NETVASCO - 17/09/2005 - 00:03 - Reportagem da Revista Placar de setembro de 1970
O POVO GRITA VASCO!!! O NOME DO CAMPEÃO!O Vasco ganhou de 2 x 1 do Botafogo na noite de quinta-feira, dia 17, no Maracanã. Havia 12 anos que o Vasco não tinha uma noite como aquela.
Muita gente, no Rio, não conseguiu dormir na madrugada de quintafeira, dia 17 era o foguetório da entusiasmada torcida vascaína. Os que conseguiram dormir, quando saíram às ruas, encontraram os botequins abertos, a cerveja rolando, todo mundo cantando - era a festa da torcida vascaína. Quem nunca se interessou por futebol chegou a ficar assustado com tanta bandeira alvinegra (com a Cruz de Malta) espalhada pelas ruas da cidade - era a ressurreição da torcida vascaína.
Doze anos, tanto tempo que o Rio já tinha esquecido a animação das festas vascaínas, o delírio de seus torcedores, os botequins abertos a qualquer um que grita: “Vasco!”. Os Manuel, Joaquim e Martins sorridentes, satisfeitos da vida, esquecidos dos negócios, mandando servir cerveja de graça. Portugueses e brasileiros se uniram na causa comum: o Vasco da Gama.
Tudo era festa no vestiário do Maracanã, risos, gritos, cânticos. Só um homem não sorria: o massagista Santana. Em sua roupa imaculadamente branca, ele parecia um fantasma bem no centro do gramado do Maracanã, onde acendeu 22 velas depois do jogo. Era o agradecimento público ao caboclo Pena Branca, que “também ajudou a ganhar”.
A superstição no Vasco começou - ou se justificou - na contratação de Santana e teve seu momento maior poucos minutos antes do jogo decisivo, quando todos os jogadores se deram às mãos e, juntamente com Santana, gritaram três vezes “Vencer”.
Antes, Santana chegara com velas, sal grosso, cachaça, defumador. Fez seu “trabalho” no vestiário do Vasco, trancou a porta e ficou com a chave. Avisou os jogadores que ninguém poderia pisar no campo antes da hora de entrar para o jogo. Por isso, Silva e Valfrido disseram “não” quando lhes pediram que posassem para uma fotografia. O próprio Santana contornou: “Compadre, não corta a nossa corrente”.
Essas providências de Santana fizeram até um associado comentar:
- Se continuar assim, o Santana toma o lugar do Tim.
- Juro que não tremi. Eu sabia que estava jogando num time de craques (Élcio, o goleiro desconhecido, que atuava pela primeira vez no Maracanã, substituindo Andrada).
O Vasco fez o primeiro gol, os torcedores quiseram gritar “campeão”, mas a chefe da torcida, Dulce Rosalina, sofrida e experiente em 12 anos de frustração, se impôs:
- Ainda é cedo. Ainda é cedo. Agora não.
O Vasco fez o segundo gol.
- Campeão! Campeão! Lágrimas e gritos se confundiam no desabafo de Dulce.
Cada craque que saía do vestiário era saudado pela torcida. Surgiu Gilson Nunes, com seu uniforme completo, até as chuteiras. Fizera uma promessa: se o Vasco fosse campeão, sairia do estádio com a roupa do jogo e iria a pé até a sua casa.
Gílson Nunes tinha seus motivos: era campeão carioca. Mas por que uma promessa tão grande apenas por um título? Um título que não era novidade para ele (Gílson foi campeão em 1964, pelo Fluminense). Mas Gílson Nunes tinha uma razão maior: toda a vida ele foi torcedor vascaíno, sempre quis jogar no seu clube, voltar ao Vasco onde começou sua carreira, no futebol de salão.
- Ninguém é dono do título. Ele pertence a todos (Tim).
Fonte: Placar |