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Ex-vice de marketing J.H. Coelho fala sobre a administração do Vasco


Quinta-feira, 18/11/2010 - 08:02

Artigo do ex-vice-presidente de marketing do Vasco José Henrique Coelho publicado no site Supervasco:

José Henrique Coelho

Sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Erros estratégicos custam muito caro

Ao falar mais uma vez sobre a administração do nosso clube, quero inicialmente abordar o fato da mudança do emparelhamento dos clubes para o próximo campeonato carioca, onde a atual diretoria mudou um posicionamento estratégico que remonta à década de 80: o posicionamento estratégico do Vasco como principal antagonista do rival Flamengo.

Todos aqueles que hoje têm mais de 50 anos vão lembrar que durante os anos 60/70 formou-se na opinião pública a imagem de que o Fla X Flu era “o jogo mais importante” na disputa esportiva no Rio e até no Brasil. Os dois eram os protagonistas no esporte e nas “disputas políticas” da federação até a confederação. Qual vascaíno não se lembra da imagem do “ladrilheiro invadindo o campo pelo vestiário do Flamengo”.

Nos anos 80, o Vasco se posicionou contra esta situação. Passo a passo, ano a ano, vitória a vitória e com articulações políticas, o Vasco conquistou o papel de principal antagonista nacional, daquele que por possuir a torcida mais numerosa do país costuma ser o “queridinho” de parte da imprensa, de algumas arbitragens e até do poder público. O Vasco assumiu o posicionamento estratégico de “se bater sempre contra o rival”, gerando uma imagem forte e conquistando mais torcedores por este posicionamento.

É impossível imaginar Internacional e Grêmio na mesma chave do campeonato gaucho contra Juventude, Brasil de Pelotas e outros mais. É impossível imaginar Cruzeiro e Atlético na mesma chave contra América MG, Ipatinga e Tupi.

A atual diretoria tomou uma decisão que a torcida jamais tomaria: - mudar de lado. No Rio só duas torcidas não mudam de lado no Maracanã, Vasco e Flamengo.

Na FERJ a diretoria aceitou mudar de lado. Na reunião que aprovou o calendário 2011, os diretores presentes e o presidente ausente foram embrulhados pelos demais e não tiveram visão, articulação política e tampouco força para manter este posicionamento, ficando o Vasco na mesma chave do rival, entregando a outra “cabeça de chave” para sei lá quem! Seria o medo de enfrentar mais uma vez o rival numa semifinal? Foi um erro estratégico que precisa ser corrigido.

Outras batalhas políticas virão pela frente, onde estarão em discussão cotas de TV e até participação no C13.

Assistimos hoje a demasiados erros operacionais que já causam ao clube prejuízos inumeráveis, sejam de ordem financeira, administrativa ou jurídica, para ainda assistirmos erros estratégicos.

Erros operacionais são de curto prazo e são corrigidos com a mudança de gerentes, já os erros estratégicos só se consertam com a mudança da direção.

Erros estratégicos custam muito caro e estes prejuízos são sentidos durante muito tempo, no médio e longo prazo. Senão vejamos outros exemplos:

a) Durante a parceria do Vasco com o Nations Bank, chegamos a ver anunciado com “pompa e circunstância” a construção de um C.T. espetacular, com instalações de sonho. Vimos também na época, em exposição na entrada principal do nosso clube uma maquete com o projeto da reforma do estádio. Estes dois exemplos de projetos eram decisões estratégicas de investimentos do clube que modificariam a sua estrutura de desenvolvimento. O que foi decidido? A diretoria da época optou por “jogar estes mesmos os recursos” num alucinado e irresponsável “Projeto Olímpico” cujo verdadeiro objetivo foi patrocinar palanque eleitoral para campanha política.

b) Após a mudança de diretoria, em 2008 continuaram se produzindo mais erros desta natureza. Quando o presidente aceitou que o clube poderia buscar um patrocinador estatal, não exigiu do V.P. Administrativo-Financeiro à época, Sr. Mandarino, que teria que pagar os impostos. Ao mesmo tempo o presidente não quis realizar o ajuste administrativo e organizacional, fazendo contas que poderia perder votos como deputado. O presidente e seu V.P. não estiveram à altura da responsabilidade do contrato negociado e não foi por falta de debate interno, posso garantir.

c) Na recuperação das finanças do clube era necessário realizar uma negociação estratégica com os patrocinadores da época – Reebok e Habib’s - para estabelecer novos valores de arrecadação mensal. Quanto ao primeiro parceiro o Vasco teve êxito encerrando o contrato por acordo sem ser acionado na justiça, mas já com o Habib’s a irresponsabilidade, incompetência e outros interesses prevaleceram e assim o rompimento unilateral provocado pela diretoria foi parar na justiça e o Vasco continua recebendo apenas R$330 mil/ano, quando o valor estimado pelo mercado é de R$4,5 milhões/ano. Quem se responsabiliza agora pela perda destes R$12,5 milhões numa negociação sem estratégia?

d) Outros erros ainda foram sendo cometidos como, por exemplo, a perda do C.T. Vasco-Barra sem que nenhuma outra saída fosse apresentada.

Enfim, uma sucessão de erros estratégicos onde quem vai pagar a conta é o Vasco, não só a diretoria.

Nesta quarta-feira, 17/11, passados 28 meses da posse e a 8 meses do fim do mandato, a diretoria se reúne para iniciar a discussão de um Plano Estratégico para o clube. Na verdade será uma reunião da situação.

Um Plano Estratégico é sempre um projeto de médio/longo prazo. Um Plano Estratégico para ser eficaz atravessa mandatos. Desta forma deve ser concebido com a representação das principais lideranças do clube, ultrapassando-se neste caso a miopia dos embates eleitorais entre situação X oposições. Como exemplo, temos a posição do Brasil defendida por todos os partidos, por seguidos governos, de pleitear um assento no Conselho de Segurança da ONU, é uma meta nacional, é um esforço nacional.

Um Plano Estratégico não é um Plano de Ação, que é sempre de curto prazo. Também não bastará a diretoria simplesmente apresentar um Plano pronto e levá-lo a aprovação no Conselho Deliberativo para dizer que foi aprovado, se assim for feito, simplesmente será transformado num “Plano de Fim de Mandato” ou num Plano de Propaganda Eleitoral e quem vai pagar a conta será mais uma vez o Vasco.

Fonte: Supervasco