Atletismo: Enquete com jornalistas elege Adhemar Ferreira da Silva o maior atleta olímpico do Brasil
Quinta-feira, 06/08/2020 - 04:36
Os tempos eram outros. De muito menos investimento no esporte. De amadorismo que fazia com que os atletas tivessem que acomodar empregos com treinamentos. De parca estrutura para se aprimorar, para viajar, para competir... E, ainda assim, Adhemar Ferreira da Silva desafiou aqueles prognósticos pouco animadores para se converter no primeiro herói olímpico brasileiro. E, ao julgar pela avaliação dos 100 jornalistas convidados pelo ge para escolher os maiores atletas em 100 anos de Brasil em Jogos Olímpicos, ele ainda o é.

- Adhemar Ferreira da Silva é pré-internet, onde os fatos são divulgados numa velocidade absurda, onde tudo sobe e desce num piscar de olhos. Portanto, ser lembrado e honrado depois de tantas décadas desde os seus feitos é recebido por nós, seus descendentes, com enorme orgulho e alegria. Ele diria: 'Agradeço imensamente'. E nós também - escreveram ao ge a filha de Adhemar, Adyel, o neto do saltador, Diego, e a bisneta, Valentina.

Adhemar, ouro no salto triplo nas Olimpíadas de Helsinque 1962 e Melbourne 1956 e também nos Jogos Pan-Americanos de 1951/1955/1959, foi o mais votado na enquete. À frente de gigantes como Robert Scheidt, Serginho, Torben Grael, Cesar Cielo e Joaquim Cruz. Cada um dos 100 jornalistas votantes colocou, em ordem, seus 20 maiores atletas. E o triplista, além de vencer na pontuação criada, foi o que mais vezes apareceu em primeiro lugar: 52 dos eleitores o escolheram. Robert Scheidt foi colocado como o maior da história para 28 jornalistas.

Ele é o único brasileiro a ser escolhido para entrar no Hall da Fama da World Athletics (antiga IAAF, ou Associação Internacional das Federações de Atletismo). A entidade, inclusive, deve inaugurar até o fim do ano uma placa comemorativa aos 70 anos do recorde mundial de Adhemar, em 1950, em São Paulo, para celebrá-lo.

Adhemar quebrou cinco vezes o recorde mundial do salto triplo ao longo de sua carreira. Duas delas na final da prova nas Olimpíadas de Helsinque, o que só contribuiu para aumentar seu folclore. Naquela vitória na Finlândia, levou o público do estádio olímpico ao delírio ao dar uma volta ao redor de toda a pista.

Atleta do São Paulo pela maior parte de sua carreira (são em homenagem a ele as duas estrelas douradas no distintivo do clube), ele abriu caminho para uma tradição de grandes triplistas brasileiros, com Nelson Prudêncio, João do Pulo e Jadel Gregório. Apenas em Atenas 2004, com as segundas medalhas olímpicas de ouro de Torben e Scheidt, Adhemar teve companhia no panteão de bicampeões olímpicos do esporte nacional.

Adhemar também era um craque das relações públicas. Tinha ouvido fácil para a música e para idiomas. Reza a lenda que aprendeu a falar finlandês, ou pelo menos algumas muitas frases, antes de chegar a Helsinque. Nas entrevistas, sempre dava um jeito de soltar uma palavra ou outra naquela língua e, assim, cativou o povo local. Levava sempre a tiracolo seu violão, que também era sucesso. Colecionou outros títulos em vida. Universitários. Formou-se escultor, educador físico, em Direito e em Relações Públicas. Trabalhou como jornalista em alguns veículos, entre eles "A Última Hora", de Samuel Wainer.

Foi ator no vencedor do Oscar Orfeu Negro (Filme Estrangeiro), serviu na Nigéria como adido cultural do governo brasileiro e nunca deixou de conviver com pessoas ilustres da política, da cultura e dos esportes.

Adhemar morreu três meses depois dos Jogos Olímpicos de Sydney, onde recebeu várias homenagens por seus feitos no esporte. Partiu em 12 de janeiro de 2001, aos 73 anos.



Fonte: ge

Nota da NETVASCO: Adhemar Ferreira da Silva foi atleta do Vasco de 1955 a 1960, período em que conquistou sua segunda medalha de ouro olímpica, em Melbourne-1956.