MP divulga fotos e juíza compara base do Vasco a escravidão

Quinta-feira, 19/04/2012 - 08:36

Á gua racionada, alimentação inadequada e insalubridade: adolescentes que sonham em se tornar ídolos do futebol na categoria de base do Vasco são obrigados a enfrentar dificuldades antes mesmo de entrar em campo. Com sede, muitos chegama beber água do chuveiro, segundo promotores de Justiça da Infância e da Juventude da capital. Devido à precariedade, a Justiça determinou ontem que as atividades do CT do clube, em Itaguaí, estão suspensas a partir de hoje. Em fevereiro, o adolescente Wendel Junior Venâncio da Silva morreu após passar mal no local.

O clube terá que cumprir uma série de determinações no alojamento de São Januário em até 30 dias. Flamengo, Botafogo e Fluminense também estão na mira dos promotores.

“As condições do alojamento de São Januário e do CT são piores do que as da maioria das unidades destinadas a adolescentes em conflito com a lei. O alojamento tem péssimas condições de higiene e conforto, com infiltrações, camas sem estrado, colchões velhos e armários quebrados. Diariamente, a vida desses jovens é colocada em risco quando são transportados para treinar emumônibus velho, semcinto de segurança e com buracos no paineldevido à falta de instrumentos”, afirma a promotora Clisânger Ferreira Gonçalves Luzes, da Infância e Juventude.

Jovens viviam em condições insalubres

Ainda segundo promotores, os adolescentes reclamavam de fome e se alimentam em refeitório separado dos funcionários do clube, onde a alimentação é inferior. “As condições são insalubres. Os alimentos, como a carne, não são bem armazenados, a geladeira tem ferrugem”, conta Clisânger. Entre as medidas da Justiça está a interdição do refeitório. Cerca de 60 jovens foram obrigados a tomar banho com garrafas pet por falta de chuveiro e usar um único um vaso sanitário com descarga.

Juíza da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, Ivone Ferreira Caetana comparou na sentença as condições enfrentadas pelos adolescentes da categoria de base do Vasco à escravidão. “A postura da agremiação (...) é merecedora do mais veemente repúdio, podendo ser equiparada ao delito de redução à condição análoga à de escravo, o que igualmente malfere e ofende todo o sistema de organização do trabalho”.

De acordo com os promotores, o clube omitiu a existência do CT em Itaguaí, que só foidescoberto após a morte de Wendel. “No dia em que o adolescente morreu, não havia médico no local. Como o lugar é distante, isso pode ter contribuído para morte. O conjunto de elementos, como a falta de alimentação adequada, de hidratação e exames prévios pode ter contribuído para esse trágico acontecimento”, disse Clisânger

O Vasco informou que não recebeu notificação e que, portanto, não poderia comentar o caso. Os promotores estão fiscalizando ainda as categorias de base do Fla, Flu e Botafogo. “No Flamengo, tem adolescente que guarda seus pertencer na mala há um ano porque não tem armário”, conta a promotora Rosana Cipriano Simão.




Fonte: Marca Brasil