Documento entregue à CBF para criação da liga diz que clubes que estão na Série B serão convidados
Terça-feira, 15/06/2021 - 16:57
Dirigentes de 19 clubes da Série A entregaram na tarde desta terça-feira à CBF um documento em que comunicam a criação de uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro, que hoje é um produto da CBF. Na saída da reunião no Rio de Janeiro, presidentes das equipes explicaram a adoção da medida e deixaram claro que não pretendem assumir a organização do torneio já a partir de 2022.

A liga idealizada pelos clubes vai respeitar os critérios de acesso e descenso já consagrados no Campeonato Brasileiro e vai respeitar a posição final dos clubes nos torneios de 2021.

O presidente interino da CBF, Antonio Carlos Nunes, só participou de uma pequena parte da reunião com os clubes. Ele agradeceu a visita dos dirigentes e afirmou que precisava se retirar para fazer exames e cuidar de questões pessoais. Permaneceram na sala, representando a CBF, os vice-presidentes Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Castellar Guimarães Neto e Ednaldo Rodrigues, além do secretário-geral Walter Feldman.

Segundo o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, o documento entregue à CBF representa um momento de união entre as equipes da Série A.

- Viabilizar a partir de já. Entendo que o 15 de junho de 2021 é o ponto de partida de uma nova partida no futebol brasileiro. As premissas estão estabelecidas. União dos clubes, entendimento comum do que é preciso fazer. Os clubes mostraram a maturidade que têm. O debate varou a noite de ontem, continuou hoje de manhã. Foi um primeiro passo importante. Não temos nenhum interesse em entrar em conflito com a CBF. Vamos continuar discutindo, queremos ter mais participação na política da CBF, como a igualdade no peso dos votos e o fim do filtro político para candidaturas - disse Bellintani.

Entre os clubes que disputam a Série A deste ano, o único que não assinou o documento foi o Sport Recife, mas não por oposição à ideia. O clube está sem presidente porque Milton Bivar renunciou nesta terça-feira e uma nova eleição ainda não foi marcada.

Na saída da reunião com a CBF, o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, disse que os clubes não desejam entrar em atrito com a entidade. Veja abaixo frases de mais dirigentes.

- Não é um movimento de ruptura, mas é o momento de organizar. Os clubes têm condições para isso. A CBF nos ouviu. Nós queremos organizar o Campeonato Brasileiro.

Rodolfo Landim (presidente do Flamengo)

- Com a disposição que a gente tem e com a qualidade das pessoas que a gente pretende colocar na criação desse processo, acredito que vai ser mais rápido do que a gente espera.

Marcelo Paz (presidente do Fortaleza)

- Os clubes entenderam que precisavam assumir cada vez mais o protagonismo no futebol brasileiro, participando mais ativamente do processo de escolha do presidente e do vice da CBF, com votos igualitários entre federações e times da Série A e Série B. Além disso, a criação de uma liga tem o objetivo de maximizar receitas, ofertar um produto de maior qualidade e maiores vantagens comerciais. Se os alemães, espanhóis e italianos fazem isso, nós também podemos fazer. Essa mudança também é positiva para a CBF, que terá um processo eleitoral mais democrático e participativo, com melhorias na Série A.

Julio Casares (presidente do São Paulo)

- Participação, mobilização, organização, equilíbrio e serenidade são os pilares da nossa caminhada. Com diálogo e transparência! Viva os clubes de futebol do Brasil!

O que diz o Estatuto da CBF?

O estatuto da CBF prevê dois tipos de Assembleia Geral, a instância máxima da CBF: Administrativa e Eletiva. É a Assembleia Geral Administrativa que toma decisões como destituir o presidente e votar as prestações de contas da entidade. Dela só participam as 27 federações estaduais de futebol.

Os clubes só participam da Assembleia Geral Eleitoral, que só se reúne para escolher o presidente e os vices. E, mesmo assim, eles têm peso menor nas votações. Os votos das 27 federações têm peso 3 (portanto são 81), os votos dos 20 clubes da Série A têm peso 2 (40) e os votos dos clubes da Série B têm peso 1 (ou seja, 20). É essa concentração de poder nas mãos das federações estaduais que os clubes querem discutir nesta semana.

Para a criação de uma liga, segundo o artigo 24 do estatuto da CBF, é necessário ter a aprovação da Assembleia Geral Administrativa. Ou seja: para tirar o poder das federações estaduais, é preciso ter a aprovação dessas mesmas federações estaduais.

Íntegra do documento entregue pelos 19 clubes à CBF:

"Por unanimidade dos presentes, 19 Clubes da Série A do Futebol Brasileiro – em razão de diversos acontecimentos que vêm se acumulando ao longo dos anos e que revelam um distanciamento total e absoluto entre os anseios dos clubes que dão suporte ao futebol profissional brasileiro e a forma como que é gerida a CBF – reunidos nesta data, decidiram adotar postulações e resoluções na forma abaixo elencada:

1. Requerer a imediata alteração estatutária que consagre uma maior participação dos Clubes nas decisões institucionais e na gestão da CBF, admitindo-se os clubes como filiados desta entidade;

2. Dentre os itens desta alteração estatutária, necessariamente deve ser incluída a votação igualitária nas eleições para escolha do Presidente e Vice-Presidentes da CBF, sendo certo que Federações e Clubes das Séries A e B terão seus votos contados de forma unitária e com o mesmo peso entre si;

3. Ainda no que se refere à alteração estatutária, inclui-se o fim dos requisitos mínimos para inscrição nas chapas concorrentes à eleição desta entidade, abolindo-se a necessidade de apoio de 8 (oito) federações e 5 (cinco) Clubes, permitindo-se o lançamento de chapas que tenham o apoio expresso de, ao menos, 13 eleitores independente de serem clubes ou federações;

4. Comunicar a decisão da criação imediata de uma Liga de futebol no Brasil, que será fundada com a maior brevidade possível e que passará a organizar e desenvolver economicamente o Campeonato Brasileiro de Futebol. Além dos Clubes signatários, os Clubes da Série B serão convidados a integrara a Liga.

Os clubes adotarão medidas efetivas para consumar a sua associação, para, de forma organizada, exercerem a administração do futebol brasileiro e do seu calendário."

Fonte: ge