Denis Irwin, ex-Manchester, relembra disputa do Mundial de 2000 e derrota para o Vasco

Terça-feira, 05/11/2013 - 13:08
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Denis Irwin comemorou o seu 48º aniversário em São Paulo, na semana passada. Com 12 anos de Manchester United no currículo, o ex-jogador irlandês veio ao Brasil para promover o clube britânico através de um tour com o troféu do Campeonato Inglês. Por onde passou, ouviu uma série de perguntas sobre o Palmeiras, clube que ajudou a derrotar na Copa Intercontinental de 1999, e sobre o Mundial de Clubes de 2000, vencido pelo Corinthians.

Em um hotel paulistano onde uma das patrocinadoras do United promoveu um coquetel para Irwin, por exemplo, os convidados estavam empolgados para abordá-lo sobre as ligações com os clubes brasileiros. “Sabe quem é esse cara aí? Eu também não. Só ouvi dizer que ele ajudou a acabar com o Palmeiras no Japão. Quer dizer... Você é palmeirense?”, comentou um empresário, conversando com um colega que acabara de conhecer. Não demorou muito para eles aprenderem um pouco mais sobre o algoz irlandês.

Vestindo uma camisa polo vermelha do Manchester United, meticulosamente ajustada para dentro da calça, Irwin mostrou respeito ao Palmeiras e a outros clubes brasileiros, além de se mostrar alegre com a receptividade que encontrou. Garantiu que a felicidade com a viagem atual era semelhante àquela de 2000, quando a sua equipe foi acusada de não dar a menor importância ao primeiro Mundial de Clubes organizado pela Fifa. “Não foi bem assim”, gargalhou, antes de desfrutar de alguns copos de cerveja gelada em mais uma visita ao Brasil.

O Manchester United fez uma campanha que não honrou as suas tradições no Mundial conquistado pelo Corinthians. O time inglês estava no grupo B do torneio, que tinha o Maracanã como sede. Na estreia, conseguiu evitar a derrota para o Necaxa, do México, e fechar o placar em 1 a 1 ao balançar as redes aos 43 minutos do segundo tempo. Com belos gols dos inspirados Romário (2) e Edmundo e uma atuação desastrosa de Gary Neville, perdeu por 3 a 1 para o Vasco na sequência e ficou sem chances de classificação para a final. Despediu-se da competição com uma vitória por 2 a 0 sobre o modesto South Melbourne, da Austrália.

Fora de campo, contudo, os jogadores do United chamaram a atenção com passeios pelas praias cariocas, onde jogaram futevôlei e atraíram olhares femininos. Também conheceram o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e até uma casa noturna. “Como perdemos para o Vasco e sabíamos que não iríamos nos classificar, decidimos aproveitar um pouco o sol do país do futebol, mas somente porque os resultados não foram bons. Contra aquele time de Sidney... Sidney, não é? Isso, Melbourne. O técnico colocou vários jogadores diferentes nesse jogo porque não tínhamos mais chances”, rememorou Denis Irwin.

O irlandês reviu alguns dos prazeres de que desfrutou no Rio de Janeiro agora, em sua segunda passagem pelo Brasil. Assim como em 2000, os compromissos profissionais (desta vez, precisava fazer propaganda para o Manchester United) não impediram Irwin de visitar pontos turísticos cariocas e de admirar peladas entre garotos. “A gente se sentava na praia e via os meninos chegarem para jogar bola. Era incrível observar aquilo. Tive a mesma experiência agora”, contou. Até no Maracanã ele voltou a pisar. “Mas o estádio está bem diferente. Obviamente, foi remodelado para a Copa do Mundo.”

Com expressão saudosista ao falar dos encantos do Rio, Irwin recobrou a seriedade para não levantar dúvidas sobre o Mundial de 2000 quando ouviu mais uma pergunta a respeito. “O campeonato tinha uma importância enorme para nós. Não jogamos a FA Cup naquele ano, então viemos ao Brasil para ganhar. Perder foi uma grande decepção, até porque tínhamos vencido o Palmeiras em Tóquio, em 1999. E não é qualquer dia que você tem a oportunidade de atuar no Maracanã”, disse o zagueiro aposentado, que também pouco se envolveu em polêmicas enquanto esteve em atividade.

Campeão da Copa Libertadores da América em 1999, o Palmeiras chegou a pleitear o direito de disputar o Mundial de 2000 – acabou substituído pelo Vasco, que ganhou o torneio continental de 1998. Um ano antes da controversa classificação para o torneio, contudo, o time do Palestra Itália teve a chance de se proclamar campeão do mundo justamente contra o Manchester United, no Japão. O sonho acabou com o gol do meia-atacante Roy Keane (“o melhor jogador” com quem Irwin atuou), outro irlandês, que tirou proveito de uma falha do goleiro Marcos.

Segundo Irwin, o United não diferenciava o jogo com o Palmeiras no Japão daqueles que disputou no Brasil. “Todas as partidas são importantes para um clube como o nosso. Você deve ganhar todos os jogos”, bradou o irlandês, sem ser convincente sobre a relevância que credita aos torneios internacionais não organizados pela Uefa. Ele não sabia nem sequer a configuração atual do Mundial de Clubes. “É claro que as equipes sul-americanas têm um bom retrospecto neste Mundial, mas isso não significa que os europeus não levem a sério. O campeonato ainda é em Tóquio? Temos que fazer uma viagem longa para lá, com fuso horário, bem no meio da temporada. Mas nós nos importamos, sim, como provamos quando batemos o Palmeiras.”

Apesar do discurso em prol do Mundial de Clubes, Irwin assentiu que se empolga muito mais com a Liga dos Campeões – torneio em que pretende assistir aos brasileiros Neymar, do Barcelona, e Oscar, do rival Chelsea. “O Brasil tem jogadores fantásticos em todos os lugares. Não vi o Pelé, mas enfrentei o Ronaldo algumas vezes, o incrível Romário, que já fez 4 a 0 na gente e também nos derrotou no Maracanã...”, enumerou, embora tenha aberto um sorriso irônico quando lhe lembraram da passagem fracassada do meio-campista Kleberson pelo United. “Kleberson? Eu não estava mais lá quando ele jogou na Inglaterra.”

O entusiasmo com que fala dos grandes astros brasileiros que defenderam ou ainda estão em clubes europeus não fez Irwin fechar os olhos para futebol praticado no País da Copa do Mundo de 2014. Na última quarta-feira, por exemplo, ele ligou a televisão para assistir à vitória por 2 a 1 do Flamengo sobre o Goiás, no Serra Dourada, pela Copa do Brasil. Ainda foi político o bastante para negar que o seu United tomará o espaço dos clubes que um dia enfrentou, no Maracanã ou no Japão.

“A Premier League é o melhor campeonato do mundo, o mais disputado e o mais assistido”, afirmou primeiro, apontando para o troféu que o seu Manchester United ganhou na última temporada, a atração do tour pelo Brasil. “Mas vocês continuam com grandes times a serem seguidos, como Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Flamengo...”, concluiu Denis Irwin, sem mencionar o Vasco, vice-campeão mundial de 2000 e algoz de sua equipe naquele torneio.

Ídolo do Manchester United, o aposentado Denis Irwin trouxe o troféu da Premier League para o Brasil



Irlandês era “queridinho” de Ferguson

O ex-zagueiro Denis Irwin contou com um grande aliado para passar mais de uma década e disputar quase 400 jogos pelo Manchester United, tornando-se ídolo do clube inglês. Regular, mas longe de ser brilhante, o irlandês era um dos “queridinhos” do técnico Alex Ferguson.

Em uma recente entrevista, o comandante escocês do United de 1986 a 2013 chegou ao ponto de escalar Irwin para o hipotético time dos sonhos dos atletas que treinou. “Veja os atacantes que tive: Hughes, Cantona, Cole, Van Nistelrooy, Yorke... No meio-campo, Keane, Robson, Scholes, Beckham, Ronaldo, Giggs... Como posso escolher? Mas, honestamente, diria que Denis Irwin certamente estaria na equipe. Uma vez, em Highbury, ele fez um passe errado no último minuto, e Dennis Bergkamp marcou o gol. Depois do jogo, a imprensa me perguntou se eu estava desapontado. Ora, um erro em dez anos não é ruim. Irwin foi um jogador inesquecível”, enalteceu Ferguson.

O irlandês ficou tímido quando a declaração de Ferguson foi repetida para ele, durante a visita a São Paulo. “Bonitas palavras. Tivemos tantos bons jogadores no United... É muito bom ouvir isso”, sorriu.

O jeito político também ajudou Denis Irwin a ter longevidade em Manchester – e a ser, até hoje, garoto-propaganda do clube que o consagrou. Ao falar sobre Ferguson, por exemplo, ele não quis comentar a polêmica autobiografia lançada pelo antigo técnico. Alguns dos seus companheiros, como o compatriota Roy Keane, ofenderam-se com revelações do livro. “Não posso dizer nada, pois ainda não li”, desconversou o ex-zagueiro. “Não gosto de obras de esporte.”

O “queridinho” de Alex Ferguson usa a mesma postura educada na tentativa de conquistar fãs no Brasil. Com três participações em Copa do Mundo (1990, 1994 – quando surpreendeu a futura vice-campeã Itália, com 1 a 0 na estreia e com Irwin como capitão – e 2002), a Irlanda do garoto-propaganda do Manchester United não conseguiu se classificar para o Mundial de 2014. O que o fez escolher outra seleção para apoiar.

“É verdade: não estivemos em 2006 depois daquele lance que teve mão do Henry, na repescagem. Só que isso já passou. Também não iremos jogar no Brasil em 2014, mas será um Mundial fantástico, com vários times fortes. Aposto no Brasil. E vocês?”, questionou Dennis Irwin, fazendo questão de parecer simpático.

A Gazeta Esportiva relatou turismo do Manchester United no Rio de Janeiro



O jornal A Gazeta Esportiva acompanhou minuciosamente a campanha do Manchester United no Mundial de Clubes de 2000. Apresentado como “bicho-papão” em uma das primeiras edições daquele ano, também em função de sua vitória sobre o Palmeiras em 1999, o time inglês logo passou a receber adjetivos menos elogiosos da publicação.

Segundo A Gazeta Esportiva, os jogadores do Manchester United eram os mais mal-humorados do Mundial. A delegação havia abdicado de disputar a Copa da Inglaterra (da qual era a atual campeã) para vir ao Rio de Janeiro – também por pressão do governo britânico, que sonhava em agradar a Fifa na tentativa de sediar a Copa do Mundo de 2006 (a candidatura da Alemanha levou a melhor).

No Rio de Janeiro, o United foi recebido por uma multidão de torcedores do Flamengo, que não queriam ver o rival Vasco (que foi vice) como campeão mundial. Sir Alex Ferguson pareceu incomodado nas fotografias em que estava nos braços do povo rubro-negro.

Treinando em uma sede do Flamengo na Barra da Tijuca, o United tentou inicialmente evitar contato com o público. Fotógrafos e cinegrafistas ingleses tiveram de subir em lajes da comunidade do Recreio dos Bandeirantes para registrar imagens dos campeões europeus de 1998/99. Para os moradores a região, no entanto, tudo foi festa.

Com os tropeços iniciais, o United resolver abrir mão da distância para também se distrair no Rio de Janeiro. Em passeios pelas praias do Rio de Janeiro, o astro inglês David Beckham e os seus companheiros deixaram de se preocupar com o assédio para caminhar tranquilamente, sem suas camisas. Alguns até se arriscaram no futevôlei, atraindo muitos olhares das cariocas. Para A Gazeta Esportiva, tratava-se uma estratégia de demonstrar simpatia após reprimenda dos diplomatas ingleses no Brasil.

Seja por que motivo o United tenha decido fazer turismo, a curtição não se resumiu às areias do Rio. Os jogadores também subiram o Pão de Açúcar e o Corcovado, onde Beckham conseguiu se misturar com a população local. Uma turista norte-americana, sem perceber que se tratava de alguém famoso, pediu para o meio-campista fotografá-la diante do Cristo Redentor. Ele atendeu.

Além de aproveitarem o sol quente do dia – como disse o ex-zagueiro Denis Irwin –, o United ainda cedeu aos encantos da noite. Os jogadores foram liberados até para conhecer uma boate na Zona Sul do Rio, onde Beckam novamente centralizou as atenções. “Beckham foi um jogador fantástico para o United. Nunca vi alguém que cruze melhor bola. É provavelmente o melhor que acompanhei no quesito”, enalteceu Irwin.

Fonte: Gazeta Esportiva