Delegada Martha Rocha: 'Não dá mais para montarem um palco de guerra'

Quarta-feira, 29/08/2012 - 09:01

O Ministério Público decidiu ontem banir a Torcida Jovem do Flamengo das arquibancadas por seis meses. A decisão aconteceu após a morte do vascaíno Diego Martins Leal, 30 anos, dia 19, por dois integrantes da organizada. A promotoria instaurou inquérito civil para investigar se este crime foi retaliação ao assassinato de Bruno de Santa Ana Saturnino, torcedor do Flamengo, em maio.

Os dois casos foram interligados, já que os torcedores do Flamengo cantaram dois hinos de exaltação a Bruno, conhecido como Feio, quando chegaram ao estádio. “A medida pretende interromper o ciclo de violência e de vingança entre os torcedores”, explicou o promotor Pedro Rubim.

Até fevereiro de 2013, faixas, bandeiras, instrumentos musicais e camisas da agremiação estão proibidos em todo o país. Caso não cumpra, a torcida pode ser multada em R$ 5 mil, além de receber novas suspensões. A organizada também deve apresentar ao Grupamento Especial da Polícia dos Estádios (Gepe), em 30 dias, o nome de seus líderes para cadastro. A Força Jovem Vasco também foi punida com a mesma medida na semana passada.

O Ministério Público voltou ontem a afirmar que não haverá punições individuais para os torcedores, porque o Ministério dos Esportes se comprometeu a cadastrar os torcedores e instalar catracas biométricas, mas ainda não cumpriu. Ontem, no entanto, o diretor do departamento de Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério dos Esportes, Paulo Castilho, afirmou que isso não será feito.

“Nunca nos comprometemos em fazer o cadastro e, sim, facilitar sua elaboração. Em até seismeses vamos disponibilizar computadores e um programa para que cada estado fa- ça o seu, com suas federações. Também não vamos instalar as catracas com identificação biométrica, esse projeto foi cancelado”, disse.

MARTHA ROCHA - CHEFE DE POLÍCIA CIVIL

“Não dá mais para montarem um palco de guerra”

A Polícia Civil estendeu a visão habitual sobre as ações de violência que permeiam o comportamento das torcidas organizadas e estabeleceu nova ordem para tratar o assunto. A lente de aumento que possibilitou aquilatar a extensãoreal do problema que afeta a população fluminense partiu de Martha Rocha, a delegada chefe de Polícia, que promete não mais admitir empurrar para debaixo do tapete o lado feio da festa dos estádios.

A Polícia Civil inaugurou no Estado do Rio de Janeiro um novo modelo de repressão às brigas de torcida organizada?

— Agora a orientação aos delegados é endurecer. E isso implica mudar uma cultura. Implica mostrar que não dá mais para algumas pessoas montarem um palco de guerra, na ida ou na volta de um estádio. O que desejo para o nosso povo é o mesmo que o torcedor deseja: paz.

Como a senhora analisa o fato de a Justiça ter negado os habeas corpus para sete torcedores presos?

— Ao negar os habeas corpus, o Judiciário mandou a mensagem de que apoia o posicionamento da Polícia Civil. Está sendo criado um movimento solidário entre a sociedade e as autoridades para estancar a violência que marca as torcidas organizadas, dentro ou fora dos estádios.

O que fica como lição para os jovens presos?

— Que foram presos domingo, hoje (ontem) é terça e continuam presos, e provavelmente não sairão da prisão em menos de 20 dias. Valeu a pena?

O que a senhora vai propor à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro na reunião de amanhã (hoje)?

— Eu quero ouvir o que eles têm a dizer. Depois, pretendo dar uma aula de Direito a eles. Pelo desconhecimento jurídico, o pessoal da federação não têm a exata noção do que pode acontecer aos torcedores que se envolverem com violência a partir de agora.

Fonte: Marca Brasil