CBF estuda instituir perda de pontos como punição para casos de racismo no futebol
Quarta-feira, 24/08/2022 - 18:23
O número de casos de racismo teve um aumento no futebol brasileiro em 2021 em comparação a 2020, período em que as torcidas estiveram afastadas dos estádios por conta da pandemia da COVID-19. Os dados foram antecipados pela Folha de S. Paulo e serão divulgados pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), no Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, nesta quarta-feira (24).

O Relatório da Discriminação Racial no Futebol de 2021 aponta 64 casos de racismo no Brasil. Se forem levados em conta outros tipos de preconceito, como LGBTfobia, machismo e xenofobia, o número dispara para 109. O documento foi produzido pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol e pelo Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

"Não podemos esquecer que [2020] foi um ano atípico, com a ocorrência da pandemia e sem a frequência de torcedores nos estádios. Assim, destacamos a existência de um número elevado de atos discriminatórios", diz o relatório em que a Folha teve acesso.

Os casos contabilizados são somente os que se tornaram públicos na imprensa. Alguns ocorridos em rede social foram ignorados no relatório.

"As denúncias que recebemos de redes sociais não colocamos. Só o que foi noticiado pela imprensa. Esses casos de internet podem ser perigosos. Pode ser montagem, pode ser torcedor rivalizando com outro. Mas a gente sabe que, se for olhar com lupa, os números serão muito maiores", afirma Marcelo Carvalho, diretor do Observatório do Racismo no Futebol.

"Acho que a gente está mais atento, e o meio do futebol está dialogando mais sobre o assunto. Esse debate fora do espaço das quatro linhas faz com que os jogadores entendam a importância de denunciar", completou.

Em relação aos casos de racismo, há um aumento desde 2017. No ano em questão foram 43. Em 2018, subiu para 47, depois para 70, em 2019. Em 2020, por conta da pandemia, caiu para 31.

Veja abaixo outros casos:

LGBTfobia - 10 (2017); 5 (2018); 20 (2019); 14 (2020) e 24 (2021)

Machismo - 5 (2017); 18 (2018); 29 (2019); 12 (2020) e 15 (2021)

Xenofobia - 4 (2017); 7 (2018); 3 (2019); 4 (2020) e 6 (2021)

Uma das medidas que a CBF planeja tomar para que os casos sejam findados é a punição aos clubes com perda de pontos caso torcedores se envolvam em casos de racismo, revela o Ge. Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade, apresentará o plano nesta quarta-feira. Tendência é que passe a valer em 2023.

"Acredito que somente com a pena desportiva sendo imposta diretamente aos clubes, o racismo e o preconceito deixarão o futebol. Gostaria de ressaltar que sou super democrático e quero que essa pena seja discutida no tribunal, para que não pareça ser uma canetada e eu esteja sendo ditador. Acho que é interessante mobilizar contra o racismo, porque não há mais espaços para racistas no século XXI", disse Ednaldo, para completar.

"Vou fazer uma proposta nesse sentido, uma reunião com o conselho técnico das competições no ano que vem. Vou pedir para que o clube que tiver torcedor envolvido em ato de racismo, perca pelo menos um ponto na competição. E em campeonatos tão disputados como são os do futebol brasileiro, isso pode definir um título, uma vaga de classificação para um torneio continental, rebaixamento. E acredito que só assim as coisas vão mudar", finalizou.



Fonte: ESPN