Conheça a história do 1° jogo intercontinental do Vasco, contra o Sporting-POR, em 1928

Segunda-feira, 14/01/2013 - 10:36

Por Walmer Peres Santana

CR Vasco da Gama 1 a 1 Sporting/POR.

Intercontinental – “1. Situado entre continentes. 2. Que se faz de continente para continente” (Mini Aurélio Século XXI, 2004. p.426.)

Hoje, o departamento de futebol masculino do Vasco disputará a sua primeira partida no ano de 2013, um amistoso internacional. Este, por envolver duas equipes de continentes distintos se caracteriza como um match intercontinental. Mais do que Vasco e Ajax, será um duelo América x Europa. Você sabe qual foi a primeira partida intercontinental do Vasco?

No ano de 1928 o Vasco possuía a maior torcida da Capital Federal, Rio de Janeiro, e o maior estádio da América do Sul. Todavia, desde 1924 não conquistava um dos mais prestigiados campeonatos do país, o Campeonato Carioca. O Estádio Vasco da Gama, em dias de jogos, se constituía como uma massa faminta de títulos e grandes conquistas. Estas esbarravam na transição entre os Camisas Negras e o que viria a ser a base para a conquista do Campeonato de 1929. Além disso, o clube, seus associados e torcedores tinham feito um monumental esforço para angariar recursos, no objetivo de compra do terreno e construção do estádio. O Vasco não conquistou o Campeonato Carioca em 1928, mas um fato de extrema importância ocorreu. A primeira partida do Vasco contra uma equipe de outro continente. Até então, o Vasco já havia disputado duas partidas internacionais, contra equipes da América, ambas uruguaias: Universal/URU (1923) e Wanderers/URU. Nesta última, realizou-se a inauguração dos refletores do Estádio de São Januário. O pioneiro encontro entre o Vasco e uma equipe de outro continente, no caso o continente europeu, veio ocorrer no dia 22 de julho de 1928. O Vasco enfrentou a equipe portuguesa do Sporting no Estádio de São Januário, o resultado foi um empate pelo placar de 1 a 1.

Em 1º de julho, partia do porto da capital de Portugal, Lisboa, um transatlântico inglês, o “Alcântara”. Neste, entre os tripulantes, estava a equipe do Sporting e outras autoridades portuguesas e brasileiras, inclusive o presidente do Vasco, Raul da Silva Campos, grande difusor da “marca” Vasco à época:

LISBOA. 1 de julho – (A.A.) – A bordo do paquete “Alcantara”, embarcaram hoje os jogadores que compõem a delegação do Sporting Club de Lisboa e que na Republica brasileira disputarão varias partidas de foot-ball a convite dos clubs Fluminense e Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.

Com excepção de Ruy Cunha, que não embarcou, a delegação do Sporting segue completa, conforme já se sabe, della fazendo parte alguns jogadores olympicos. Com a delegação portugueza seguiu o Sr. Raul Campos, presidente do Club de Regatas Vasco da Gama.

(O Imparcial, 03 de julho de 1928)

O “Alcantara” chegou ao porto carioca no dia 12 de julho, como podemos perceber, os jornais refletiam o grande entusiasmo dos amantes do esporte bretão, havia forte expectativa com a chegada dos jogadores portugueses:

A bordo do paquete inglez ‘Alcantara’ chegando hoje os valorosos footballers que compõem a embaixada do Sporting Club Portugal (…)

Os jogos são aguardados com vivo interesse em nosso meio sportivo (…)

A embaixada do Sporting Club de Portugal, o Fluminense, o Vasco da Gama e os sportsmen cariocas preparam festiva recepção.

(O Paiz, 12 de julho de 1928)

A perspectiva era que a equipe portuguesa participasse de uma série de festividades e jogos. Desde a ida ao teatro, para assistir um evento em sua homenagem, a embates contra as equipes do Vasco, do Fluminense, de um combinado carioca e outros, inclusive contra times paulistas. O cronograma estipulado não foi totalmente seguido, cabendo a nós, falarmos do jogo contra o Vasco. Após uma derrota apertada por 3 a 2, no primeiro jogo em terras cariocas, para a equipe do Fluminense, no dia 15 de julho, nas Laranjeiras, o Sporting teria pela frente o jogo principal na Capital Federal. O embate seria contra o Vasco, no tão afamado Estádio Vasco da Gama. Um local destinado especialmente à prática de futebol, fruto da luta dos vascaínos, o maior templo do futebol brasileiro. Os portugueses puderam se preparar melhor e se aclimatizaram com a cidade. Eles precisavam vencer, porque defendiam a honra do seu país. O Vasco, tão temido, os Camisas Negras, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, como a reformulação de elenco, não permitiria ser vencido no seu estádio.

Antes do referido embate, o Vasco havia viajado até Santos/SP para algumas partidas. A equipe vascaína enfrentou um combinado santista no dia 14 de julho e logo no dia seguinte, ou seja, quando o Sporting enfrentava o Fluminense, o Vasco voltou a campo para enfrentar a Portuguesa/SP. Embora tenha vencido os dois jogos e levado uma taça, de fato, o cansativo trajeto entre Rio e São Paulo, concomitantemente com partidas sempre bem disputadas, em nada favoreceria o desempenho da equipe vascaína no match intercontinental. Estamos falando de uma época em que os meios de transportes entre os dois estados não permitia o deslocamento tal como na atualidade, com muito mais comodidade. O Vasco venceu dois jogos, levou uma taça, mas chegaria desgastado para o seu primeiro encontro intercontinental.

O C.R. Vasco da Gama em Santos

O QUADRO CARIOCA OBTEM DOIS BELLOS TRIUMPHOS – SABBADO ABATEU O COMBINADO SANTISTA E DOMINGO DERROTOU A A. PORTUGUESA.

SANTOS, 14 (A.A.) – O encontro de hoje, entre o primeiro quadro do Club de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e um combinado da Associação Santista, terminou com a Victoria do team carioca por 2 goals a 1.

(…)

SANTOS, 15 (A.A.) – Em benefício da Santa Casa de Misericordia, desta cidade, realizou-se hoje o esperado jogo entre Vasco da Gama, do Rio, e A. Portugueza, daqui, em disputa da taça ‘Alberto Baccarat’.

(O Paiz, 17 de julho de 1928)

Na partida contra a Portuguesa/SP, assim se constituíram as equipes:

VASCO – Jaguaré, Itália e Espanhol; Rainha, Nesi e Mola; Baianinho, Pepico, Russinho, Américo e Santana.

PORTUGUESA – Xisto, Nelson e Alvaro; Costa, Felisberto e Abelha; Brandinho, Cruz, Gonzales, Octavio e Arnaldo.

De volta à Capital Federal, o Vasco se preparava para enfrentar o Sporting. Durante a semana que precedia o jogo, a delegação portuguesa demonstrava confiança, porque aproveitou o período e fez vários treinamentos. Eles acreditavam que poderiam jogar melhor do que a partida contra o Fluminense e vencer o Vasco, mas a imprensa duvidava, acreditava no team vascaíno.

OS PORTUGUEZES CONTAM VENCER

O Dr. Salazar Carneiro, da delegação do Sporting, em entrevista, declarou, sob o jogo de amanhã:

‘Tenho certeza de que no embate com o C.R. Vasco da Gama o conjunto portuguez se rehabilitará de fórma surprehendente.’

Se o Vasco jogar como todos esperam, os lusitanos soffrerão mais uma estrondosa derrota.

(O Paiz, 21 de julho de 1928)

Para o encontro foi oferecido uma taça:

TAÇA ‘PRINCIPE DE GALLES’

Será conferida ao vencedor do ‘match’ Sporting x Vasco, uma rica taça denominada ‘Principe de Galles’, gentilmente offerecida pela firma Costa, Penna e Cia.

(Diário Carioca, 22 de julho de 1928)

No chuvoso 22 de julho de 1928, o Estádio de São Januário, presenciou um “pequeno” público de pouco mais de 15 mil torcedores. Se para os padrões atuais é um grande público para o nosso amado estádio, em nada se comparava aos 40 mil que lotavam o gigante de concreto vascaíno nos grandes jogos. Os jornais noticiavam o tempo ruim durante vários dias e somou-se a isto o aumento do valor do ingresso que também foi motivo de reclamação desde o jogo entre tricolores e o Sporting. No campo, houve um empate de 1 a 1. O Sporting saiu na frente, com a ajuda de uma falha do brilhante defensor vascaíno Itália, e o Vasco conseguiu empatar logo em seguida. Na social de São Januário, torcedores vascaínos vaiavam o time e em tom de ironia aplaudiam os jogadores do Sporting, como protesto pela atuação do Vasco.

As equipes:

VASCO – Jaguaré, Espanhol e Itália; Rainha, Nesi e Mola; Paschoal, Pepico, Russinho, Américo e Santana.

SPORTING – Roquette, Carlos Alves e Jorge Vieira; João Francisco, Serra e Martinho Santos; Liberto Santos, Armando Martins, João Santos, Cervantes (substituído por Teixeira) e José Manoel.

Gols: Teixeira (Sporting) e Pepico.

Árbitro: Luiz Vinhaes

Horário: 15:30

INGRESSOS:

Camarotes da curva – 70$000

Cadeiras numeradas na curva – 15$000

Ingresso – 6$000

Imagem 1 – O Paiz, 24 de julho de 1928.



Imagem 2 e 3 – Diário Carioca, 24 de julho de 1928.





O Vasco em sua primeira partida intercontinental não pode vencer, mas também não foi derrotado. Foi um empate de um time ainda em formação. A pressão vinda da social e arquibancada era constante, somente seria resolvida em 1929 com a conquista do Campeonato Carioca. Como não houve vencedor, a taça foi oferecida à equipe portuguesa. Embora ficasse certo amargo, anos mais tarde, derrotamos o Sporting numa partida histórica. Vencemos em 10 de junho de 1956 os portugueses, na inauguração de seu estádio à época, Estádio José Alvalade, pelo placar de 3 a 2.

Fonte: Blog Expresso da História - Ao Vasco Tudo