Atletismo: Atleta do Vasco em Sydney 2000, Cláudio Roberto recebe medalha de prata depois de 20 anos
Segunda-feira, 14/12/2020 - 06:31
Cláudio Roberto de Sousa devotou a maior parte de seus 47 anos de vida ao atletismo. Mas sua maior recompensa pelo esforço nas pistas só chegou às suas mão 20 anos, dois meses e 13 dias depois de conquistá-la. Na manhã deste domingo, após o fim do Troféu Brasil de Atletismo, o ex-velocista enfim recebeu a medalha olímpica de prata pelo revezamento 4x100m brasileiro que deveria ter colocado no peito em 30 de setembro de 2000, durante as Olimpíadas de Sydney.

A cerimônia que corrigiu a injustiça histórica se deu após as provas do Troféu Brasil de Atletismo. Claudinho, como é conhecido no meio do atletismo, teve a companhia dos quatro atletas que foram titulares naquele revezamento e que ganharam suas medalhas 20 anos atrás (Vicente Lenilson, Edson Luciano Ribeiro, André Domingos e Claudinei Quirino). Antes de receber a medalha, Claudinho ainda correu na pista ao lado dos amigos, em um revezamento simbólico em homenagem à marca.

- A medalha chegou, agora é curtir o momento. Na verdade, já venho curtindo esse momento há alguns meses. Mas, agora, com a medalha no peito. Agora é exibi-la, é olhar para ela, beijar, pegar. Agora, sim, posso mandar fazer meu quadro de medalhas. Não tinha feito ainda porque não tinha sentido, uma estava faltando - disse o medalhista.

A láurea foi entregue ao ex-velocista piauiense pelo diretor-geral do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Rogério Sampaio, pelo ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman, membro do Brasil no COI (Comitê Olímpico Internacional), e por Warlindo Carneiro, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

O piauiense deixou a cidade de Teresina, onde mora, no começo da tarde de sábado. Tomou um voo para São Paulo ao lado de sua mulher, Carla, e chegou à capital paulista no final da tarde. Ao chegar ao hotel onde se hospedou, fez um teste para detecção de Covid-19 e reencontrou rapidamente os quatro companheiros de revezamento 4x100m de Sydney.

Na manhã deste domingo, chegou cedo à pista do Centro Olímpico, pouco depois das 9h, e acomodou-se na arquibancada enquanto esperava pela solenidade que o tornaria um medalhista olímpico de fato. Enquanto acompanhava as provas e se preparava para seu grande momento, repassou imagens daquele dia em Sydney e da espera por anos e anos.

Parte da história, fora da história

Naquela final do 4x100m de Sydney 2000, o Brasil, com Vicente, Edson, André e Claudinei, cravou o tempo de 37s90 conquistou a medalha de prata, atrás dos Estados Unidos (37s61) e logo à frente de Cuba (38s04). Mesmo sendo reserva e tendo corrido apenas a eliminatória da prova, no dia anterior Cláudio teria direito à medalha. Só não foi ao pódio naquele momento porque o protocolo restringe a cerimônia aos quatro atletas que correm a final.

E Cláudio esperou. Exatos 7.379 dias, cujo final feliz ocorreu neste domingo, em São Paulo.

Voltemos àquela noite de 2000. Quando o quarteto brasileiro do 4x100m subiu ao pódio para receber as medalhas de prata nas Olimpíadas de Sydney, Cláudio foi informado de que ganharia a dele "nos bastidores". Porém, como a equipe partiria de volta para o Brasil no dia seguinte para comemorações e homenagens, o piauiense acabou avisado por autoridades da delegação do país que deveria receber a distinção em solo nacional.

O velocista chegou ao país, participou de festejos em carro aberto e solenidades, ganhou reconhecimento. Foi incluído em um programa da Caixa Econômica Federal, empresa que patrocina o atletismo brasileiro, chamado "Heróis Olímpicos". Seu nome passou a constar da relação de medalhistas nos sites oficiais do COI (Comitê Olímpico Internacional) e do COB (Comitê Olímpico do Brasil).

A medalha, porém, jamais chegou às suas mãos.

Após meses da volta das Olimpíadas e sem receber informações Cláudio procurou o COB, à época presidido por Carlos Arthur Nuzman. A entidade lhe disse que a medalha não havia sido pega em Sydney e que havia indagado o COI, que por sua vez teria afirmado que a responsabilidade de prover as medalhas era do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Sydney.

Pacato, o velocista aceitou a guerra de versões e esperou pela medalha, que nunca veio. Nos anos seguintes, ele fez parte dos revezamentos 4x100m medalhista de prata no Mundial de Paris e de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, ambos em 2003.

Naquele Pan de 2003, já quase três anos depois das Olimpíadas de Sydney, um dirigente do COB aproximou-se e entregou a Cláudio um pin (broche) - destinado aos medalhistas olímpicos. Disse que era uma maneira de o COI reparar a injustiça.

O velocista aceitou o prêmio com resignação. Quando era chamado para palestras, geralmente levava o pin olímpico e medalhas de outros campeonatos que disputou para mostrar no lugar da olímpica que não tinha. Cláudio ainda disputou os Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, e se aposentou das pistas quatro anos depois, em 2008.

Onze anos depois, o assunto veio à tona novamente. O vice-presidente da atual gestão do COB, Marco Antônio La Porta, soube da história ao se encontrar com Cláudio em um evento em Teresina - para onde o ex-velocista se mudou em 2018. Levou o tema ao diretor de esporte do comitê olímpico, Jorge Bichara, que, egresso do atletismo, achou que era hora de ressuscitar a história.

O COB então entrou em contato com o COI para checar a possibilidade de se reavaliar o caso. Por quatro meses, os dois comitês trocaram ofícios e promoveram reuniões. Até que em 6 de maio o COI comunicou o COB de que encaminharia a honraria, assim como um novo pin e um diploma de medalhista olímpico. A informação foi dada com exclusividade no Fantástico, da TV Globo (veja vídeo da reportagem abaixo).

- Aceitamos, portanto, seu pedido por uma nova medalha para o sr. Souza e, para este efeito, nós instruímos o Museu Olímpico a iniciar o processo de confecção da medalha. Devido à situação excepcional que envolve a Covid-19, nós só seremos capazes de enviar a medalha, o diploma de medalhista e o broche ao final do verão de 2020 e contamos com sua compreensão a respeito - disse o COI em ofício ao qual o Fantástico e o GloboEsporte.com tiveram acesso (leia a íntegra traduzida abaixo).

A medalha chegou ao COB em agosto, e no meio tempo foi pensada uma maneira de entregá-la com alguma pompa a Cláudio em que pesem todas as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. A opção encontrada foi fazê-lo durante o Troféu Brasil de Atletismo, que terminou neste domingo.

A partir de agora, Cláudio Roberto de Sousa pode dizer que é, de fato e por direito, um medalhista olímpico.



Fonte: ge

Nota da NETVASCO: Cláudio Roberto de Souza representava o Vasco nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, junto com todos os demais integrantes do revezamento 4x100m. Clique aqui e relembre a participação dos atletas do Vasco.