Confira entrevista com Humberto Quintas, o astronauta vascaíno

Terça-feira, 19/06/2012 - 13:14

É com grande orgulho que o Vascalindas.com apresenta para vocês Humberto Quintas, um astronauta vascaíno que conta com exclusividade seus desejos, medos e realizações. Confiram logo abaixo!



Quando criança, qual era o seu maior sonho? Conseguiu realizá-lo?
- Queria ser astronauta ou jogador de futebol. Mas, eram sonhos de criança, destes que a gente sonha de forma inocente, sem planejar ou traçar metas para alcançá-los. Com o passar do tempo, aprende-se a priorizar e a correr atrás das realizações que são mais palpáveis. Cresci, me tornei professor, escritor, advogado, executivo. Todos, de alguma forma, foram sonhos realizados.
Hoje, em vez de astronauta “de carreira”, tenho como hobby aventuras aéreas e vôos de “turismo espacial”. É uma forma de resgatar os ideais da infância. Sobre ser jogador de futebol, o sonho vive quando carrego a bandeira do Vasco durante as minhas aventuras. Assim, eu “entro em campo”, à minha própria maneira.

Por que o desejo de voar mais além?
- Sempre tive medo de altura. Ir mais alto, mais rápido, mais longe, são métodos de confrontar meus próprios medos. Além disso, às vezes é preciso se afastar para enxergar melhor as coisas. Pode parecer poético, mas é verdade. A distância proporciona uma visão melhor da paisagem e – por que não? – da própria vida.

Sobre o medo de altura e os símbolos vascaínos, o que nos conta?
- Existe um ritual que procuro seguir antes de uma aventura importante. Primeiro, visto a camisa do Vasco por baixo do traje de vôo. Uso sempre a mesma camisa, um modelo antigo que não ostenta patrocinadores, apenas uma pequena logomarca do fabricante. Depois, dou um jeito de colocar uma pequena bandeira do Vasco em um dos bolsos do traje. Se o traje não tiver bolsos, prendo-a com um elástico. Depois, planejo o momento no qual sacarei a bandeira e em que condições o farei.
Pode parecer bobagem, mas seguir uma sequência de ações ajuda a manter o foco e a acalmar a tensão que antecede o vôo. Tenho muito medo de altura, minhas mãos chegam a suar apenas por pensar no assunto. Carregar símbolos vascaínos, além de um orgulho sem tamanho, é uma forma de me deixar mais tranquilo. Também penso na repercussão dos meus gestos e no carinho que receberei de outros torcedores do Vasco, quando estiver de volta ao solo e ao Brasil.
Em agosto deste ano, esse ritual se repetirá, quando levarei a bandeira do Vasco até a estratosfera, a bordo de um avião de guerra do tipo “Mig-29”, no qual decolarei a partir da Rússia. Será uma nova aventura, na qual o Vasco voará alto, muito alto, novamente.

Explique-nos de onde surgiu a sua paixão pelo Vasco? Teve influência de alguém?
- Meus avós vieram de Portugal. Meu avô paterno chegou a remar no clube. A grande maioria da minha família é de torcedores do Vasco, alguns mais, outros menos ligados ao futebol. Então é algo que está ligado à tradição de uma família que é, em parte, luso-brasileira.
Mas, apesar de também ser um cidadão português, o que me apaixona pelo Vasco não é a sua origem lusa, e sim as suas raízes brasileiríssimas. A maior glória do Vasco é de ter sido o primeiro clube a dizer NÃO ao preconceito e ao racismo; o único clube a nunca ter discriminado jogadores pobres, negros e mestiços.
Por esse gesto, o Vasco é o verdadeiro clube do povo e, nesse sentido, o mais brasileiro de todos. Daí vem a minha paixão. Quem veste a camisa do Vasco veste também a história mais bonita de um clube de futebol no mundo.

Qual jogo que para você foi o mais marcante do Vascão?
- A final da Copa Mercosul de 2000. Vínhamos de uma série de insucessos, então a vitória, do modo improvável e heróico como veio, serviu para lavar a alma e calar a boca dos críticos. Foi uma vitória que renovou o orgulho do torcedor, lembrou a todos sobre a imensa força do Vasco. Todo vascaíno que se lembra deste jogo tem uma história pessoal a contar. Eu tenho a minha também, a história do jogo, suas circunstâncias… Além da história de uma comemoração que não acabou nem com o nascer do sol (risos).

Na constelação de ídolos vascaínos, qual é a sua estrela preferida?
- São tantos… Eu não sou da época do Ademir, mas os mais antigos dizem que era um jogador “de outro planeta”, um fora de série. Romário era um gênio, talvez o finalizador mais eficiente que já vi jogar. Roberto Dinamite era um craque indiscutível, fez 700 gols pelo Vasco, marca que, no futebol atual, dificilmente será batida por qualquer jogador por um só clube. Juninho Pernambucano voltou ao clube por amor e até hoje nos orgulha por vestir a nossa camisa.
São todos ídolos, mas se eu tivesse que citar apenas um, acho que seria o Edmundo. Ele traduziu a dimensão mais humana do craque, aquele que erra, que explode em alegria, que se arrepende, que dá muitas alegrias e que às vezes dá raiva também. Foi muito bonito e comovente ver a despedida preparada pela Diretoria do Vasco; foi muito bom encher os pulmões de ar e gritar, mais uma vez: “Ah, É Edmundo!”. Ele é uma figura especial para os vascaínos.

Se para você o céu não é o limite, qual é o limite do trem bala esse ano?
- Gosto muito deste grupo atual do Vasco. Obviamente, tem as suas limitações, mas é um grupo comprometido, que se esforça e que “compra a briga”. No Vasco, não tem essa de “finge que me paga, que eu finjo que jogo”. Os atletas podem até reinvidicar, abolir a concentração, cobrar a diretoria, mas ninguém deixa de se esforçar em campo.
No jogo Vasco 2 x 1 Lanus, em São Januário, pela Libertadores, ao final do jogo, depois de a torcida vaiar o treinador Cristóvão Borges, o time deu a mais contundente demonstração de união da qual me lembro, ao “escoltar” o técnico ao vestiário. Independentemente de concordar com a estratégia do treinador naquele jogo, ali eu percebi o quanto esse grupo é diferente, único. Em um futebol carente de bons exemplos, foi um gesto bacana de apoio dos comandados ao comandante.
No papel, o Vasco não é o melhor time e nem o favorito ao título brasileiro, mas, com esse grupo… pode, sim, alcançar. Aposto que se classificará para a Libertadores e chegará ao final do Campeonato Brasileiro brigando pelo penta-campeonato! Se conseguirmos manter o elenco, sem grandes baixas, o limite para o Trem-Bala da Colina será o lugar mais alto do pódio!

Já procurou saber o resultado de um jogo do Vasco enquanto estava “em órbita”?
- “Em órbita”, no sentido figurado, sim. De outra forma, ainda não o fiz (risos). Quando eu estiver voando pela estratosfera em agosto, o Vasco estará jogando quase no mesmo horário. Ainda não sei como vai ser. O que importa é que, naquele momento, o Vasco terá ido mais alto do que qualquer outro clube jamais foi.
Em diversas outras ocasiões, no entanto, em viagens de trabalho, já acompanhei e sofri pelo Vasco, de longe. Uma vez, sem bateria no celular, parei de posto em posto de gasolina, em uma autoestrada dos EUA, telefonando para o Brasil e perguntando sobre o resultado de um Vasco x Flamengo. Quando fiz um vôo de gravidade zero, em fevereiro deste ano, o Vasco jogava a sua classificação às semifinais da Taça Guanabara de 2012. Só deu para saber o resultado quando eu já estava em terra.
A vez mais recente em que tive que passar por essa experiência foi ao acompanhar o jogo Vasco x Corinthians até as 04:00 da manhã. Estava em viagem de trabalho, fora do País. Havia um fuso-horário grande em relação ao Brasil. Passei a madrugada torcendo, vendo pela Internet, com a imagem travando. Já estou me acostumando a essas situações. É angustiante, mas faz parte.

Como é poder afirmar que seu amor pelo Vasco atravessa esse planeta?
- Na verdade, a paixão que sinto quando acompanho um jogo de longe é a mesma que sentem os vascaínos que estão fora do Rio de Janeiro.
Por isso sou fã dos vascaínos do Nordeste, do Norte, dessa gente que acompanha o Vasco pela Internet, pelo rádio, pela televisão, que assiste da forma que dá, com a paixão igual ou ainda maior do que a de quem está por perto, aqui no Rio de Janeiro. Gente que manifesta o orgulho de ser Vasco e que passa esse orgulho adiante.
Vascaínos do Centro-oeste, do Sul, dos demais estados do Sudeste, muita gente que nunca foi a São Januário e que nunca viu o Vasco de perto, no estádio, mas que sente essa paixão de forma intensa. Não existe distância para o coração; nem fronteiras para o Vasco.
Somos uma grande nação, dentro de um grande país. Eu sou um vascaíno daqui do Rio, apenas mais um fanático dentre as centenas de milhares de cariocas que carregam essa cruz de malta e que são torcedores apaixonados.
O que faz do Vasco o maior de todos, além da sua linda história, é a sua torcida, a melhor desse planeta!

Agradecimentos: Casimiro Miguel e Renato Cabral.

Fonte: Vascalindas