. Há controvérsia, mas afirmo que o Vasco foi o primeiro clube futebolístico a admitir negros no time e no quadro social.

Já tivemos fases difíceis e elas me inspiraram na criação da música “Calango vascaíno”, que tem o verso “Tô cansado de derrota, mas não vou me entregar”. Em recado musical ao amigo e compadre Paulinho da Viola, escrevi: “Oi, compadre! Vascaíno não se engana, temos que ser mais fiéis do que a Fiel Corintiana.”

Tivemos também muitas e muitas alegrias, e uma delas foi o Campeonato Brasileiro de 1974, com um gol histórico de Jorginho Carvoeiro, na final contra o Cruzeiro. Em outro tempo de euforia, eu fiz um samba-rap:

“Ô, ô, ô, ô! Vascooo! O timão da cruz de malta — Barbosa, Augusto e Rafanelli. Ely, Danilo e Jorge. Sabará, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico. Vascooo! Ô, ô, ô, ô! Brito, Coronel, Tita, Alcir, capitão Belini, Friaça, Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite, Vavá, Moisés... É campeão! É campeão! É campeão! O, ô, ô, ô, Vascoo!”

Atualmente, não temos grandes craques como o Romário, o Edmundo, o Bebeto... Mas o futebol atual é um jogo de sorte. Entretanto, um time para ser campeão tem de ter um “cabeça de bagre” sortudo que faça gol até de canela, um virtuoso que preocupe os adversários e um bom goleiro, o que não temos. Neste ano, a boa ventura nos abandonou. O último contratempo foi a contusão do Juninho Pernambucano. Se ele não tivesse se afastado, nós, certamente, estaríamos no G-4 de cima, mas não ficaremos no G-4 de baixo, graças à Nossa Senhora das Vitórias. Tenho fé.

Hoje é nosso dia de sorte. Vamos ganhar e festejar. Vou juntar uns amigos, colocar um som bem alto e ouvir o samba “Vasco da Gama”, que fiz em parceria com o amigo Nei Lopes e gravei também com a vascaína Mart’Nália, no CD “Lusofonia”:

“O caso é que o navegante filho de deuses marinhos/Traçou no mar um caminho pra chegar no Oriente/Zarpou e foi em frente naqueles mares bravios/Topou o desafio: outras terras, outras gentes/Lá, laia, laia, outras terras, outras gentes/Cruzou com feras tamanhas e heróis da mitologia/Provou sua valentia em grandiosas façanhas/Comprou e fez barganhas na busca de especiarias/Com ondas e maresia o mar é um perde e ganha/Mas a viagem valeu. Eis o Oriente afinal!/O seu feito monumental muitos outros feitos rendeu/Pra sua glória e de seu lindo Portugal, tão legal/E a saga que escreveu inspirou Cabral/Lá, lá, laia, Vascooo!/Dizem que foi por acaso que aportou na Bahia/Ventos ou calmaria, hoje isso não vem ao caso/Dois mil, mil e quinhentos/Quinhentos anos de História/Brasil, chegou sua hora!/Vamos soprar puros ventos/Lá, laia, laia, vamos soprar outros ventos/Graças aos navegantes, o Vasco, depois o Pedro/E até aos réus de degredo, mandados pra tão distante/Depois naus e galeras nos pés de um alto almirante/E a cruz emocionante virou esfera das feras/Como o Gama que o batizou, se afirmou nas regatas/Pôs negros na Cruz de Malta, fez uma revolução/Salve Nossa Senhora das Vitórias e os milagres de São Januário!/Nossa bandeira é o Santo Sudário/E o Vasco é religião.”

Quando menino, em vésperas de jogo, eu dormia com a camisa cruzmaltina. Sonhava que jogava no Vasco e, no meu sonho, ao mesmo tempo em que atuava, eu irradiava o jogo: “Bola com Danilo, lançamento para Sabará, rapidamente para Tuta, passou pra Vavá, dribla um, dois, três, cruza para Ademir, Ademir pra mim... Gooooool!!!”

Nos meus sonhos, o Vasco nunca perdia.

Fonte: Globo Online