São Januário recebeu evento da campanha Lutadoras Contra o Assédio Sexual
Domingo, 16/08/2020 - 04:34
Na última sexta-feira (14/8), o Club de Regatas Vasco da Gama sediou o evento Lutadoras Contra o Assédio, no Ginásio de São Januário. O projeto Umbra/Vasco contou com o apoio da Revista Tatame, de lutadoras prestigiadas, da Guarda Municipal do Rio de Janeiro e da Polícia Militar. Durante a cerimônia foram realizadas palestras, debates e atos de repúdio a violência sexual. Além disso, atletas das Artes Marciais fizeram uma apresentação e foram homenageadas. O projeto oferece assistência jurídica e orientações para as vítimas ficarem informadas sobre como proceder em caso de abusos.

Atleta do Vasco há mais de 3 anos, a lutadora de MMA do UFC, Priscila Pedrita marcou presença neste evento de conscientização. A lutadora falou um pouco sobre a importância do projeto para todas mulheres e relatou já ter sofrido abuso sexual por um cunhado aos 11 anos de idade.

- Esse evento é muito importante para nós lutadoras. Isso mostra que nós atletas das mais diversas Artes Marciais não estamos sozinhas nessa luta. É importante que essas mulheres saibam que vão passar por muitas dificuldades, isso acontece em qualquer ramo, mas nós precisamos ser firmes, corajosas e saber que temos pessoas para nos ajudar. Não podemos nos calar! Aos meus 11 anos fui abusada sexualmente por um cunhado. A parte mais difícil é quando ninguém acredita em você e isso faz com que ainda tenha algo guardado dentro de mim, algum resquício. Estou até hoje nessa guerra de tentar superar isso e creio que posso tentar passar algo para essas meninas que já sofreram o mesmo tipo de violência que eu - disse Pedrita.

Seguindo a formalidade da cerimônia, Sônia Andrade, segunda Vice- Presidente do Club, foi uma das representantes da campanha. Ela participou da abertura do evento citando o quanto estava honrada dessa parceria entre Vasco e Umbra.

- Antes da formação de atletas, a gente também forma pessoas. Por isso, decidimos organizar um departamento que acolhe todas as pessoas. Em seguida trouxemos essas ações do combate a violência contra o adolescente, a mulher, a pedolifia e o problema do câncer de mama que muitas mulheres enfrentam chegando passar por situações de abandono pelos seus parceiros. Nós entendemos que trabalhar essas causas é uma forma de potencializá-las buscando mudanças, pois trazemos mais destaques através do esporte. Hoje temos aqui lutadoras que podem propagar essas ações- Sônia afirmou ser uma honra para o Vasco fazer parte desse projeto, agradecendo a presença de todas pessoas à mesa e disponibilizando o apoio da presidência do clube. A única forma da gente contruir um outro Brasil, um país melhor, é olhando para as pessoas - concluiu a segunda Vice-Presidente do Club de Regatas Vasco da Gama.

Outro representante do Vasco que estava no evento foi o Vice-Presidente de Esportes Terrestres do Club, Francisco Villanova. Ele falou sobre a importância desse projeto para as atletas e disse, ainda, que a parceria entre a Umbra e o Vasco tem obtido muitos resultados positivos.

- Essa parceria que estamos fazendo com a Umbra tem sido muito boa para Vasco. Agora surgiu esse projeto social das lutadoras, para que elas possam ter a liberdade de falar e fazer o que bem entenderem. Um projeto como esse, é de suma importância para o clube e principalmente para as atletas - disse Francisco Villanova.

A Coronel da Polícia Militar, Cláudia Rosa de Moraes, da patrulha Maria da Penha na Barreira do Vasco, iniciou o seu depoimento agradecendo a instituição Vasco da Gama pelo espaço, estrutura do evento e por organizar o projeto em tão pouco tempo.

- A causa de todas nós estarmos aqui hoje são essas mulheres incríveis do esporte. Eu me emociono, pois quando olho para elas eu vejo os desafios que as mulheres precisam enfrentar para se firmarem em todas as áreas da sociedade. Imagino que a luta de todas reforçam a ideia que o lugar de mulher é onde ela quiser. Só que a gente sabe que para estar no lugar onde queremos não é fácil. Sabemos que não é simples, companheiras. Eu como policial militar digo o mesmo. Nós sempre precisamos reconhecer quem são as nossas pioneiras que ousaram botar um kimono afirmando que queriam praticar esse esporte. Essas guerreiras preparam o caminho para todas nós. O protagonismo é das mulheres e deve ser nosso, mas essa luta é de todos. Os homens devem estar ao nosso lado nesse processo. Nós só vamos conseguir dessa forma. Quando a gente tem um espaço como esse nós conseguimos falar de assédio, que é uma violência invisibilizada. Muitas das vezes nós passamos por essas situações e não conervsamoss sobre elas. É difícil se abrir, pois geralmente é complicado alguém acreditar o que nós passamos. Só quem sofreu assédio sabe a humilhação e a dor que é. Muitas das vezes a dor da violência contra a mulher pode até parecer no corpo, mas não é só isso- explica Cláudia emocionada.

A policial também enfatizou que é preciso oferecer suporte. Segundo Cláudia, o auxílio vem com a presença da prefeitura e da segurança pública. Muitas das situações as mulheres não denunciam, pois não sabem o que vai acontecer depois. No Rio de Janeiro a gente tem a patrulha Maria da Penha trabalhando em prol da segurança e do bem-estar das mulheres. É um exército que atua com aproximadamente 190 policiais, atendendo mais de 11 mil mulheres e conquistando 8.488 que foram inseridas no programa. De todas que aceitaram o acompanhamento da patrulha nenhuma delas voltaram ser vítimas de tentativas de feminicídio.

- A gente espera que vocês não precisem desses anjos, mas caso seja necessário eles vão estar ao lado de vocês. Eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa construção, mas quem merece todas as honras desse trabalho não sou eu. A gente só construiu a ideia. Todo mundo sabe que criar ideias e projetos é algo muito bom, mas é imprescindível ter quem acredite, implemente e coloque em prática vivendo isso diariamente. Só vocês parando para conhecer as histórias. Temos de tudo. Desde mulheres que ficaram com sequelas graves como alguma deficiência, até as que estão no processo psicológico precisando de ajuda. A gente necessita saber que não estamos sozinhas. Quando olhamos para mulheres tão poderosas, como as policiais, vocês podem imaginar elas passando por isso? Podem! Só pelo fato delas serem mulheres- conclui Cláudia alegando ser um presente participar desse programa que carrega muita esperança e recomendando que todos presentes aproveitem essa oportunidade de contribuir com o projeto em prol das mulheres.

Os guardas municipais também estão disponíveis para receberem denúncias e acudirem as mulheres que sofrem violências. Por isso, José Luís da Silva Alves participou do evento representando o grupo. Ele é o responsável pela formação e capacitação de todos os guardas da cidade. Iniciou o seu discurso agradecendo o Vasco pela organização rápida e competente do evento e por respeitar todos os protocolos relacionados a prevenção do coronavírus.

- O estado do Rio de Janeiro fez uma pesquisa que teve como resultado que 350 mulheres sofreram ações de violências em 2018. Dessas 350 todas elas chegaram a óbito em 2019. Em média quase uma mulher por dia foi morta devido ao feminicídio. A presença da nossa coronel Cláudia é muito importante nesse momento, pois o projeto Maria da Penha surgiu aqui em 2019 e vocês podem ter certeza que esses números caíram após o início do projeto- José Luís acrescenta que Caxias também está fazendo um excelente trabalho e que por mais que a guarda municipal seja grande, os problemas também são grandes.

José Luís citou que é uma honra um Club do tamanho do Vasco da Gama receber essa campanha. Ele enfatizou que toda vez que o esporte se alinha a esses projetos, o resultado é sempre melhor. O guarda finalizou o seu depoimento agradecendo a todos presentes.

Em seguida outras pessoas importantes seguiram com os discursos em defesa ao bem-estar das mulheres. Depois as atletas foram homenageadas e fizeram apresentações relacionadas as suas modalidades dentro das Artes Marciais.



Fonte: Site oficial do Vasco