Juninho: 'Fiz a foto com a camisa na mão, mas só divulgariam se eu acertasse'

Quinta-feira, 20/12/2012 - 07:58

Um e-mail de Olavo Monteiro de Carvalho para o empresário de Juninho. O interesse do Vasco na permanência de Juninho, com tantos problemas no dia a dia, era mais virtual do que real. E o Reizinho preferiu sair após ter um bom ano a se desgastar e terminar a carreira de forma dramática, como aconteceu com outro ídolo: Edmundo.

Por que sair de um Vasco em crise e jogar nos EUA?

Tenho muito respeito e admiração pelo Roberto, mas o clube nunca poderia ter chegado numa situação dessas. Ele não é o único culpado, claro, mas por que depois da Libertadores não enxugaram o elenco? Por que demoraram tanto para subir os garotos? Por que não falar a verdade para o torcedor, dos problemas, de tudo? Era isso que eu queria. Infelizmente o clube está muito desorganizado, com ambiente pesado, sujo.

Quando você diz "sujo" quer dizer o quê? Corrupção?

Não falo em corrupção, mas o ambiente assim é propício para gente entrar e se aproveitar do clube. Conselheiros, empresários, jornalistas, pessoas que dizem que estão próximas do Roberto. Isso me incomodava.

Afetava de que forma?

Não afetava diretamente porque para essas pessoas eu sou um risco. Sou um ídolo do clube e estava jogando para caramba. Se a situação fosse ruim e todo mundo estivesse se sacrificando para buscar um pouco de paz, talvez fosse melhor. Não foi escolha da parte econômica. Mas era uma situação em que não dava para renovar.

Você tentou falar sobre esses problemas com o Roberto?

Nunca fiz nenhuma reunião com ele sobre isso. Não era minha função. Eu estava ali para jogar futebol. Não poderia me dar o luxo de resolver outros problemas. O Vasco tem diretor, técnico, presidente, vice-presidentes. Mesmo com meu peso e importância, se me metesse nisso poderia terminar como um dos culpados. Como capitão, tinha que cobrar os nossos direitos. Se partisse deles para mim, poderia ajudar. Mas tinha que guardar minhas energias.

Que proposta o Vasco fez para você?

A única coisa que aconteceu foi uma troca de e-mails do Olavo com o (José) Fuentes (empresário de Juninho), quando ele falou em procurar um patrocinador para ceder minha imagem à empresa e eu ficar no clube. Mas acho que nem se concretizou essa ideia. Fora isso, tive algumas conversas com o Cristiano Koehler, com o Eduardo Machado (vice de marketing). Falaram da possibilidade de despedida no Maracanã. Claro que seria legal uma festa de 80 mil pessoas, mas não faço questão. Eu queria era ganhar. Queria um clube organizado. Não queria ficar por seis meses e servir de escudo para tudo isso.

Parece que a saída era uma ideia que já vinha de tempos, com tantos problemas...

O fim de ano todo foi muito ruim. Mas desde a eliminação na Libertadores que as coisas foram muito difíceis. Depois, tivemos uma sequência de vitórias que escondeu as coisas negativas. Mas um mês depois de quando voltei, há um ano e meio, já teve uma reunião sobre salários. Este ano, o meu primeiro salário só foi pago em abril. E agora as notícias: todo dia era gente saindo, ninguém chegava.

Você acha que só fica no clube quem não tem mercado?

Quem tem proposta e precisa fazer um planejamento de carreira acho que vai dar preferência por sair.

Como surgiu a proposta dos EUA? E o Atlético-MG?

Foi no fim da temporada que surgiu o interesse. Quando o Andy Roxburgh (diretor do clube) veio para o Footecon, ele mostrou interesse. Tomamos um café depois desse dia. Fui lá (a Nova York), fiquei três dias, gostei de tudo, mas não tinha nada acertado. Tinha que ver escola para minhas filhas. Fiz a foto com a camisa na mão, mas só divulgariam se eu acertasse. Fiquei entre o Vasco e o New York, apesar de ter ficado muito tentado com a proposta do Atlético-MG. O Cuca me ligou várias vezes, gostei do presidente (Alexandre) Kalil, sei da estrutura. Sei que lá iria fazer parte do elenco, seria mais um, mas preferi sair.

Você temia terminar o ano no Vasco rebaixado, como aconteceu com o Edmundo?

(Pausa) Temia... Temia passar por uma situação ruim. Não queria correr o risco (de cair)... Não queria que me parassem, que eu fosse obrigado a parar. Que fizesse seis meses ruins e virasse culpado. Lógico que hoje o time ainda é bem melhor do que de 2008, mas não queria correr esse risco.

Como suas filhas e a família reagiram nesse fica, não fica?

Criança não tem muita noção das coisas. Mas não deixaram de sofrer algumas consequências do que estava passando.

Fonte: Extra Online