Em entrevista, Humberto Rocha fala sobre as categorias de base do Vasco

Quinta-feira, 28/06/2012 - 11:05

Comente para os leitores do SuperVasco um pouco de sua formação, bem como sua trajetória no futebol.

Minha carreira começou em 1980 aqui no Vasco da Gama logo depois de um período como atleta não profissional, já estudando – aos 17 anos já estava na universidade, comecei a fazer estágio aqui no próprio Vasco e daí em diante não parei mais. Fui assistente técnico, fui preparador físico de todas as categorias chegando em 1990 nos profissionais onde o treinador era Zanata, o Luís Flávio era o preparador físico e eu era um dos assistentes. Depois disso, minha carreira seguiu, estivemos em clubes de segunda e terceira divisão – Tomazinho e Nova Cidade, também Taubaté. Nos profissionais, passamos por Fluminense no Rio durante oito anos como coordenador, Botafogo por dois anos, Flamengo por dois anos, e também de oito a dez anos como coordenador e administrador das seleções brasileiras de base. Também sou professor universitário da PUC – Pontifícia Universidade Católica – do Rio de Janeiro desde 1985, tendo gestão em administração esportiva, pela Fundação Getúlio Vargas, especialização em futebol de campo pela UFRJ e especialização em treinamentos de alto nível pela Universidade Gama Filho.

Considerando que esteja no clube desde que houve a transição de poder e o início da administração Roberto Dinamite, fale-nos de sua primeira impressão ao chegar ao clube.

A gente quando começa uma gestão no local em que teoricamente a gente não conhece, no Vasco eu passei pelo Vasco durante muitos anos pois também fiquei muitos anos fora. Então, eu precisava reaprender o que era o Vasco. Então, a gente sempre se pauta em três fases distintas: observar, planejar e executar. A primeira fase nós observamos, vimos o que o Vasco tinha de bom; planejamos o que o Vasco precisaria e hoje estamos na fase de execução. Isso daí são momentos que não são de uma hora pra outra: são momentos que dependem de muitas variáveis: tempo, dinheiro, vontade política, e as reais necessidades que vão vir a ser colocadas. Nós estamos agora na fase de execução. Como disse, é preciso que esse trabalho leve pelo menos cinco anos para que isso possa ser bem realizado. Ao chegar no Vasco, identifiquei muitas coisas boas, como alguns jogadores de qualidade, mas em compensação a infraestrutura era totalmente precária, em desencontro ao que se pede hoje em futebol moderno e o que num clube vanguardista possa encontrar. Durante três para quatro meses, fizemos um levantamento, não só da parte estrutural como também da parte pessoal, das qualificações profissionais e, posteriormente, começamos a fazer as substituições que achávamos necessárias de se fazer de pessoal, e também tentando fazer com que a infraestrutura nos atendesse plenamente. Hoje, nós temos 40 a 50 por cento daquilo que nós podemos fazer e daquilo que nós desejamos. Ainda falta muito, mas eu tenho certeza de que nós estamos andando pra gente.

As estruturas físicas oferecidas (alojamentos, acomodações e outros), hoje, pelo Vasco para as categorias de base são alvo de muitas críticas por parte de todos. O que de fato você encontrou ao chegar?

A estrutura que eu encontrei, como disse no Vasco, era uma coisa muito parecida com a década de 1980 quando aqui estava. O clube ainda não tem os campos de treinamento, o transporte sendo feito para diversos locais distintos, as dificuldades todas de campo de futebol, nós estamos numa cidade cosmopolita, numa cidade com muita gente diferente e com sua área demográfica totalmente preenchida. Tínhamos que ver um local apropriado para que colocássemos esse centro de treinamento. Presidente Roberto Dinamite, com muita sensibilidade, entendeu isso e, juntamente com sua diretoria, com Dr. Peralta, Dr. Mandarino, Dr. Nélson Rocha, eles vieram já a alguns poucos anos procurando por uma área específica, não só pro futebol profissional como também para a base. Hoje, já existe essa área que é o Centro de Treinamentos de Itaguaí, onde o Vasco está modernizando tudo e temos certeza que, em breve, os vascaínos vão ficar muito felizes quando forem lá visita-la.

O trabalho desenvolvido pelo Grande Benemérito José Mourão entre 2004 e 2008 na gestão Eurico Miranda revelou alguns bons talentos que renderam dinheiro ao clube: Alan Kardec, Souza, Alex Teixeira, Phillipe Coutinho, Guilherme por exemplo. O que, de fato, mudou daquela filosofia de trabalho para a atual?

Como disse anteriormente, nós encontramos jogadores aqui com qualidade tal como esses citados por vocês e a ideia nossa é que a gente dê prosseguimento a esse trabalho que, na verdade não é um trabalho do José Mourão, mas sim um trabalho do Vasco desde a década de 1980. O Vasco sempre foi um grande celeiro na formação de jogadores: Romário, Pituca, Clóvis, o próprio Roberto Dinamite. Se vocês forem pegar o histórico do Vasco irão ver que o Vasco é, historicamente, um revelador de grandes talentos. A nossa ideia é dar prosseguimento a essa revelação de talentos não só com esses nomes que foram citados como também de muitos outros. Eu tenho certeza de que vocês vão ver o Indio – que já estava aqui desde novinho, mas também vocês estão vendo o Choco, o Danilo, o Láuder, o Alex que é 1998, o Pet, o Andrey, todos captados também na nossa geração e temos certeza de que o Vasco vai dar prosseguimento a esse trabalho. Mas, torno a enfatizar: para que isso ocorra, é importante termos uma estrutura sólida e qualificação profissional. Sem isso, não existe bom trabalho que vai ser só empírico.

Nessa transição, você considera a filosofia de trabalho implantada para as categorias de base, hoje, como a ideal?

Quando a gente pensa em implantar uma filosofia, a gente pensa em todas as variáveis. Essa filosofia tem que ter uma linha média de baixo pra cima, no caso começando na categoria pré-mirim, de observação no futsal até os vinte anos, posteriormente no profissional. Agora, filosofia é uma coisa; trabalho é outra. A gente pode ter uma filosofia de ideias, uma filosofia de vida, mas que não depende só da gente para que ela dê certo. E hoje, a gente considera que está bem próximo do que a gente considera como satisfatório. O ideal ainda nós não encontramos, mas estamos em busca dela.

Quais são, verdadeiramente, os critérios que sua direção vem adotando para promoção de jogadores dos júniores à equipe profissional?

O critério que o Vasco adota para promoção aos profissionais é o critério técnico. Que o jogador tenha qualidade suficiente para que ele vá aos profissionais e se mantenha pelas suas qualidades. Qualidade não só momentânea, mas qualidades futuras. Um atleta quando vai da base aos profissionais passa por um período de oscilação. Ele pode entrar muito bem numa partida, não ir muito bem numa outra e isso tem que ser observado por nós todos, não só da base como também dos profissionais que aqui estão. Pois a gente sabe que existe uma oscilação: até que ele atinja uma maturidade esportiva suficiente para que ele possa suportar não só os elogios, mas principalmente aquele momento em que os momentos não são tão bons. É importante que ele tenha uma base emocional, estrutural suficiente para ele suportar os reveses que têm na carreira.

Nessa transição de jogadores que saem dos júniores para a equipe profissional, quais são as funções que o profissional Gaúcho tem exercido? O trabalho desse profissional tem sido satisfatório?

Gaúcho é uma cria do Vasco, ele mais do que ninguém ele tem plena visão do que acontece. Ele foi criado aqui dentro desde jovem e, na nossa entrada aqui com Roberto Dinamite, ele veio para ser nosso treinador de júniores. Ele fez uma seleção muito boa, da OPG, foi campeão do campeonato carioca, e depois quando foi para os profissionais ficou fazendo esse elo. Ele, mais do que ninguém, conhece bem a fundo os jogadores da base. Desde o mirim até os júniores, apesar de que ele acompanha mais os júniores, mas acompanha mesmo: acompanha observando os jogos; acompanha conversando com os jogadores; acompanha conversando com a comissão técnica e também para o resto da direção. Gaúcho é uma pessoa muito importante nesse processo para nós.

Comente um pouco do trabalho dos técnicos Cássio, Tornado e Galdino. Você confia plenamente em seus trabalhos?

O Cássio é um treinador muito interessante. Cássio é uma pessoa que conheço bem porque fui eu que o trouxe para o Vasco: fui buscar ele lá em Santa Cruz numa escolinha, não só o Cássio como outros atletas. Foi a captação que eu falei antes, que participei bastante dela, não só eu como outros profissionais que passaram por aqui também. E é um garoto que sempre mostrou para que veio. Não só como atleta, pegou todas as categorias infantis, jogou o mirim aqui, chegou à seleção brasileira de base também adulta e, agora, está se revelando um grande treinador: estudando, está se formando na faculdade, é interessante e seu sucesso, para quem o conhece bem, não é novidade. É um jovem treinador com muito futuro. O Tornado é um velho amigo de batalha, de nós jogarmos contra na segunda, na terceira divisão profissional, ele depois veio pro Vasco onde jogou. Também estudou. Passou pelo Fluminense comigo também, passou por clubes no profissional – o Goiás – e veio dar sua contribuição aqui no Vasco. E o Galdino talvez seja o mais antigo de todos nós aqui dentro e, nesse processo, trabalhou com vários treinadores – até Antônio Lopes, Gaúcho... Com vários treinadores. Então, o Galdino tem dado essa contribuição por sua experiência que é muito grande. Todos têm dado da melhor forma aquilo que eles podem dar. Esperamos que isso daí dê certo com a colocação de jogadores dentro do profissional.

Quanto ao clube, como é que o Vasco negocia junto aos empresários, representantes e pais dos atletas de base? Existe uma maior aproximação do clube a eles?

Essa figura do empresário, do representante ficou, assim, muito confusa. As pessoas confundem o empresário...acho que o empresário é aquele que trás negócios para o clube, e representante é aquele que representa o atleta em si, nos seus anseios, nas suas necessidades, nos seus desejos perante ao clube. É necessário que haja uma aproximação do clube com o representante do atleta. Muitas vezes o representante pode ser o pai, pode ser o tio, pode ser um representante da área, mas é necessário pois é ele que vai cuidar das coisas do atleta perante ao clube. A maior parte das vezes para que não haja um desgaste, não só pelo clube também pelo representante do atleta, você vai ao intermediário, e muitas vezes hoje em dia, o intermediário é o representante. Agora, é importante se frisar que, por mais que se diga, nenhuma decisão na base é tomada sem que haja comum acordo com toda a diretoria. Ou seja: nenhum contrato, nenhum tipo de assinatura, nenhuma decisão tomada sem que a direção do Vasco seja ouvida, ou melhor, seja consultada e que ela dê autorização para que seja feita. Digamos: um contrato de formação, um contrato profissional, uma dispensa de um atleta, uma aquisição do atleta... Tudo é feito de comum acordo. Não existem mistérios, não existem segredos! Por um tempo eu ouvi dizer que “existiam coisas na base e que as pessoas não sabiam”...palavras jogadas ao vento! Na verdade, tudo aqui é feito oficialmente! Não existem segredos. Inclusive, existem fichas de avaliação para que o atleta entre no clube e para que o atleta saia. E deve ser assinada pelo treinador, pelos seus colaboradores, pelos observadores, pelo gerente e, posteriormente, pela diretoria e pelo Presidente. Então, qualquer coisa que os leitores do SuperVasco escutem e ouçam sobre esses rumores não acreditem, pois não é verdade. Tem tudo documentado aqui comigo e fui uma das metas nossas quando entrei: tudo documentado, nada escuso, nada obscuro.

Com relação à promoção de jogadores, alguns atletas tais como Carlos Antônio, Nílson, Lipe e Cestaro que foram bem nos júniores acabaram não vingando nos profissionais. Outros, hoje, como Luciano, Marlone, Morano, ainda não tiveram suas chances devidas, mesmo com talento reconhecido nas divisões de base. Como esses atletas serão tratados? Haverá chances para eles ainda nos profissionais?

Na verdade, o que se procura no futebol - e no Vasco não é diferente – é essa mescla da experiência com a juventude. Você poder colocar os jogadores mais jovens, junto com os jogadores mais rodados, e que eles possam aos poucos ir galgando e que no futuro sejam eles os jogadores mais experientes, como é o Juninho, o Felipe e o Carlos Alberto. A equipe profissional do Vasco, hoje, tem jogadores bem rodados ao lado de jovens: o Fágner é jovem, o Thiago Feltri é jovem, o Dedé é jovem, o Rodolfo é numa idade mais mediana, o Carlos Alberto é numa idade mais mediana, o Felipe Bastos é jovem, o Rômulo é numa idade jovem, o Éder Luís já é numa idade mediana...E os jogadores, na verdade, têm feito esse trabalho junto aos profissionais. Só que... A cada momento eles levam um grupo, e esses que você citou são alguns, como também já levaram outros atletas mais jovens para que possam sentir aquele saborzinho do profissional, de tal forma que possam ir e voltar. Acho que a ideia é outra: a ideia nossa é que, no futuro, a gente possa ter entre setenta e oitenta por cento de jogadores no profissional feita na base. Só que... Demora um tempo como disse: isso daí é num período de dois a três anos no mínimo para que o jogador possa galgar isso. Principalmente na parte de experiência e emocional. Isso é importante para que você possa jogar no profissional de um clube grande.

E para os atletas JhonCley, Yago, Luan Garcia da seleção brasileira e que eu, particularmente, considero o melhor zagueiro que apareceu na base do Vasco desde muito tempo? Eles podem sonhar com uma chance no time de cima em breve?

Na verdade, os jogadores citados eles estão, aos poucos, indo galgar nos profissionais. Ou seja: vão, retornam, vão retornam... Vão sendo conhecidos, vai sendo feito um trabalho elaborado pela fisiologia e pela preparação física para que eles possam ter uma complexidade física sistêmica, vão se integrando com os profissionais, a gente sabe que no futebol hoje em dia a parte física é, pelo menos, 50% do rendimento do atleta. Então, nós estamos tendo essa preocupação de entregar em condições físicas, em toda sua plenitude. Não podemos precipitar isso para que o atleta vá lá e não tenha, não só problema emocional, como problemas físicos. E sendo que eles comecem a ir devagar, que vão e retornem , joguem com a gente mais um pouco depois vão aos pouquinhos, vão sendo lançados, foram lançados alguns no campeonato carioca e eu tenho certeza de que no futuro esses atletas citados vão ser lançados também.

Desde o lamentável fato ocorrido com o menino Wendell, alguma coisa de fato melhorou em termos de estrutura física e de administração na base? Afora a inauguração do novo refeitório, o que mais foi feito?

Essa pergunta sobre o óbito do menino Wendell é uma pergunta que todos fazem. Na verdade, vamos enfatizar que aquilo lá foi uma catástrofe, aquilo foi uma coisa terrível, nós estamos sensíveis a isso, ninguém se eximiu de responsabilidades, mas é bom deixar para o leitor do SuperVasco que nós não fizemos nada que não estivesse dentro da lei. Foi um lamentável fato, mas não havia nada ilícito da parte do Vasco ou de qualquer de seus profissionais que foram feitos ali. E como exemplo, e a lei diz que só é necessário que haja médicos em atividades competitivas, e para treinamento técnico a lei não diz isso. Porque um exemplo, vamos colocar eu mesmo que sou professor de escola: se a lei dissesse que teria que haver médicos em atividades que não sejam competitivas, as escolas públicas estaduais não poderiam dar aula porque não existem médicos. Então, o Vasco não estava fora da lei. Mas como eu comentei antes, o Vasco está melhorando e muito: hoje, o Vasco tem um centro de treinamento que, ainda não é um centro de treinamento, mas que, hoje, nós treinamos em um lugar que no Rio de Janeiro ninguém tem a qualidade de campos que nós temos. Por que a qualidade de campos? Para melhorar a sensibilidade em cima dos atletas, para evitar contusões, para que haja segurança em todos os sentidos. Os médicos já estão acompanhando os treinamentos, já existe toda uma segurança, inclusive para nós que fazemos as avaliações, para os chamados “peneirões”, nós colocamos ambulância, um médico, um enfermeiro, coisa que dificilmente um clube faz no Rio de Janeiro e quiçá no Brasil. Nossos jogos de base sempre existem ambulâncias com médicos. Várias e várias vezes, principalmente contra equipes de menor investimento, os nossos médicos dão atendimento, pois normalmente eles só vão com massagista. Então, nós estamos melhorando. O nosso refeitório foi uma coisa que já vem à bastante tempo e não foi por causa disso que nós melhoramos. Então, já estava dentro de um cronograma no trabalho de Vasco como também a melhoria de nossos alojamentos, colocando os jogadores no hotel dos profissionais. Para isso, foi preciso que houvesse uma redução do número de atletas alojados – passamos de 66 para 39 – e nós estamos melhorando a cada dia mais a olhos vistos. São Januário está em plenas obras, não precisa dizer, só quem frequenta aqui...hoje, estamos vendo nosso Vasco muito diferente do que nós encontramos a quatro anos atrás. Daqui a dois ou três anos, vai estar muito diferente e para melhor! Tenham certeza disso!

Na época, eu particularmente considerei como maior erro do clube o mesmo ter permitido que o atleta fosse treinar em jejum sob calor intenso. Procede essa versão que, até hoje, ficou sem que ninguém houvesse desmentido?

Houve também na época do óbito do menino notícias de que o atleta teria ido treinar em jejum e que não é verdade. Sabemos que ele tomou um café, tomou leite com biscoito na casa onde estava hospedado e ele não estava hospedado dentro do Vasco e mesmo assim o professor (socorrista, no caso) que estava presente fez uma consulta não só com ele mas com todos os meninos se eles estavam se sentindo bem, se estavam com algum problema, se todos tinham tomado o café da manhã e todos responderam positivamente, inclusive o Wendell. Porque existe uma grande responsabilidade nossa. Ao percebermos que algum atleta não está em condições mínimas para fazer qualquer tipo de treinamento, nós sempre optamos por retirá-lo do treino. Ele vai ter sua chance no dia seguinte, mas o importante é que ele e qualquer outro tenha o mínimo de condições para ir treinar.

E sobre o curioso caso do sumiço do atleta Tiago Mosquito: o que de fato ocorreu para que ele sumisse do clube sem dar qualquer satisfação?

Eu participei do caso Mosquito desde o início, não só nesse episódio, mas desde que ele chegou no Vasco a três anos e meio atrás. O caso Mosquito é um caso típico de aproveitadores do futebol e que acha que o clube de futebol fica como hospedeiro dos seus interesses particulares. Mosquito veio pro Vasco, ninguém o conhecia, vestiu a camisa do Vasco, foi campeão no mirim, foi campeão no infantil, pegou as seleções brasileiras de base, foi campeão sulamericano com a seleção brasileira, foi campeão no Vasco e, posteriormente, nunca mais apareceu no clube. Depois desse episódio, reapareceu com três empresários: primeiramente, a Traffic; depois, o italiano através de seus advogada chamada Mena Rayol e, posteriormente, o Gustavo Arriba, que é o mesmo do Allan que está indo embora agora. Em momento nenhum, o Vasco se recusou a negociar a permanência do atleta, muito pelo contrário, o Presidente Roberto Dinamite já estava presente, nós tivemos duas ou três reuniões e esperávamos chegar a um acordo. Lamentavelmente, nós fomos surpreendidos com a profissionalização dele no Macaé que, para nós, é um clube “barriga de aluguel” para que, posteriormente, ele fosse transferido. Então, o que eu tenho a dizer para vocês é que o Vasco está atento a qualquer movimentação. O atleta tinha um contrato de formação formal com o clube, e esse contrato exige uma indenização pelos serviços prestados pelo clube. Estamos aguardando para ver o que vai desenrolar por aí.

Falando ainda dessa geração de atletas, conte-nos um pouco mais sobre o caso do “gato” descoberto do atleta Baiano. O que de fato aconteceu e qual foi o procedimento do Vasco?

O caso do “gato” já é histórico no futebol. É uma coisa que já vem a quarenta, cinquenta anos...jogador com idade adulterada. Muitos porque a documentação foi registrada depois.Muitos porque houve má fé em relação à documentação e, no caso de alguns trocam até de identidade. Nós tivemos o caso do Ariberto do estado do Rio de Janeiro que o nome dele não era Ariberto. Nós tivemos o caso do Joberson no Flamengo e tivemos o caso agora do Heitor que o nome dele era Fabrício aqui no Vasco. Nós temos tomado muito cuidado. Mas no caso do Fabrício (Heitor) é que no caso houve uma troca de identidade. Toda documentação é correta, só que simplesmente ele é outra pessoa. Pegou uma documentação de um menino de rua, de um menino que não frequentava escola, não frequentava nada e nós já vínhamos desconfiando mas que precisávamos ter certeza de como foi feito. Ao ser descoberto, nós levamos o caso à frente, coisa que clube nenhum no Brasil faz, especialmente o Vasco da Gama, para que outros casos não viessem a ser feitos também. De onde foi feito isso, havia pelo menos mais uns quinze, dezesseis casos de gato em que as autoridades precisam, realmente, tomar cuidado e tomar conta para que isso não aconteça mais.

Fala-se muito dos casos dos atletas Muralha e Yago, entre outros que largaram o Vasco indo em direção a outros clubes. O que de fato ocorreu para essas perdas?

Em relação ao atleta Yago, um atleta que tinha suas qualidades, o que eu tenho a dizer que todos os atletas que vêm do pré-mirim da mais tenra idade até os vinte anos, todos eles são promessas. Se vão virar realidade aqui no clube é uma outra coisa. A gente optou pela liberação do Yago porque nós sabemos que, aqui, nós temos jogadores com potencial muito grande que podem vir a ser tão bons ou muito melhor do que ele. Outros atletas que saíram foi por não haver acordo econômico, já que hoje no futebol não é simplesmente o atleta querer ficar no clube. Às vezes eles exigem coisas que o clube não pode dar ou que não está na filosofia do clube econômica. Tudo no final se resume a dinheiro.

Olhando um pouco os exemplos ao nosso redor, qual clube do futebol brasileiro você observa como modelo para o Vasco seguir em um futuro próximo?

Hoje, eu conheço bastante o trabalho de base dos clubes do Brasil. Hoje, se eu pudesse pegar um modelo de futebol de base em clubes do Brasil, eu pegaria o São Paulo. O São Paulo tem uma estrutura fantástica, não só de organização como física. Há um investimento financeiro maciço na base do São Paulo e acredito que, nos últimos anos, os jogadores que tenham sido revelados no São Paulo não foi por acaso. E também agora, houve uma captação também no São Paulo muito boa que foi o Renê Simões, que é um cara inteligente, um cara vanguardista, um cara que conhece muito bem não somente o futebol profissional como o de base. O São Paulo vai crescer muito com a contratação do Renê Simões como gerente lá da base por ser um cara muito bom, muito competente.

Falando de legislação, há um consenso geral de que a lei Pelé atenta totalmente contra a formação do atleta no clube, que não detém mais seus direitos em sua plenitude tal como era antes. Como você observa a formação do atleta antes e depois dessa lei?

A lei Pelé veio para poder regulamentar e harmonizar com todas as leis que existem. Na verdade, o passe chegou a existir mesmo no Brasil, casos de jogador ficar preso ao clube, mesmo sem vínculo empregatício só existia no Brasil. Então, no mundo (em geral) acabou o contrato, acabou o vínculo. A lei Pelé como é vista para a base é mutável e, tal como alguma coisa que é nova, teria que sofrer e está sofrendo alterações que eram fundamentais para preservar o atleta no clube. É o caso agora do contrato de formação. Hoje, você tem um contrato de formação que está sendo homologado, através da CBF e das federações regionais, que dá um vínculo oficial ao clube para que o atleta, no momento em que queira sair sem qualquer pretexto tangível, sem qualquer argumento, o clube possa ser ressarcido de seu investimento. Por outro lado, obriga ao clube a fazer, também, uma série de melhorias para que o atleta se sinta seguro e possa seguir sua carreira dentro da própria instituição tais como: escola, alimentação, transporte, acomodações, o mínimo para que o atleta possa se tornar um atleta de excelência. Em contrapartida, o atleta tem que estudar, tem que treinar, tem que se dedicar integralmente ao clube. É uma relação de via de duas mãos e foi importante: se houver qualquer ruptura nessa relação de um pro outro, os dois podem e devem ser apenados de alguma forma, quase sempre em espécie monetária... Em dinheiro.

Quanto à formação profissional, existem pessoas que defendam que os clubes devem profissionalizar suas categorias de base ao extremo, acabando com todas aquelas em que não se possa assinar o vínculo contratual com o atleta, no caso as de dezesseis anos para baixo. Qual é seu pensamento a respeito disso?

Sou totalmente o clube começar a formar seu atleta a partir dos dezesseis anos, muito pelo contrário: sou a favor da manutenção do clube começar a formar o atleta desde sua idade mais nova que nem o Vasco faz: aqui no Vasco, o atleta começa a jogar no futsal com cinco anos e coloca no campo aos nove. Isso daí é importante não só pra parte desportiva, de competição, mas também de fidelização do atleta à marca Vasco, do amor que o atleta venha a ter pelo clube, que esse jogador pode vir a ser um atleta de ponta, mas também pode vir a ser um torcedor, um entusiasta, um cara que possa vir a amar ao clube. Vamos lembrar da frase de nosso Cyro Aranha: “enquanto houver um coração infantil, haverá um Vasco da Gama”. Então, isso daí você não começa a fazer aos dezesseis, você começa a fazer desde os três, quatro ou cinco anos. É o pai que vem assistir aos jogos do Vasco, coloca a sua camisetinha, empunha a sua bandeira porque o objetivo não é só formar jogadores, mas sim formar cidadãos vascaínos que, para nós, é tão importante quanto formar o atleta.

Por fim, agradecendo-lhe desde já pela gentileza em informar ao torcedor vascaíno no tocante ao seu trabalho, deixe um recado aos leitores do SuperVasco.

Eu gostaria de dizer aos leitores do SuperVasco que nosso trabalho aqui é sério, de competência, mas que todos nós temos nosso tempo para que as coisas ocorram. Eles podem confiar que, hoje, a olhos vistos o Vasco está andando para frente, de repente um pouco mais lento, mas que os passos são largos, e que todos vão se orgulhar brevemente mais e mais de serem vascaínos, na prática de tudo o que o Vasco vai poder dar. Obrigado!

Fonte: Supervasco