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NETVASCO - 13/07/2008 - DOM - 12:49 - Roberto Dinamite e Zico: Amizade que nasceu do cara ou coroa

Cara ou coroa. Estas foram as duas primeiras palavras que Zico e Roberto trocaram na vida. Ainda eram garotos, mas já brilhavam como capitães dos times das divisões de base de Flamengo e Vasco.

Sempre rivais, tornaram-se homens, craques, ídolos. Inimigos, nunca. Naturalmente, eles se aproximaram e o vocabulário aumentou bastante. Hoje, quase quatro décadas depois, são amigos que fazem questão de demonstrar a admiração que sentem um pelo outro.

— Fala Bob, meu presidente — saudou Zico, ao chegar à casa de Roberto na manhã de quarta-feira, quando os dois se encontraram pela primeira vez, desde que Roberto foi eleito presidente do Vasco, derrotando Eurico Miranda.

— Que prazer em te ver aqui. Há quanto tempo, rapaz...

Chama a Lidiane (mulher de Roberto) lá dentro e avisa que o Zico está aqui — disse Roberto para o filho Rodrigo, enquanto recebia Zico no jardim de sua casa na Barra da Tijuca com afetuoso abraço.

A amizade e o respeito entre os dois maiores ídolos de clubes que há até bem pouco tempo se consideravam inimigos são um símbolo de uma nova era que está se iniciando no futebol carioca, com a chegada de um ex-jogador como Roberto Dinamite à presidência do Vasco. E, se depender de Roberto e de Zico, a rivalidade entre Flamengo e Vasco voltará a se restringir aos campos esportivos. Como na época em que os dois arrastavam multidões para o Maracanã.

Foi graças aos memoráveis duelos protagonizados por Zico e Roberto que Vasco x Flamengo se transformou no clássico de maior rivalidade no Rio. Infelizmente, esta rivalidade se transformou em ódio nos últimos anos, quase sempre estimulado por declarações e provocações que pouco têm a ver com futebol, e nada com respeito e consciência.

— O futebol reflete o dia-adia e vice-versa. Gozação é uma coisa; ofensa, agressão, outra. Não se pode estimular ainda mais a violência com bravatas e provocações — afirmou o maior ídolo da história do Flamengo, sentando ao lado de Roberto, no sofá da sala da casa do ídolo do Vasco.

As incontáveis disputas que travaram ao longo de quase 20 anos não foram capazes de estabelecer uma barreira entre ambos. Pelo contrário. O que se criou foi um misto de admiração e carinho, que extrapolou os campos e se prolonga até hoje. Na conversa de quartafeira, a todo momento um procurava enaltecer, elogiar o outro. Sem demagogia.

Tanto Zico quanto Roberto defendem a rivalidade. Mas uma coisa sadia, que nada tem a ver com raiva, violência.

— Não se pode confundir as coisas. O fato de um clube ser adversário do Vasco não quer dizer que é também um inimigo.

Isso serve para Vasco, Botafogo, Flamengo e Fluminense.

Os grandes clubes têm que remar juntos para o bem do futebol carioca — defendeu Roberto, procurando com o olhar a aprovação de Zico, que que veio no ato, acrescida de uma constatação: — Os jogadores não podem falar dos adversários com a faca nos dentes, como se vê muitas vezes hoje. Futebol é alegria, festa, disputa. Era assim na nossa época

BATE-BOLA DOS ÍDOLOS

RIVALIDADE

ROBERTO: “Isso tem que ficar restrito exclusivamente ao campo de jogo. Lá dentro, a rivalidade vai existir sempre, mas sem nunca perder o respeito ao adversário, seja ele quem for. Não podemos ficar estimulando a violência com declarações absurdas e ofensivas.”

ZICO: “O futebol não vive sem rivalidade, mas uma rivalidade sadia que não tem nada a ver com briga de torcida, insultos ou ofensas. Hoje vemos jogadores falando dos adversários com a faca nos dentes, como se fossem inimigos. Não existia isso na nossa época de jogador.

Não é por aí.”

FUTEBOL CARIOCA

ROBERTO: “Temos que aproveitar o momento e unir forças para levantar o futebol do Rio. Isso não quer dizer que não vai haver mais rivalidade. Nada disso. Por exemplo: não digo que torci para o Fluminense na final da Libertadores, mas, se eles tivessem sido campeões, todo o futebol do Rio sairia ganhando.

Eu não torço contra ninguém.

Torço para o Vasco.”

ZICO: “É por aí mesmo. Gozação é coisa de torcedor, faz parte do futebol.

Acho até legal esta zoação, desde que não seja ofensiva. Mas jogador, dirigente, não pode ir por este caminho. Jogador não pode humilhar um adversário. Isso só acirra a situação, que, todos sabemos, não é das mais calmas.”

VASCO x FLAMENGO

ROBERTO: “O fato de manter uma relação amistosa com os adversários, incluindo o Flamengo, não quer dizer que o Vasco não vai fazer de tudo para vencê-los dentro de campo. Esta rivalidade não vai acabar nunca, mas volto a insistir: acabou esta história de que ganhar do Flamengo vale como um campeonato.

Não vale, não. Vale apenas três pontos. Só vai valer título se for numa decisão.”

ZICO: “Com o Roberto na presidência, o Vasco não terá mais inimigos, mas apenas adversários, que é como os outros clubes devem ser encarados. Eu, por exemplo, nunca escondi minha admiração pelo Vasco, mesmo querendo ganhar todas deles. O clube me fez uma linda homenagem quando me despedi e pude retribuir quando o Vasco esteve no Japão para decidir o título mundial com o Real Madrid. Abri as portas do Kashima e dei todo o apoio. Parece brincadeira, mas teve rubro-negro que não gostou.”

MOMENTO INESQUECÍVEL

ROBERTO: “Fui campeão (estadual) em cima do Flamengo em 1982, mas inesquecível mesmo foi a decisão de 1981. Tínhamos de ganhar deles três vezes para sermos campeões.

Ganhamos a primeira por 2 a 0 e na segunda o jogo estava 0 a 0 até o fim. A torcida do Flamengo já gritava é campeão quando fiz o gol da vitória. Depois, perdemos o título no jogo do ladrilheiro. Mas aquele momento foi muito gostoso.

ZICO: “O gol do Rondinelli na final de 1978 foi um grande momento em jogos contra o Vasco. E olha que houve vários. Lembro que cobrei o córner, coisa que não fazia normalmente, e o Rondinelli subiu muito para fazer o gol no Leão no último minuto da decisão. Apesar de não ser muito alto, o Rondinelli tinha uma impulsão impressionante.”

ROBERTO: “Tudo bem, mas o Rondinelli só fala deste lance. Nunca menciona a final da Taça Guanabara de 1976. Disputamos uma jogada na área do Flamengo e a bola saiu pela linha de fundo. Na cobrança do tiro de meta, ele passou por mim e me deu uma cotovelada. Estava dentro da área e cai no chão. O árbitro (Agomar Martins) viu e marcou pênalti.

Bati e fiz o gol. Depois, ainda fomos campeões na disputa de pênaltis.”

ZICO: “É verdade. Na disputa de pênaltis, perdi minha cobrança e entreguei o ouro.”

ÍDOLO PRESIDENTE

ROBERTO: “É um grande desafio.

Afinal, uma coisa é você ser ídolo dentro de campo, outra é ser dirigente.

Quando as coisas não derem certo, ninguém vai se lembrar do seu passado de jogador. Ainda estou me familiarizando com o dia-adia do clube, mas tenho certeza de que, com o apoio dos grandes vascaínos, vamos levantar o Vasco”.

ZICO: “A eleição do Roberto é um fato histórico no futebol internacional.

Uma coisa, bem mais fácil, por sinal, é você ser eleito presidente de um clube na Europa. Lá a maioria dos clubes é só de futebol, e os acionistas decidem tudo. Aqui não. Tem que negociar com o pessoal do basquete, da natação, do vôlei, da bocha... É muita política.

Hoje, não passa pela minha cabeça ser um dia presidente do Flamengo.

Mas também não passava ser treinador...”

RELAÇÃO COM A T0RCIDA

ROBERTO: “Há muita confusão neste relacionamento. A torcida é importante, e temos que unir forças.

Nossa situação não permite que abramos mão de qualquer receita, e isso inclui a bilheteria dos jogos. Se você distribui dois mil ingressos por partida para a torcida, deixa de arrecadar cerca de R$ 30 mil. Num mês, são quase R$ 200 mil. Pedi aos torcedores que entendam o momento e ajudem. Mas não sei ainda qual vai ser a reação. Seja ela qual for, espero que seja pacífica.”

ZICO: “É Bob, agora a coisa é séria mesmo.”

AMIZADE

ROBERTO: “Nós nos enfrentamos desde garoto, mas demorou um pouco até nos aproximarmos. Mas, mesmo nessa época, nunca faltou respeito.

Lembro que nossas mães iam aos jogos e sempre ficavam juntas.

Foi a seleção brasileira que nos aproximou. Hoje, somos amigos, nossas famílias se dão. Mas a base der tudo foi o respeito mútuo que mantivemos durante as nossas carreiras, mesmo com um querendo ganhar sempre do outro.”

ZICO: “Nossa relação começou no cara ou coroa que antecede os jogos, ainda na época de juvenil. Mas, como depois cada um ia para o seu ataque, a gente mal se cruzava em campo. Com o tempo, fomos nos aproximando até formarmos uma bela amizade. Eu me lembro que meu pai, que era português e goleiro, odiava o Vasco por causa de um chefe vascaíno que o impediu de fazer um teste no Flamengo. Quando o Edu foi para o Vasco jogar com o Roberto, ficamos gozando o velho, dizendo que agora não tinha jeito, pois ele ia ter que torcer também pelo Vasco.”

ADMIRAÇÃO

ROBERTO: “Zico foi um jogador mais completo do que eu. Tinha mais técnica, mais recurso. Quando íamos enfrentar o Flamengo, havia sempre aquela preocupação com o Zico, com o que ele poderia fazer.”

ZICO: “Lá do nosso lado também havia preocupação com o Roberto, um goleador nato, que fazia gol de tudo que é jeito. Com o tempo, ele passou a mostrar outras características.

Aperfeiçoou as cobranças de falta e se tornou um exímio passador.

Mauricinho e Romário cansaram de fazer gols com passe do Roberto. E tenho orgulho de dizer que foi meu irmão Edu quem primeiro percebeu que o Roberto podia jogar mais recuado.”

FRUSTRAÇÃO

ROBERTO: “Não ter jogado a Copa do Mundo de 1982. O Brasil tinha um grande time e queria muito ter atuando em pelo menos um jogo.”

ZICO: “Não tenho frustração no futebol, talvez algumas tristezas.

Uma delas é não ter jogado mais vezes com o Roberto. Deu muito certo quando nos juntamos na seleção brasileira.”

FUTURO

ROBERTO: “Assim mais imediatamente, precisamos recuperar a força do Vasco. Trata-se de uma marca muito poderosa em todo o Brasil. Temos como recuperar o prestígio dentro e fora de campo.”

ZICO: “Quero continuar trabalhando como técnico, mas prefiro clube a seleção. No clube, você vive o dia-a-dia, está sempre em contato com o jogador. A satisfação é maior, pois joga-se mais e você tem a satisfação de ver seu trabalho rendendo imediatamente. Numa seleção, você reúne o pessoal, joga e depois vai todo mundo embora. Por falar nisso, Roberto, eu estou desempregado...”




Fonte: O Globo(texto), GloboEsporte.com (vídeo)


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