Maria Helena, psicóloga do Vasco, fala do seu trabalho com a Seleção Feminina

Quarta-feira, 25/07/2012 - 09:50

Foram três doídos vice-campeonatos, no Mundial de 2007 e nos Jogos Olímpicos de 2004 e 2008. Depois, veio a derrota nas quartas de final da Copa do Mundo de 2011, com o requinte de crueldade de um gol sofrido no último minuto da prorrogação e a eliminação nos pênaltis diante dos EUA. Se a falta de uma estrutura de ponta no Brasil sempre foi obstáculo, a seleção brasileira feminina de futebol chega aos Jogos Olímpicos de Londres tentando superar outro trauma: o de ter visto, seguidamente, grandes conquistas escaparem por detalhes. Caberá a este time abrir a participação do país nas Olimpíadas, hoje, às 14h45m (horário de Brasília), em Cardiff, contra Camarões.

Para tornar o sonho da medalha de ouro realidade, até parte da estrutura da seleção masculina foi emprestada às jogadoras, que fizeram uma longa preparação. Mas um dos papéis mais importantes caberá à psicóloga Maria Helena Rodriguez, de 52 anos, 26 deles dedicados ao Vasco.

Pela segunda vez, ela acompanha uma seleção feminina de futebol nos Jogos Olímpicos. A primeira foi em 2004, que terminou na dramática derrota do time de Renê Simões na decisão do ouro para os EUA. Há quase dois meses, ela acompanha diariamente as jogadoras. Traumas do passado, a síndrome do quase conquistar o mundo, tudo isso se junta à percepção das jogadoras de que, pela estrutura limitada no Brasil, saem em desvantagem nas grandes competições internacionais.

Estrutura de apoio

Maria Helena garante ter encontrado um grupo forte. O trabalho é metódico. Primeiro, fez entrevistas individuais com as jogadoras, pedindo que falassem de si próprias, fazendo uma autoavaliação. Depois, na observação do dia a dia, traçou a avaliação de cada uma. Mais adiante, passou a trabalhar em dinâmicas de grupo e, nos dias anteriores aos jogos, fará sessões de concentração e relaxamento. Elas são levadas a visualizar questões como qual seu sonho e qual seu objetivo.

— Psicóloga não ganha título ou jogo, dá suporte. Temos valorizado a autoestima. Elas são muito determinadas, detalhistas, querem o máximo de perfeição, se cobram muito — diz Maria Helena, que não vê os resultados passados como grande preocupação. — Em todo esporte de alto rendimento isso ocorre. Fator emocional, ansiedade, expectativa, tudo isso mexe com as atletas.

Os traumas recentes se tornam ainda mais significativos pelo fato de que quase todo o elenco atual esteve na última Copa do Mundo. A cada derrota da seleção brasileira feminina, o país se acostumou a ouvir lamentações das jogadoras a respeito da falta de campeonatos no Brasil, de investimentos, de estrutura e de jogos de preparação contra grandes potências. Na reta final para os Jogos Olímpicos houve um sopro de melhora. Ainda que com resultados pouco animadores, desde março, o time jogou duas vezes com o Canadá, uma com o Japão, campeão mundial, e outra com os EUA, vice. Desses jogos, venceu uma vez o Canadá e perdeu as outras três partidas para os rivais. Apesar dos resultados, a comissão técnica garante que a experiência deixou lições.

O início da fase de treinos na Granja Comary, onde a seleção ficou 25 dias, contou até com a presença do fisiologista da seleção masculina, Rogério Neves. Depois, a equipe jogou um torneio na Suíça. Ao todo, o time está junto há quase dois meses.

— Ainda há questões no Brasil como a falta de investimento dos clubes, a dificuldade financeira. As jogadores sentem esse processo, sentem-se pressionadas a fazer o melhor para conquistar espaço no país — afirma Maria Helena.

— Mudou muita coisa. Agora temos estrutura, uma comissão técnica maior. Tem nutricionista, fisiologista, várias coisas que não tínhamos — diz Marta, estrela do time.

Técnico atrás da redenção

A nova estrutura ampliou a confiança na sonhada conquista. Mas no dia a dia das jogadoras, no entanto, as conversas sobre as chances desperdiçadas num passado recente são recorrentes e inevitáveis.

— Desta vez, o ouro sai — afirma a zagueira Daiane, conhecida como Bagé.

A liderança de Marta é outro fator positivo destacado pela psicóloga:

— Ele conquistou coisas com que todas sonham, como a melhoria financeira, o reconhecimento internacional. Mas no dia a dia ela é maravilhosa, comporta-se como mais uma — diz Maria Helena.

O comando do time caberá a Jorge Barcellos, de 45 anos, ele mesmo um remanescente de campanhas traumáticas, como a medalha de prata em Pequim e o vice na Copa do Mundo de 2007. Mas foi com ele uma das mais marcantes conquistas da seleção: o ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio, também em 2007. Ele acha que as derrotas não pesarão sobre as jogadoras.

— O que conta é a experiência que elas tiveram. Este grupo está maduro para conquistar a medalha de ouro — diz o treinador, elogiando a estrutura de trabalho. — Tudo foi planejado em detalhes, com profissionais trabalhando em conjunto. Enfrentamos equipes que vão estar nas Olimpíadas e tiramos muitas informações que podem úteis.

A dois dias da estreia, o time sofreu uma baixa. A meia Elaine, machucada, foi cortada, e a lateral Danielli, chamada para o seu lugar. Assim como Mano Menezes, Jorge Barcellos também fechou o treino de ontem.

O Brasil deve jogar com Andreia, Fabiana, Bruna, Aline Pelegrino, Renata Costa e Maurine; Francielle, Formiga e Ester; Marta e Cristiane.

Fonte: O Globo