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NETVASCO - 26/09/2007 - 21:11 - Dinamite selou amizade com ex-rivais nas rodas de samba

Herói rubro-negro do título brasileiro de 1992 e craque da seleção que havia encantado o Mundo dez anos antes, Júnior se esforça na marcação, já que perdeu o cargo de maestro para o compadre Alceu Maia, cavaquinista de primeira linha. O eterno rival vascaíno Roberto Dinamite e Bebeto, que vestiu as duas camisas, observam atento à evolução do time que se garante por algumas atuações individuais mas, principalmente, pelo conjunto. O ambiente esquenta, o volume das vozes aumenta. Então o ex-árbitro Cláudio Cerdeira é chamado para coordenar a bagunça. Sem os cartões e o apito, ele pega o microfone e faz todos falarem uma mesma língua: a do samba. A cena inusitada aconteceu numa segunda-feira, na casa Bom Sujeito, na Barra, onde Júnior comanda o Samba da Sopa.

Mais que uma simples roda de samba que une ex-jogadores e sambistas de primeira como Luiz Carlos da Vila e Arlindo Cruz e quem mais aparecer, o evento que acontece semana sim, semana não, é uma aula de cidadania em uma cidade marcada pelo abandono. E, vindo do paraibano criado em Copacabana Júnior, da forma mais carioca possível.

— Recebi um convite através do Maurício, programador da casa, que foi um dia no pagode que fazemos há anos em Copacabana. No início fiquei reticente porque não somos profissionais. Então disse que iria falar com o Alceu Maia e com o Luiz Louchard, baixista do Zeca Pagodinho, que são meus amigos e músicos profissionais — conta Júnior. — Eles toparam, mas achamos que só valeria a pena se fizéssemos algo sem compromisso com grana.

A solução encontrada foi pegar metade do couvert destinado aos músicos, comprar ingredientes para uma sopa e distribuir para instituições de caridade. Com um amigo ele conseguiu um desconto nos alimentos e a coisa começou a andar. Na última segunda, por exemplo, foram distribuídas cem cestas básicas.

Júnior, que na Copa de 1982, estourou com a música “Povo feliz”, que ficou conhecida pelo refrão “Voa canarinho, voa”, parceria com o Alceu Maia, também gravou um disco sobre o centenário do Flamengo, em 1995, e chegou a excursionar pelo Japão:

— Eu dava aula na escolinha de manhã e, à noite, me apresentava com um grupo que tinha músicos como o (baixista) Luisão Maia.

Criado em uma família musical, o bisavô era artesão de violinos e o tio Vavá organizava rodas de samba na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, Leovegildo Lins da Gama Júnior cresceu entre as peladas na praia e a música, conjunção que nunca abandonou mesmo quando optou pela vida de atleta. Júnior, por sinal, é um exemplo de que é possível conciliar o esporte com os prazeres da vida.

— Sempre fui do samba. Saía no bloco das piranhas, em Madureira, com o Alcir Portela, o Moisés. Quando o João Nogueira levou o Clube do Samba para a sede do Flamengo, no Morro da Viúva, todo mundo aparecia por lá, o Chico Buarque, o Roberto Ribeiro — lembra. — Mas nunca deixei nada passar por cima da vida profissional. Se o cara souber levar a vida, pode sair e curtir sem atrapalhar a carreira.

Roberto Dinamite, folião sempre presente na Beija-Flor de Nilópolis, concorda com Júnior, diz que a relação entre samba e futebol é aceita por serem dois marcos na nossa cultura de massas, mas lembra que, se na época de profissional saía para os seus sambas, por outro lado não tinha a harmonia de hoje com os rivais rubro-negros:

— Não tínhamos uma relação de amizade quando jogávamos. Eu, Zico e Júnior incorporávamos o espírito de nossos times. Quando eu entrava em campo para enfrentar o Flamengo e o Zico sorria eu achava que ele estava debochando de mim — conta, bem-humorado.

E foi no samba, anos depois de pararem de jogar, que os craques selaram uma grande amizade.

— Estávamos em camarotes diferentes. Então fui ao encontro do Zico e do Júnior. Falamos de nossa admiração mútua e percebemos que aquilo era bobagem.

Luiz Carlos da Vila, depois de cantar algumas de suas pérolas como “Kizomba”, “Além da razão” e “O show tem que continuar”, elogia a iniciativa:

— Valeu, Júnior . É mais um golaço.

O ex-jogador responde:

— Tudo bem, mas você não vai embora sem cantar mais uma. Põe mais uma gasolina no copo para ele.

E assim, entre uma cerveja aqui, um samba de Zeca Pagodinho ali, a noite flui. Roberto Serrão, mangueirense, canta sua escola e a de Júnior; Biro, do Galocantô, anuncia um novo pagode do grupo; e Nuno Neto, a pedido da esposa de Júnior, Heloísa, ataca de “Papel marché”.

— Está faltando alguém. Ô Armando Marques, ops, Cerdeira, vem jogar uma conversa fora, brinca Alceu Maia.

— Se a Ana Paula pode posar pelada, o Cerdeira pode cantar uns pagodes — tabela Júnior.

Tímido, saboreando um uísque, Cerdeira, que antes de apitar freqüentava ensaios de escolas de samba e o Bola Preta, se diz à vontade:

— Já fui vaiado em um Flamengo e Vasco por mais de cem mil pessoas. Se eu cantar e 500 me vaiarem eu já saio no lucro. São menos 99.500 — brinca.

Nesta segunda, a turma estará reunida de novo para mais um bate bola regado à cerveja e à solidariedade.

Fonte: O Globo (edição de 22/09)


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