ESCALAÇÃO DE ALAN KARDEC

"Tinha chegado um recado para mim através do Paulo Angioni [superintendente de futebol] na segunda-feira, que dos 11 que em princípio iriam começar o jogo, um não poderia jogar, que seria o Abuda. Eu tinha passado para o Paulo que, na minha concepção, o Abuda poderia jogar, até porque o Alan Kardec é patrimônio do clube, vinha de uma situação de cinco, seis jogos sem fazer gols. Antes mesmo da torcida pegar no pé dele, entendi que era melhor até para ele não começar jogando aquele jogo. Não que ele não jogaria. Ele poderia até entrar no segundo tempo, coisa que todos os atacantes têm feito durante os jogos. Mas aí o Dr. [Eurico] achou que não. Isso foi segunda-feira. A gente veio conversando até lá e eu acreditava que até ontem na hora do jogo houvesse uma mudança de opinião em relação ao presidente. Ele não mudou de opinião e passei para o Paulo - tudo através do Paulo. Infelizmente a gente não falou isso pessoalmente. Não sei por que motivo ele não me procurou, porque ele sempre me procurou para tudo, sempre teve portas abertas para isso e tem até hoje. Todas as nossas divergências e problemas, a gente sempre resolveu eu e ele. Dessa vez foi totalmente diferente. Falei para o Paulo que dessa maneira era complicado para mim, já que eu queria colocar o jogador e não me deixavam, que esse jogador não tinha que jogar. Então falei para ele que desse jeito eu não gostaria mais de continuar como treinador e não fui ao jogo. Foi isso que aconteceu".

NEGOCIAÇÃO DE ALAN KARDEC

"Até ele mesmo já anunciou isso, falou que existem alguns clubes, grupos que estão interessados no Alan. Acho que o Alan tem que ser tratado realmente diferente dos outros, até porque é um patrimônio do clube, goleador, jogador que vai dar futuramente muita coisa boa ao clube, financeiramente falando. Só que eu, na minha condição de entender um pouco mais, principalmente daquela posição ali, do que arranho até mesmo do que o próprio Eurico, achava que ele teria, achava não, tinha certeza que nesse jogo para ele começar não era bom. Mas o Dr. achou que não. Segundo o Paulo também, o filho do Eurico [Euriquinho] ligou para o Paulo dizendo que teria um grupo lá no dia do jogo para ver o Alan Kardec jogar, e ele teria que jogar por esse motivo. E acabou acontecendo o que vocês já sabem".

SE JÁ CONVERSOU COM EURICO

"Até hoje não".

SE JÁ VIU OUTRAS SITUAÇÕES SEMELHANTES

"Já. Vi várias vezes. Nunca fui de acordo com isso e, a partir do momento que acontece uma vez, você dá a chance de acontecer outras vezes. Quero também deixar bem claro que eu particularmente... O meu carinho, a minha estima pelo Eurico não vai mudar em nada. Foi apenas uma diferente opinião que a gente teve. Ele, como ele já declarou, e a gente sabe, e eu também mais do que ninguém, quem manda. Ele é o dono. Ele mesmo se intitula isso. Respeito muito bem ele, só que nessa situação me vi obrigado a tomar essa decisão. Graças a Deus, essa decisão não atrapalhou no jogo e o Vasco ganhou. Claro que essa situação não é nada agradável para mim, os meus pais, filhos e amigos, que na nossa concepção, em princípio, o meu final seria lá no Vasco. A gente nunca pode dizer que nunca mais vai botar a camisa do Vasco porque muitas vezes eu achava uma coisa e não aconteceu. Mas hoje vejo muito difícil isso e acredito que meu ciclo realmente tenha se encerrado no Vasco. Mas grato ao Vasco e aos vascaínos. Continuo com o mesmo carinho que tenho. O Vasco me abriu várias portas e tenho consciência de que as portas continuam abertas para mim, tanto é que uma estátua e uma camisa eternizada, isso não acontece a qualquer um. Essas duas atitudes do presidente já são que realmente o Vasco tem uma coisa especial por mim, e eu por ele. Isso aí não vai mudar nunca".

VOLTAR A SER TREINADOR E ENCERRAR CARREIRA

"Não. Treinador não dá mais para mim não. Realmente não posso dizer que não irei encerrar a carreira no Vasco ou vou encerrar a carreira no Vasco. Hoje a minha cabeça não está voltada para isso. Se tiver que acontecer de eu voltar a vestir a camisa do Vasco e terminar a minha carreira no Vasco, não vejo nenhum problema em relação a isso, até porque o meu projeto para o final de carreira era esse. Vamos esperar para ver, que as coisas vão acontecer".

BOATOS SOBRE RETORNO AO FLAMENGO

"Tenho poucos amigos no futebol, e um deles é o Kleber [Leite, vice-presidente de futebol do Flamengo]. É bem aceitável que o Kleber realmente fale isso, até porque, pela nossa amizade, estima que a gente tem pelo outro, pelo respeito, apesar de que, na época em que estive lá com ele, não tive a oportunidade de ganhar nenhum título. Mas a minha relação com ele foi honesta, sincera, e a gente tem uma relação de amigo, apesar de distantes. Toda vez que acontece alguma coisa comigo no Vasco, aparece o Kleber falando alguma coisa do Flamengo. O que posso dizer é que me sinto honrado em saber que as portas do Flamengo ainda estão abertas para mim. É uma coisa que tem que se analisar, até porque, em se tratando de um grande clube que é o Flamengo, e pela passagem que tive lá, é uma coisa interessante. Mas a relação que tenho com o Vasco hoje é muito forte. Volto a dizer que sou grato, respeito e tenho um carinho muito grande pelos dirigentes que lá estão, os jogadores, pela maioria dos torcedores, e não vai ser uma divergência de opinião que vai mudar a minha cabeça em relação a isso".

O RETORNO DE EDMUNDO PESOU NA DECISÃO?

"A minha decisão foi exatamente por isso. Não teve nada demais. Em relação ao Edmundo, quero deixar bem claro que em nenhum momento fui contra o Edmundo. Ele tem um acordo com o Eurico e o Eurico comigo, que ele só vai poder jogar a partir do primeiro jogo da Taça Rio, ou seja, na minha época de treinador eu nem iria ter esse... vamos dizer até o prazer de estar com o Edmundo no Vasco como treinador, até porque ele não poderia jogar, segundo um acordo que o Eurico tinha com ele. Então o Edmundo não tem nada a ver com isso, pelo contrário. Se ele puder jogar amanhã e o Vasco ganhar, torço para o Vasco, até porque, se o Vasco ganhar, fiz parte um pouquinho dessa vitória e todos vão sair vitoriosos".

ENCERRAR A CARREIRA FAZENDO DUPLA COM EDMUNDO?

"É difícil dizer o que vai acontecer na frente, mas se tiver que acontecer de eu jogar no Vasco e o Edmundo estiver jogando, não vejo nenhum problema em relação a isso não".

VOLTAR A CONVERSAR COM EURICO

"Em relação a voltar a conversar com o Eurico, hoje eu convidaria o Eurico para ir jantar e almoçar na minha casa, porque pessoalmente, pelo contrário, tenho um carinho pelo Eurico. Como ele mesmo falou, às vezes os pais brigam com os filhos. Posso dizer que realmente ele é meu pai dentro do futebol. A gente teve um desentendimento e daqui a pouco volta independente de falar sobre Vasco ou não, porque o meu sentimento por ele não vai mudar nunca".

CORAÇÃO PENDENDO PARA O VASCO OU FLAMENGO

"Não tem isso. Volto a dizer: Sou América".