Vasco e Fluminense foram os clubes com mais casos de Covid-19 entre jogadores no Brasileiro 2020
Domingo, 28/02/2021 - 18:41
O Campeonato Brasileiro de 2020 foi a primeira edição sem poder contar com público nos estádios na história. A pandemia do corona vírus afetou as finanças e o planejamentos das equipes, tirou vidas de envolvidos com o esporte, causou insegurança nos atletas, apresentou uma rotina diferente com muitos exames por mês e trouxe um novo motivo de desfalque para os compromissos da competição.

Ao todo, a Série A registrou 302 infecções de jogadores pelo vírus durante o Brasileirão. Este foi um dos principais motivos de desfalque para os duelos do Campeonato Brasileiro. Dois times do Rio de Janeiro tiveram os recordes de infectados entre os clubes da elite. Fluminense e Vasco tiveram 26 casos no período de 10 dias antes do início do Brasileirão até a data da última rodada. O Palmeiras que não teve Patrick de Paula à disposição por covid na última rodada vem logo em seguida, com 24 casos.



Na outra ponta, São Paulo e Sport conseguiram ter um controle rígido dos protocolos, passaram muita informação aos atletas e tiveram pouquíssimos casos de corona vírus no elenco. Diretor médico do Sport, Stemberg Vasconcelos explicou como o clube pernambucano atuou para conter a disseminação do vírus no ambiente do clube.

- Lá no CT, a gente montou todas as barreiras sanitárias e protocolos de higienização possíveis. E também, o que a gente fez muito foi a conscientização. A gente explicou a todos os atletas. Todos os atletas sabem os riscos, eles sabem o que é a covid, eles sabem o que pode acontecer. Eu acho que a gente conseguiu reunir um grupo muito bom. A gente não teve problema com saída de jogador para festa, barzinho ou balada.

- Foi um misto de controle rígido no clube e no CT, associado à muita informação, um controle bem perto de exame, vários exames realizados e a conscientização deles em relação à doença - pontuou o chefe do DM do Sport.

Apesar dos protocolos elaborados pela CBF e pelas autoridades sanitárias, muitos clubes não conseguiram evitar o contágio entre os atletas e comissão técnica. Durante o torneio, várias equipes tiveram surtos de casos. O primeiro aconteceu logo na primeira rodada, quando o Goiás teve dez testes positivos na manhã da partida. Entre os infectados, estava o goleiro Tadeu.

- Nós ficamos sem entender, e até sem acreditar, porque a gente acreditava que estava tudo bem. A gente seguia todos os protocolos. Vários meses seguindo tudo certo, e no dia da estreia, ter uma notícia dessas...

Considerando um período de 10 a 20 dias consecutivos, vários clubes tiveram muitos infectados ao mesmo tempo ou em sequência. Foram 22 no Palmeiras em um período de 19 dias. Mais 19 no Flamengo em setembro. Outros 16 no Athletico-PR em novembro. Além desses, Atlético-MG, Bahia, Coritiba, Fortaleza, Santos e Vasco enfrentaram uma disseminação rápida durante o Brasileirão.

Depoimentos de atletas

As reações dos atletas ao vírus foram bem diferentes. A maioria sentiu pouco os sintomas. O Grêmio foi um dos clubes com menos casos durante o Brasileirão, apenas oito. O Esporte Espetacular conversou com dois jogadores do Tricolor gaúcho para entender como o vírus impactou suas rotinas.

- Senti um pouco no segundo tempo, mais falta de ritmo. Porque fiquei dez dias dentro de casa sem fazer nada porque não podia sair. Para mim, foi tranquilo. Até o pós, depois que passou, para mim foi tranquilo. Não sofri cansaço em jogos, treinamentos, nada - pontuou o volante Matheus Henrique.

Apesar do camisa 7 do Grêmio não ter tido muitos problemas, seu companheiro de time demorou a ficar 100% após contrair o vírus. O meia-atacante Everton teve os pulmões afetados de 25 a 30%.

- Foi bem difícil a volta porque eu me sentia bastante cansado, até eu voltar ao meu nível mesmo, acho que foi mais ou menos uns 30 dias - revelou Everton.

- A gente tem uma somatória de problemas. Porque esses atletas já não estavam muito bem adequados à competição. Porque eles ficaram muito tempo sem treinar. O atleta é infectado, tem que fazer o repouso forçado. E tem os efeitos negativos da doença sobre o desempenho. Então, necessariamente, esse atleta vai precisar de um tempo maior do que ele precisaria - analisou o doutor em treinamento esportivo, Irineu Loturco.

Além do ambiente dos treinos, os atletas ainda corriam o risco de passar o vírus para a família. Foi o caso do goleiro Tadeu, do Goiás. O jogador teve perda de olfato, corpo debilitado e uma gripe muito forte com muitos calafrios. No entanto, ele ficou mais preocupado com a família, principalmente com sua filha, a Isabela, que nessa mesma época passava por um tratamento de uma doença rara, a síndrome de Kawasaki, conforme mostrou reportagem do EE de maio. Essa doença causa inflamação nas paredes dos vasos sanguíneos.

- Eu particularmente fiquei muito preocupado, não comigo, mas com a minha esposa, com a minha filha. Para mim, o que afetou mesmo foi a minha cabeça, foi o lado psicológico, questão que sou muito preocupado com minha família. Saber que eu contraí esse vírus e que não é uma brincadeira. Levar esse vírus e ela ter sido infectada, me deixou com muito medo, mas Papai do Céu tem sido bom na nossa vida e cuidou dela mais uma vez.

Série A tem 18 casos entre técnicos

Além dos jogadores, as comissões técnicas também sentiram na pele a força desse vírus invisível. No total, as equipes somaram 18 testes positivos para Covid-19 de treinadores durante o Campeonato Brasileiro. Os resultados dos exames apareceram até durante uma sessão de treinos, como relata Dorival Júnior, na época no comando do Athletico-PR.

- Eu estava dando treinamento. O doutor me deu um toque, pediu que eu me aproximasse dele e apenas "Dorival, pode ir para casa que seu teste deu positivo".

Para os treinadores, além da dor de cabeça de ter que montar o elenco com desfalques por covid, ainda tinha o problema de quando eles eram os acometidos pela doença. Quando afastados, precisavam se reinventar para tentar continuar "presente" na rotina do clube.

- Passei a acompanhar os treinos online com o pessoal da análise de desempenho. Eles filmavam o treino e eu ia acompanhando, passava as informações para o analista - relatou o ex-técnico do Botafogo, Eduardo Barroca.

O pessoal da preparação física, como o Hugo Paulista, do Coritiba, também teve que avaliar as maneiras de lidar com a doença e recuperar o ritmo dos atletas afastados.

- O atleta começava com um treinamento online de baixa intensidade para não perder principalmente a questão muscular. Mas, você sentia que mesmo com essa adaptação, os atletas que tiveram mais sintomas, sofriam em campo.

No entanto, nada comparado ao que o próprio Hugo Paulista sentiu. O preparador ficou 18 dias internado, sendo sete deles, intubado.

- Eu saí do hospital com 13 quilos a menos. Perdi muita massa muscular e isso impactou diretamente na minha parte motora. Então, não conseguia ficar de pé. O ápice da doença eu tive muita alucinação, desde de eu achar que tinha sido cremado da cintura para baixo, que estavam preparando meu velório - desabafou.

Os momentos de agonia do Paulista acabaram e ele conseguiu se recuperar. Ao voltar à rotina do clube paranaense, o preparador físico ganhou o carinho dos colegas e teve a dedicação de gol da vitória na rodada 6 pela sua recuperação.

- Dedicar esse gol e nossa vitória a nosso preparador físico, o Paulista. Acho que todos viram o que ele passou, do covid. É um guerreiro e uma inspiração para nós - afirmou o zagueiro Sabino, do Coxa.

Fonte: ge