Em entrevista, Cristóvão fala sobre sua passagem pelo Vasco

Quarta-feira, 12/09/2012 - 13:29

Depois de pouco mais de um ano, Cristóvão Borges não teve dificuldades para dormir ou acordou antes mesmo de o despertador tocar. Aliás, desde que deixou o comando do Vasco, na última segunda-feira, seus horários passaram a não ser nada rígidos. Livre da pressão sofrida enquanto esteve à frente da equipe cruz-maltina, ele quer levar ao pé da letra a frase que reproduz com bom-humor ao se referir a seus conterrâneos: “Baiano não é preguiçoso. Ele sabe aproveitar a folga”.

O sorriso, muitas vezes ainda tímido, vai aos poucos tomando conta do rosto de Cristóvão. Sinal de que, mesmo desempregado, o que prevaleceu foi o desejo de romper a ligação com o Vasco por julgar que o momento era certo e por pensar que deveria, ao menos agora, priorizar sua qualidade de vida. Na fase de maior pressão, o treinador intensificou as sessões de terapia. Encontrou na análise psicológica um meio de entender o pesado ambiente no qual estava envolvido.

Cristóvão diz que a prioridade, neste momento, é curtir o tempo livre. Futevôlei no Leblon, corrida em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas e refeições com o amigo Ricardo Gomes estão na pauta. Mas as férias forçadas não devem durar muito tempo. Ele conta que, na última segunda-feira, enquanto dirigia de São Januário até sua casa após anunciar o pedido de demissão, recebeu o telefonema de um empresário e de dois clubes: um do Brasil e outro da Arábia Saudita. Mas não achou que fosse a hora de aceitar um novo compromisso. Assim como traçava a estratégia de jogo para Juninho, Felipe e companhia, tem a sua tática definida. O próximo passo da carreira precisa ser o da sua consolidação como treinador de ponta. Enquanto isso, aproveita o momento de descanso.

- Procuro enxergar a vida da forma mais simples possível. Sou baiano e fico naquele estilo Dorival Caymmi, contemplando o ócio - brincou.

Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Cristóvão deixou claro que sua ligação com o Vasco ainda não terminou. Nesta quarta-feira, estará à frente da televisão para assistir ao jogo contra o Palmeiras, o primeiro depois da derrota por 4 a 0 para o Bahia, que determinou sua saída. Além disso, mostrou-se empolgado com a chegada de Marcelo Oliveira a São Januário e deu seu aval para a contratação do técnico que recentemente deixou o Coritiba.

Próximo passo da carreira

"Agradeço a oportunidade de ter feito esse trabalho no Vasco, onde contei com a ajuda de muita gente trabalhando em conjunto. Assim como os jogadores que foram convocados para a seleção brasileira e outros que foram negociados, eu tive essa valorização. Depois de anunciada a minha saída, recebi duas sondagens pelo telefone, uma de um clube do Brasil e outra de fora. Mas o próximo passo tem que ser bem pensado. Mais do que qualquer coisa, tenho que buscar um clube que me dê condição de trabalho. Isso requer tranquilidade. Não tenho pressa. Tenho que fazer uma escolha para trabalhar e me manter no nível em que saí do Vasco".

Ajuda psicológica

"Fala-se muito de pressão, mas todo mundo que trabalha numa equipe de ponta convive com isso. Claro que para mim foi uma novidade, pois nunca havia dirigido uma equipe desse porte. Já fazia análise, e nesse período ela me ajudou muito. Pude compreender muitas situações difíceis, e ela também me auxiliou a entender melhor a reação das pessoas em algumas situações. Mantive a rotina da terapia, mas quando era um período de pressão maior, conversava mais sobre os assuntos complicados".

Marcelo Oliveira

"É um bom nome, um excelente treinador. Mostrou isso no trabalho que fez no Coritiba. Não me perguntaram nada, mas se fosse consultado daria minha opinião. Mas não há necessidade, porque a diretoria do Vasco acompanha o trabalho dos treinadores e conhece o mercado".

Decisão de sair

"O ambiente do jogo contra o Bahia pesou bastante. Mas aprendi que, no futebol, primeiro se deve dar um tempo. Preferi esperar amanhecer. No dia seguinte, analisei e pensei que minha saída contribuiria mais do que minha permanência. A sensação é de que dirigi o Vasco por 10 anos, tamanho o dinamismo e a velocidade com que tudo aconteceu".

Peso da saída de jogadores

"Não tem como negar que influenciou o desempenho do time. Num primeiro momento, conseguimos encontrar soluções. Já pesa se saem dois, mas foram todos juntos, e para reequlibrar leva tempo. Aí se paga caro. Não dá para dizer qual foi a ausência mais sentida, pois cada um tinha sua importância em seu setor. Se sai uma peça, se desequilibra".

Contratações

"O Vasco sempre recebe muitas ofertas e chegam nomes interessantes. Sempre buscamos qualidade, mas tudo precisou ser feito dentro das possibilidades do clube. Por exemplo, eu estava preocupado com o fato de termos apenas o Alecsandro como centroavante no elenco e indiquei o Grafite. Mas era muito caro. Sempre fui consultado sobre as contratações".

Felipe

"Uma vez eu disse a ele que não sabe lidar com o que acontece na nossa relação. O Felipe sempre foi o jogador mais próximo de mim, mas quando passei a ser o treinador, precisei mudar minha postura e ter um distanciamento. Acho que ele não entendeu isso num primeiro momento. O Felipe sempre foi acostumado a jogar e se manifestou sobre isso. Compreendo e gosto dele demais. Podemos ter ficado estremecidos, mas não tem qualquer mágoa. O que interferiu na nossa relação foi o fato de ele não ter sido escolhido por mim em alguns jogos. Não me despedi do Felipe na segunda-feira porque ele já havia deixado o clube depois que me reuni com o presidente, mas com certeza ainda vamos nos falar".

Episódio do futevôlei

"Isso não interferiu na minha decisão de sair. Enquanto estive no Vasco, conduzi as questões do Felipe de forma que não interferiram no meu trabalho. Não julgo, minha preocupação é no dia a dia dos treinos. Se o jogador não tem comportamento de atleta, está se prejudicando e vai ter dificuldade de jogar. Se isso aconteceu algumas vezes com o Felipe, de repente foi porque ele poderia ter tido outro tipo de comportamento. Mas nunca interferiu na minha parte".

Torcida

"Claro que meu desejo é ser sempre aplaudido e nunca ser chamado de burro. Mas quando isso aconteceu, eu tinha convicção do que estava fazendo. Por isso, nunca fiquei abatido".

Vasco pode lutar pelo título?

"Pode, mas a reação tem de ser rápida. Primeiro, com uma vitória sobre o Palmeiras. Confio no grupo, conheço os jogadores. Eles têm uma liderança positiva e de força. Por isso, acredito que vão vencer a partida desta quarta-feira. Vou torcer muito pela televisão".

Mensagem para os jogadores

"Quero agradecer por tudo o que fizeram. Sem vocês eu não conseguiria. Também mando meu muito obrigado a todos os funcionários do Vasco por essa experiência, que não foi apenas esportiva, mas de vida".



Fonte: GloboEsporte.com