Para cumprir o prazo, obra do Maracanã terá 4 mil operários em março

Quarta-feira, 08/02/2012 - 12:06

Construído em menos de dois anos para a Copa do Mundo de 1950, o Maracanã se transformou agora, como se diria no jargão do futebol, numa verdadeira "caixinha de surpresas" para o consórcio de empreiteiras responsável por preparar o estádio para o Mundial de 2014. Entre as descobertas feitas estão erros de medição: há uma diferença de 30 centímetros de altura entre os pilares que dão sustentação ao estádio. Suspeita-se ainda de que o uso de um produto químico em excesso para acelerar a secagem do concreto a fim de entregar o estádio a tempo possa ter contribuído para reduzir a durabilidade de uma parte das estruturas.

— O estádio começou a ser construído em 1948 com a participação de quatro empreiteiras diferentes. Aparentemente, na hora de fazer levantamentos topográficos, cada técnico adotou um método. Isso só deve ter sido descoberto quando o esqueleto do estádio estava pronto. A solução foi preencher a diferença com concreto — explicou Carlos Zaeyen, diretor do consórcio que está reformando o estádio para a Copa do Mundo.

Plantas pouco ajudam

A reconstituição da história de falhas na construção por parte do Consórcio Maracanã (Odebrecht, Delta e Andrade Gutierrez) é baseada principalmente em observações. As plantas originais do estádio foram localizadas e servem de base para a reforma de que será concluída até fevereiro de 2013 para que o estádio possa receber a Copa das Confederações. Zaeyen, no entanto, explicou que falta uma espécie de "diário" sobre a obra.

Hoje, 3,2 mil operários trabalham na reforma. A partir de março, devem chegar a 4 mil. Mas nem sempre eles poderão receber ordens apenas pelas informações que constam nas plantas. A rede de esgotos, por exemplo, segue por dentro das paredes por um caminho um pouco diferente do indicado porque há pilastras ao longo do trajeto.

Problemas para a conclusão das obras não faltaram para que falhas possam ter sido cometidas na construção do estádio. O Maracanã foi aberto sem muretas nas rampas, revestimento no piso das cadeiras e parte dos banheiros ainda não estavam disponíveis. Para que fosse inaugurado a tempo foi necessário um mutirão para finalizar a cobertura. As obras na verdade só seriam concluídas anos depois.

— Aparentemente com pressa, não houve tempo para retirar todo o entulho. Agora, durante a demolição das arquibancadas e de outras estruturas, encontramos restos de materiais que devem ter sido usados na construção do estádio — disse Zayen.

Segundo o gerente do consórcio, nada foi localizado até o momento que contenha valor histórico. Uma situação bem diferente que na época dos Jogos Pan-Americanos de 2007, quando os operários localizaram peças de louças e outros objetos enterrados abaixo do gramado que pertenciam ao patrimônio do antigo Derby Club, um dos ocupantes anteriores do terreno.

Químicos analisam agora a influência que o uso excessivo de cloreto de cálcio misturado ao concreto teve para as condições de conservação da antiga cobertura, que foi demolida em meio a protestos dos mais tradicionalistas. Eles alegam que o projeto de uma lona tensionada para cobrir o estádio descaracteriza o projeto, tal como foi concebido.

— O cloreto de cálcio ainda é usado hoje como aditivo ao concreto. Mas, na década de 50, não se tinha o conhecimento sobre a aplicação do produto. Em lugar de colaborar com a proteção, pode ter ajudado a corroer o concreto de fora para dentro. Os indícios existem, mas ainda estamos investigando — contou o diretor.



Fonte: O Globo online